Vida e obra de Leontiev: resumo
Aléxis N. Leontiev (1903-1979), iniciou sua carreia na Universidade Estadual Lomonosov de Moscovo (MGU),e na Faculdade de História e Filologia da Universidade de Moscovo. O primeiro contacto com a psicologia foi através de G. I. Chelpanov que ensinava psicologia no Departamento de filosofia, graduou-se em 1924. Trabalhou com Lev S.Vigotsky (1896-1934) e Alexander R. Luria (1902-1977) por seis anos. A partir das pesquisas de Vygotski, Leontiev elaborou a teoria da actividade que está sempre relacionada com um motivo. Onde uma necessidade só é satisfeita quando encontra seu objecto/ motivo.

A necessidade não orienta a actividade, pois é o objecto que determina as acções que estão directamente relacionadas ao objectivo. E, a necessidade encontra a sua ordem no objecto operação, que são os procedimentos ou meios, técnica usada para alcançar objectivo. A sua contribuição maior para o meio científico foi o resultado da pesquisa sobre o desenvolvimento do psiquismo humano e a cultura. Seus trabalhos são utilizados tanto no campo da psicologia quanto no da educação. O propósito deste artigo é apresentarmos o trabalho realizado por Leontiev sobre o desenvolvimento do psiquismo infantil. Os aspectos focalizados constituem-se fontes significativas para a educação e à base filosófica utilizada pelo autor em seus trabalhos. É a teoria marxista.
O texto está dividido em cinco partes, sendo que as três primeiras se referem a artigos publicados por Leontiev em conferências. Na quinta parte do texto se faz as colocações dos estudos do teórico em questão, para o ensino de ciências nos diferentes níveis dos processos educacionais. Por fim, as nossas considerações enquanto implicação a respeito da teoria proposta por Leontiev e sua potencialidade no campo do ensino.
O Desenvolvimento do Psiquismo na Criança
Segundo Leontiev (1960) O psíquico da criança, no decurso de seu desenvolvimento é construído a partir da actividade humana que a rodeia, sob a influência das circunstâncias concretas de sua vida, e dos pais que determinam a visão de mundo juntamente com a inter-relação, começando assim o início de vida social da criança.
Na idade pré-escolar a criança logo começa abrir um novo círculo de amizades na escola, onde aprende seus deveres diante da sociedade. Ela se sente muito satisfeita em cumprir seus deveres escolares, a imaginação é um destaque forte (a criança faz o desenho pois tem a quem mostrar) uma forma de reforçar sua importância. O psiquismo da criança se desenvolve no decorrer da própria vida aprendendo a lidar com relações do interior e exterior sendo ele escolar, social e familiar. Sua evolução de relações é notável não somente com os pais e o educador também com obrigações relativas à sociedade. As crianças se adequarão ao dominó de novas aprendizagens, onde começa a perceber o que gostam ou não de fazer; abrindo-se ao novo; se reorganizando em seus processos psíquicos particulares se encontrando em atractivos diversos.
O estágio de desenvolvimento psíquico é diversificado pelos tipos de relações e adaptações com a realidade dominante em etapas caracterizadas por tipos de convivências e actividades sendo assim dominante para ela. As condições sócio-históricas são as que aglomeram no conteúdo do desenrolar de seu desenvolvimento, sendo assim não há uma regra de idade pro seu progresso.
Nesse processo o homem vai constituindo a sua humanização, que se dá como um processo de educação das novas gerações pela mediação das gerações que as precedem. Na trajectória feita pelo homem desde que nasce até à idade adulta esse processo de educação vai se constituindo em diferentes círculos de relações de que participa inicialmente restrito ao círculo familiar, essa participação progressivamente, amplia-se para os demais grupos sociais, dentre os quais os que se constituem pelas relações educativas no interior das instituições escolares.
A escola, responsável pela transmissão dos conhecimentos elaborados historicamente e sistematicamente organizados em uma estrutura curricular, exerce um papel fundamental na transformação dos sujeitos ao propiciar-lhes a apropriação desses conhecimentos e desenvolver-lhes as habilidades, capacidades e aptidões necessárias ao processo de sua objectivação como seres humanos. A escola funciona, então, como uma via para acessar o conteúdo cultural sistematizado, programado especialmente para desencadear um processo de ensino que promova nos alunos o seu processo de humanização e desenvolvimento psíquico.
Estágios do desenvolvimento da criança
A criança vai passando por vários estágios, e o conteúdo desses estágios, depende das condições de vida de cada pessoa. Ela muda de estágio a partir do momento em que ela percebe que suas potencialidades estão de acordo com seu modo de vida. Suas actividades variam de acordo com os estágios e dependendo da actividade a acção pode ter outro carácter psicológico. Por exemplo: Por que uma criança resolve um problema de matemática dado como tarefa? Com certeza ela não pensa que ela irá aprender, ela faz a tarefa para não ficar de castigo, para a professora não brigar com ela, ou mesmo para ela tirar uma nota boa. Porém nem toda actividade que ela realiza ela faz pensando no resultado.
Ao brincar, a criança não tem nenhum objectivo ao final da brincadeira. O próprio ato é o motivo, pois ela se diverte brincando. Num jogo, para a criança, o importante não é ganhar e sim competir, ela quer jogar pela simples diversão. Já para os adultos, o mais importante é ganhar e não competir, então o jogo deixa de ser uma brincadeira. Conforme a criança se desenvolve, ela começa a querer imitar os adultos e fazer coisas para obter resultados e não simplesmente por fazê-las. Por exemplo: ao ver a mãe cozinhando e cuidando de um irmão menor, a menina começa a querer imitar a mãe e vai brincar de casinha. Como a criança não persegue um objectivo com isso, e só quer se divertir, pra ela não importa que seu bebé não chore e que sua comida não seja de verdade. Porém, a partir do momento em que ela começa a buscar um objectivo naquilo que faz, a brincadeira perde a graça, e ela quer então ajudar sua mãe ao invés de imitá-la.
