Ontologia (em grego ontos e logoi, “conhecimento do ser“) é a parte da filosofia que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Costuma ser confundida com metafísica, conquanto tenham certa comunhão ou interseção em objeto de estudo.
Martin Heidegger foi um filósofo alemão fundamental pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia. Ele sucedeu Husserl na cátedra de filosofia em Friburgo, dando sua aula inaugural sobre O que é a Metafísica?.

Desse mesmo ano é o ensaio Sobre a Essência do Fundamento, bem como o livro Kant e o Problema da Metafísica. Em 1927, porém, saíra o trabalho fundamental de Heidegger, Ser e Tempo. A obra seria seguida de uma segunda parte, que, no entanto, não apareceu, já que os resultados alcançados na primeira parte impediam o seu desenvolvimento. Ser e Tempo é dedicado a Husserl, que posteriormente não aprovou a obra, o que ocasionou o rompimento entre ambos. Heidegger, no entanto, afirmava trabalhar com o método fenomenológico e hermenêutico. Além da sua relação com a fenomenologia, a influência de Heidegger foi igualmente importante para o existencialismo e desconstrutivismo.
Heidegger inscreveu-se no partido Nazista em 1933 (ano da chegada ao poder de Adolf Hitler), tendo posteriormente sido nomeado reitor da Universidade de Freiburgo pronunciando o discurso A Auto-afirmação da Universidade Alemã. Porém, pouco depois se demitiu do cargo de reitor em 1934, sendo pressionado por outros professores da universidade, que tentavam boicotar o Partido Nazista para o qual Heidegger emprestou sua credibilidade.
O problema do ser, necessidade de uma nova ontologia
É habitual dividir a produção filosófica de Heidegger em duas partes, uma até ao final da década de vinte, outra a partir daí. Assim é comum falar-se do primeiro ou do segundo Heidegger, conforme se faz referência às suas produções anteriores ou posteriores ao seu livro Da essência da Verdade, escrito em 1930, embora a publicação seja de 1943. A divisão da filosofia de Heidegger em momentos não é pacífica. Há quem recuse a divisão, defendendo a continuidade do seu pensamento.
O ponto de partida do pensamento de Heidegger é o problema do sentido do ser. Heidegger aborda a questão tomando como exemplo o ser humano, que se caracteriza precisamente por se interrogar a esse respeito. O ser do homem é um “ser que caminha para a morte” (nossa existência entre nascer e morrer somente) e sua relação com o mundo concretiza-se a partir dos conceitos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. O homem deve tentar “saltar”, fugindo de sua condição cotidiana para atingir seu verdadeiro “eu”.
As bases de sua filosofia existencial foram expostas em 1928, na obra inacabada Ser e Tempo, 1927, publicada em Marburgo. Esta fase do seu pensamento constitui para alguns estudiosos o primeiro momento da sua filosofia, marcado pela influência de Kant e pela pujança fenomenológica. Apesar das reservas dos seguidores da sua metodologia, Heidegger tende a ser aproximado ao movimento existencialista. Esta fase é aquela que mais facilmente se relaciona com este movimento.
Dasein
O horizonte de fundo de toda a sua analitica existencial é a investigação do sentido do ser, os modos e as maneiras de enunciação e expressão de ser. Assim, ele põe a desvirtuação dessa investigação ao longo da tradição que sempre se prendeu a uma compreensão ôntica, (comprencão realitva ao ente, palavra que designa tudo o que é concreto, observável, tudo o que existe como coisa), em vez de ontológica (comprencão relativa ao ser).
O ser tem modos, não pode existir sem o ente: há modos de ser.
O Dasein, pela sua especificidade, inicia qualquer interrogação. O Dasein (o ser-aí ou o ser-no-mundo ou presença) é o unico ente que pode enunciar questionar e investigar sobre o ser.
Daí que na questão acerca do sentido de ser seja fundamental começar por abordar o ser deste ente particular. E tem que ser o próprio Dasein a fazer isso, tem que ser ele próprio a mostrá-lo, a partir duma análise fenomenológica.
Na sua pesquisa antropológica, Heidegger descobre no homem alguns traços fundamentais, característicos do seu ser, traços os quais ele dá a denominação de existenciais.
– O primeiro existencial é o ser-no-mundo que se encontra em situação, chamado de Daisen.
