Em pouco mais de trezentos anos, dos séculos XVI ao XIX, a primeira revolução agrícola, baseada sobre a substituição do alqueive por pastagens artificiais e por plantas “mondadas” e sobre o aumento do rebanho, duplicou a produtividade agrícola nos países temperados e acompanhou no seu sucesso a primeira revolução industrial. Em seguida, ao final do século XIX e início do século XX, a indústria produziu novos meios de transporte (estradas de ferro, barcos a vapor) e novos equipamentos mecânicos para tracção animal (arados charrua metálicos, arados brabants, semeadoras, ceifadeiras, colhedoras), que conduziram a agricultura desses países à primeira crise “mundial” de superprodução agrícola dos anos 1890.

A segunda revolução agrícola prolongou, ao longo do século XX, essa primeira fase da mecanização. Para tal, ela apoiou-se no desenvolvimento de novos meios de produção agrícola originários da segunda revolução industrial: a motorização (motores a explosão ou eléctricos, tractores e engenhos automáticos cada vez mais potentes), a grande mecanização (máquinas cada vez mais complexas e eficientes); e a quimificação (adubos minerais e produtos de tratamento). Ela também apoiou-se na selecção de variedades de plantas e raças de animais domésticos ao mesmo tempo adaptados a esses novos meios de produção industriais e capazes de rentabilizá-los.

Paralelamente, a motorização dos transportes por meio de caminhões, estradas de ferro, barcos e por aviões retirou os estabelecimentos e as regiões agrícolas do isolamento, fato que lhes permitiu se abastecer cada vez mais facilmente de adubos de origem distante, assim como escoar maciçamente seus próprios produtos para regiões distantes.

Liberadas da necessidade de auto fornecer-se em bens de consumo variados e bens de produção essenciais (força de tracção, forragens, adubos, sementes, animais reprodutores, utensílios etc.), os estabelecimentos agrícolas se especializaram. Elas abandonaram a multi- produção vegetal e animal para se dedicar quase que exclusivamente a algumas produções destinadas à venda aquelas que lhes eram mais vantajosas, tendo em vista as condições físicas e económicas de cada região, e levando em conta também os meios e as condições de produção peculiares a cada estabelecimento.

É importante referir que do ponto de vista tecnológico, a Primeira Revolução Agrícola caracterizou-se pelo abandono paulatino do pousio e pela introdução de sistemas rotacionais com leguminosas e/ou tubérculos. Estas plantas podiam ser utilizadas tanto na adubação do solo, quanto na alimentação humana e animal Com isso, foi possível intensificar o uso da terra e obter aumentos significativos na produção agrícola, “eliminando” a escassez crónica de alimentos que caracterizaram os períodos anteriores.

Etapas da II Revolução agrícola

O primeiro entre os fatos marcantes da revolução agrícola foi o abandono do antigo sistema senhorial de cultivo. Sob o regime medieval, o solar com as terras circundantes era a parte do feudo reservada ao proveito exclusivo do senhor. O trabalho de cultivo dessas terras devia ser realizado pelos servos, como uma das obrigações devidas àquele. Mas, à medida que aumentava o número de servos emigrantes ou dizimados pela peste negra, tornava-se impossível exigir o cumprimento dessa obrigação, assim como o de muitas outras.

Os senhores recorreram então ao expediente de arrendar as terras do solar aos camponeses, recebendo a renda quer em produtos, quer em dinheiro. Aos poucos, o sistema de arrendamento se estendeu às outras porções aráveis do feudo, donde resultou converterem-se os proprietários feudais de outrora em senhorios do tipo moderno.

A segunda fase esteve ligada a eliminação gradual do sistema de “campo aberto”. Sistema pelo qual as terras dos camponeses se dividiam em faixas disseminadas pelas várias partes do feudo e cultivadas em comum. O objectivo principal parece ter sido uma divisão equitativa das áreas melhores e piores de cultivo. O sistema começou a desintegrar-se com a alta dos preços dos produtos agrícolas no fim da Idade Média. Os camponeses mais astutos e ambiciosos desgostavam-se cada vez mais da lavoura cooperativa. Convencidos de que poderiam ganhar mais dinheiro como lavradores individuais, negociavam entre si faixas de terra, arrendavam porções do domínio do senhor feudal e, aos poucos, iam reunindo toda a sua terra em blocos compactos. Quando por fim se completou esse processo, conhecido como a consolidação dos lotes, um grande passo fora dado no sentido de abolir a agricultura senhorial.

Essa etapa foi também caracterizada por motomecanização que se apoiou-se no uso de tractores de média potência (30 a 50 cavalos de força – HP), geralmente munidos de dispositivos de reerguimento que permitiam carregar algumas ferramentas (como o arado charrua), em vez de simplesmente arrastá-las, e com força capaz de accionar algumas máquinas. Essa nova geração de tractores permitiu utilizar materiais com uma capacidade de trabalho duas a três vezes mais elevada: charruas com duas aivecas, grades, semeadoras, rolos, distribuidores e enleirador -juntados de feno de 3 m a 4 m de largura, barras de corte laterais de 2 m. Novas máquinas, algumas das quais combinavam várias operações, que puderam ser atreladas a esses tractores: acolhedoras, de baixa densidade para o feno e a palha, recolhedoras-enleiradeiras de beterrabas, descascadoras de batata.