1o estágio
Leontiev (1960) afirma que na primeira etapa, as crianças não têm nenhuma preferência quanto às actividades desenvolvidas na escola. Tudo para elas é igualmente interessante e não têm nenhum interesse especial frente ao conteúdo das aulas e das disciplinas que estudam. Se tiverem alguma preferência, o autor afirma que esta dependerá unicamente de que uma ou outra tarefa lhe seja mais ou menos difícil. Este autor denomina a primeira etapa como sendo o do desenvolvimento psicológico da criança como primeira infância. Segundo este autor Este estágio, é constituída por dois grupos, a saber: a comunicação emocional directa e actividade manipulatória-objetal. Na relação da criança com as pessoas que a rodeia é que se estabelece uma forma de comunicação social e essa é a primeira forma da criança inserir-se na sociedade, isto é, por meio da comunicação emocional directa. Ainda na primeira infância, surge um segundo momento onde a actividade principal passa a ser a manipulatória-objetal, caracterizada pela assimilação dos procedimentos elaborados socialmente de acção com os objectos.
O período da comunicação emocional directa vai do nascimento da criança até o seu primeiro ano de vida. A relação criança-adulto social é caracterizada por várias maneiras que a criança utiliza para se comunicar com os adultos como o choro e o sorriso, por exemplo. A mediação dos adultos, neste momento, também passa às crianças um vínculo emocional. Nessa mediação “aparece na criança a compreensão primária da linguagem humana, a necessidade da comunicação verbal e a pronúncia das primeiras palavras
No período da actividade manipulatória-objetal, a criança compreende de dez a vinte palavras. É nesta idade que a criança pronuncia suas primeiras palavras e este processo indica uma nova etapa no desenvolvimento da criança e caracteriza o surgimento de novas relações entre a criança, os adultos e os objectos. Neste momento a relação da criança com o meio muda de forma significativa. A criança, ao começar a andar, não só amplia o círculo de objectos com os quais tinham contacto, mas amplia as possibilidades e as descobertas de novos objectos a sua volta.
2o estágio
Pode se afirmar que, Leontiev (1960) que na segunda etapa, essas mesmas pesquisas relatam que os interesses frente às ocupações escolares começam a diferenciar-se, portanto neste estágio, “Manifesta-se claramente a significação do conteúdo do que se estuda. Aparecem os verdadeiros interesses de estudo.
Leontiev concorda Elkonin (1960), ao afirmar que a segunda época do desenvolvimento da criança, é denominada a fase de infância, onde as actividades principais ou dominantes nessa fase são o jogo de papéis (criança-adulto social) e a actividade de estudo (criança-objecto social). A criança, nessa etapa de desenvolvimento, tenta “integrar uma relação activa não apenas com as coisas directamente acessíveis a ela, mas também com o mundo mais amplo, isto é, ela se esforça para agir como um adulto. Desta forma, é por meio do jogo de papéis ou brincadeira, que a criança procura reproduzir as mesmas actividades que as pessoas que a cercam. “O jogo é a forma típica e acessível nesta idade para que a criança reproduza este mundo. Precisamente ele reflecte a realidade que rodeia a criança.
3o estágio
Na terceira etapa, Leontiev (1960) identifica o adolescente que começa a descobrir o significado do conhecimento científico. Esta etapa é caracterizada pelo motivo fundamental de estudar a fim de preparar-se para o futuro. No mesmo fio de pensamento, Elkonin (1960), sustenta que o período escolar médio ou período da adolescência, abarca desde os 11-12 anos até os 15. Este período de desenvolvimento consiste no salto da infância à juventude (15 anos até 16), por isso essa idade é denominada de trânsito ou de transição. Embora, como já foi dito, à primeira vista, não há essencialmente diferenças com respeito às condições de vida da infância – pelo fato do adolescente continuar sendo escolar e sua actividade principal, o estudo – suas condições pessoais de desenvolvimento se diferenciam muito das do escolar primário.
O terceiro estágio do desenvolvimento psicológico da criança (adolescência). Assim como nos estágios precedentes, esta também apresenta duas actividades principais, quais sejam: comunicação íntima social (primeiro grupo) e actividade profissional/de estudo (segundo grupo). Porém, segundo Elkonin (1987), a identificação da actividade principal no estágio da adolescência apresenta grandes dificuldades. Tais dificuldades consistem no fato da actividade principal do adolescente continuar sendo o estudo escolar. Os adolescentes, assim como os escolares da fase da infância, são valorizados – pelos adultos – em função de seus êxitos ou fracassos na aprendizagem escolar. Além disso, na passagem a esta fase, tão pouco ocorrem mudanças substanciais em seu aspecto externo. Na mesma perspectiva, Vygotski (1996) afirma que as mudanças no adolescente são, em sua maioria, mudanças internas e não são exteriorizadas, portanto, não são visíveis ao observador.
Bibliografia
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
LEONTIEV, A. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2006.LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2006.
OSTERMANN Fernanda &CAVALCANTI Cláudio José de Holanda. Teorias de Aprendizagem, Rio de Janeiro, 2010.PIAGET, J. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo, sonho, imagem e representação. de jogo: São Paulo: Zahar, 1971.
PRASS, Alberto Ricardo. Teorias de Aprendizagem.2012.VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. RIO DE JANEIRO: MARTINS FONTES, 1996.