– O segundo existencial é a ex-istência, a característica do homem de ser fora de si, diante de si, por seus ideais, por seus planos, por suas possibilidades. Heidegger afirma que a essência, a natureza do homem, consiste na sua existência.
– O terceiro existencial é a temporalidade. O homem é um existente porque está essencialmente ligado ao tempo. Isso faz com que ele se encontre sempre além de si mesmo, nas possibilidades futuras. Neste sentido o homem é futuro. Mas para pôr em ato essa possibilidade, ele parte sempre de uma situação, na qual ele já se encontra, neste sentido ele é passado. Finalmente, enquanto ele faz uso das coisas que o cercam, ele é presente.
A temporalidade tem a função de unir a essência com a existência.
As três “estases” temporais (passado, futuro e presente) correspondem, no homem, três modos de conhecer: o sentir, o entender e o discorrer.
Vida inautêntica ou autêntica
Para Heidegger a existência pode assumir duas formas:
– Inautêntica o anônima: o homem desconhecido na sua rotina faz o que todo mundo faz. Tem uma vida inautêntica ou banal quem se deixa dominar pela situação, o desejo de saber se torna vão, o inautêntico sabe na aquilo que a massa sabe e submete-se prazerosamente à lei da massa, o que o dispensa de responsabilidades, como a responsabilidade de tomar iniciativas e decisões: tudo está decidido na vida de cada dia.
– Autêntica: leva a vida autêntica quem assume como própria e constrói um plano próprio ser a partir da transcendência. Autêntica é a vida de quem sente o apelo do futuro, as próprias possibilidades. E já que entre as possibilidades humanas a ultima é a morte. Vive autenticamente aquele que ser-pela-morte. Segundo Heidegger, a morte pertence à estrutura fundamental do homem, é um existencial, ela não é uma possibilidade distante, mas constantemente presente. O ser está sempre nesta possibilidade, depois dela não há outras, o homem apenas começa existir, já está atirado nesta possibilidade. Com a morte o homem conquista a totalidade de sua vida. A morte é “principio de individuação”, o princípio formal da vida humana: a vida humana se torna um todo somente mediante a morte, que a limita, só a morte permite ao homem ser completo.
O homem adquire consciência da sua submissão à morte através da angústia, outra disposição fundamental do ser, o homem que questiona se sente angustiado.
A linguagem
A filosofia de é Heidegger é também filosofia de linguagem, uma vez que é no homem, ser-em-situação, é através da linguagem que se da à epifania do ser.
Heidegger distingue duas espécies de linguagem, uma original e outra derivada.
– A linguagem original exprime diretamente o ser, mostra-o, revela-o e o traz para a luz. A linguagem original é a fonte primordial do aparecer das coisas. O falar original esta na base de todo o movimento do universo: ele é a relação de todas as relações. Heidegger atribui à linguagem original uma densidade ontológica fundamental: a palavra é aquilo que sustenta o ser em todas as coisas.
– Linguagem derivada é a linguagem humana, a qual consta de duas fases, uma da resposta é outra da proclamação. Os mortais falam enquanto correspondem à linguagem, que pode se dar de dois modos: percebendo e respondendo. Toda palavra pronunciada é sempre resposta, na qual o homem é encarregado de transferir o dizer original que não tem som, para o som da palavra.
O pensamento de Heidegger e a psicoterapia
Em 1947, Heidegger respondeu pessoalmente a uma carta enviada pelo psiquiatra suíço Medard Boss pedindo esclarecimentos sobre suas idéias filosóficas.
Iniciaram um processo de troca de correspondência e visitas que se prolongou por doze anos e frutificou na iniciativa de Boss em promover a realização de uma série de encontros com a participação aberta para alunos e colegas psiquiatras, os Seminários de Zollikon, realizados entre 1959 e 1969.
Nestes seminários discutiram as possibilidades de integração da ontologia e da fenomenologia de Heidegger à teoria e práxis da medicina, psicologia, psiquiatria e psicoterapia.
Os protocolos destes seminários e as correspondências trocadas por Heidegger e Boss foram publicados na Alemanha em 1987. Heidegger também contribuiu e participou da edição da obra de Boss Existential Foundations of Medicine and Psychology, publicada em 1979, texto que advoga uma fundamentação existencial para a medicina e para a psicologia.