A terceira ocorrência importante da revolução agrícola foi o movimento das tapagens, que teve considerável repercussão na Inglaterra. Esse movimento assumiu dois aspectos principais: primeiro, o cerceamento das terras comuns de mata e pastoreio, abolindo desse modo os direitos comunais que os camponeses tinham gozado, de apascentar os seus rebanhos e colher lenha nas partes não cultivadas da propriedade senhorial; segundo, o fato de grande número de camponeses serem desapossados dos direitos de arrendamento ou de outros direitos de locação sobre as terras aráveis.

Ambas essas formas de tapagem representavam sérios reveses para a população rural. Durante séculos os direitos dos camponeses sobre a pastagem comum e as terras de mata haviam constituído um elemento essencial do seu plano de subsistência e era-lhes muito difícil passar sem eles. Mas, a sorte dos que se viam inteiramente esbulhados dos seus direitos de arrendamento ainda era bem pior. Na maioria dos casos eram obrigados a tornar-se jornaleiros sem terras, ou então miserável mendigos.

A principal razão que determinou o movimento das tapagens foi o desejo, por parte dos antigos proprietários feudais, de converter a maior área possível dos seus domínios em terras de pasto para carneiros, em vista do alto preço que podia conseguir então pela lã. Geralmente começavam por cercar as terras comunais, como propriedade sua. Amiúde seguia-se também a isso a conversão de grande parte das lavouras de trigo em campos de pasto, donde resultava o despejo daqueles camponeses, em especial, cujos direitos de arrendamento não eram muito sólidos.

Causa da II Revolução agrícola

A principal causa da II Revolução agrícola dos séculos XVIII e XIX foi ambição dos capitalistas que desejavam alçar-se à aristocracia tornando-se gentlemen-farmers (fazendeiros). Dai que a fase final da revolução agrícola foi seguidamente acompanhada pela Revolução Comercial que trouxe um novo concerto agrário com a introdução de novas culturas e de melhorias no equipamento mecânico.

Foi mais ou menos por essa época que Lord Townshend descobriu na Inglaterra o valor do cultivo do trevo como meio de impedir a exaustão do solo. A plantação desse vegetal de tempos em tempos tornava desnecessário o antigo sistema de deixar cada ano um terço da terra em pousio. Além disso, o trevo em si mesmo constituía uma óptima forragem de inverno para os animais, contribuindo assim para a criação de um gado mais numeroso e melhor. Muito poucos melhoramentos mecânicos foram introduzidos na agricultura dessa época, mas tiveram importância nada desprezível.

Características da II Revolução Agrícola

A primeira características da segunda revolução foi a adopção do arado de metal, que permitia abrir sulcos mais largos e profundos do que seria possível obter com os primitivos arados de madeira herdados da Idade Média. Durante certo tempo os lavradores relutaram em adoptar essa inovação, na crença de que o ferro envenenaria o solo, mas a superstição acabaram por abandonada.

O outro aperfeiçoamento mecânico importante desse período foi a semeadora para grãos. A adopção desse invento eliminou o velho e anti- económico método de semear à mão, deixando a maior parte das sementes à flor da terra, onde era comida pelas aves. Por significativos que fossem esses melhoramentos, a verdadeira mecanização da agricultura só se deu, no entanto, já em pleno século XIX.

Consequências da II Revolução Agrícola

Profundas modificações da estrutura social foram acompanhadas inevitavelmente pela revolução agrícola (económica). A Revolução Comercial, embora conservando alguns característicos da Idade Média, era na realidade muito diferente, nos seus traços fundamentais, daquela que a precedera. A população da Europa, havia aumentado consideravelmente, sendo número de habitantes da Itália e da Inglaterra aumentado cerca de um terço durante o século que foi de 1.500 a 1.700. No mesmo período, a população estimada da Alemanha subiu de doze para vinte milhões. Em 1.378, Londres contava mais ou menos 46.000 almas; em 1.605, a cifra elevava-se a aproximadamente 225.000.

A Revolução agrícola em paralelo com a Revolução Comercial, não somente impulsionou novos géneros, como as batatas, o milho e o chocolate mas incorporou outros produtos alimentares, entre os quais o açúcar o arroz, puderam então ser consumidos pelos europeus em quantidade muito maior e, consequentemente, por preço mais baixo. Além disso, as novas oportunidades de ganhar a vida no comércio e na indústria capacitaram a maioria dos países a sustentar uma população maior do que teria sido possível dentro da economia predominantemente agrária da Idade Média. É significativo que o grosso desse aumento tenha ocorrido nas cidades e nas vilas.

Económicas

Os ganhos de produtividade resultantes dessa imensa mutação são incomparáveis aos das revoluções agrícolas precedentes. No que diz respeito à produção cerealífera, por exemplo, com os rendimentos decuplicados, graças aos adubos e à selecção, e com superfícies cultivadas por trabalhador multiplicadas por mais de dez e graças à motomecanização, a produtividade bruta do trabalho agrícola centuplicou.

A II revolução agrícola, desenvolveu-se ao ritmo da produção ditado pela indústria de equipamentos moto – mecânicos cada vez mais potentes. Ao ritmo do aumento das capacidades de produção industrial de adubos, de produtos fitossanitários e alimentos para o gado, da selecção de variedades de plantas e de raças de animais capazes de valorizar quantidades crescentes de adubos e de alimentos para o rebanho.

 

Bibliografia

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