A aprendizagem significativa é um processo no qual o indivíduo relaciona uma nova informação de forma não arbitrária e substantiva com aspectos relevantes presentes na sua estrutura.
Segundo NEVES (2008) caracteriza-se como um processo de construção pessoal de significados, a aprendizagem significativa, tem um carácter idiossincrático que determinará o modo como o indivíduo se relacionará com o meio. Dessa maneira, a aprendizagem significativa de um determinado corpus de conhecimento corresponde à construção mental de significados por que implica uma acção pessoal – e intencional – de relacionar a nova informação percebida com os significados já existentes na estrutura cognitiva.
Quanto mais estável e organizada for a estrutura cognitiva do indivíduo, maior a sua possibilidade de perceber novas informações, realizar novas aprendizagens e de agir com autonomia na sua realidade.
A verdadeira aprendizagem se dá quando o aluno (re) constrói o conhecimento e forma conceitos sólidos sobre o mundo, o que vai possibilitá-lo agir e reagir diante da realidade.
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Passos para a construção da aprendizagem significativa
A concretização dessa aprendizagem dá-se através do que entendemos ser os sete passos da (re) construção do conhecimento:
1.O sentir – toda aprendizagem parte de um significado contextual e emocional.
2.O perceber – após contextualizar o educando precisa ser levado a perceber as características específicas do que está sendo estudado.
3.O compreender – é quando se dá a construção do conceito, o que garante a possibilidade de utilização do conhecimento em diversos contextos.
4.O definir – significa esclarecer um conceito. O aluno deve definir com suas palavras, de forma que o conceito lhe seja claro.
5.O argumentar – após definir, o aluno precisa relacionar logicamente vários conceitos e isso ocorre através do texto falado, escrito, verbal e não verbal.
- O discutir – nesse passo, o aluno deve formular uma cadeia de raciocínio através da argumentação.
7.O transformar – o sétimo e último passo da (re) construção do conhecimento é a transformação. O fim último da aprendizagem significativa é a intervenção na realidade. Sem esse propósito, qualquer aprendizagem é inócua.
Promoção da aprendizagem significativa
Para vencer o desafio de promover a aprendizagem significativa o professor precisa vencer algumas barreiras, representadas por crenças que ganharam força ao longo do tempo. Algumas dessas crenças são:
- “Preciso arrumar o conteúdo para que o aluno aprenda”. Essa crença impede que o professor confie na capacidade do aluno de organizar a sua própria aprendizagem. Dessa forma, o professor se mantém no papel de principal responsável pela aprendizagem. A neurociência já nos comprova que o cérebro aprende de forma desorganizada e caótica. É preciso que facilitemos essa acção do cérebro, desafiando-o a fazer novas ligações sinápticas. O principal papel do cérebro não é guardar informações, mas sim criar novas relações. A partir da mudança dessa crença, o professor vai compreender que seu principal papel não é dar aulas, mas sim provocar aprendizagem.
- “Construir conhecimento dá muito trabalho”. A crença nessa ideia leva o professor a se manter em seu estilo tradicional, acreditando que, na prática, não vai dar conta do novo paradigma. É uma crença bastante limitante, já que o impede de tentar e o mantém no mundo imaginário da impossibilidade. Um ponto que talvez mereça reflexão por parte do professor é o questionamento: o que dá mais trabalho, facilitar a aprendizagem ou impor a aprendizagem?
- “Isso tudo é muito bonito, mas na prática, a teoria é outra”. Pensar assim é correr do desafio de mudar a realidade, a partir do que temos. E o que temos? Alunos e pais que esperam receber tudo pronto nas aulas. É preciso implementar um programa de educação dos pais e dos alunos sobre como que realmente se aprende e sobre o fato de que nos tempos actuais, o modelo de aprendizagem comportamental não serve mais. Estamos vivendo um tempo que nos exige criar, simplificar, analisar, transformar, acções que questionários, tabuadas e aulas em silêncio definitivamente não se propõem a desenvolver.
- “E a bagunça, quem controla?” Essa crença deriva de várias outras: 1- aprender é actividade passiva; 2- aprende-se de fora para dentro; 3- para aprender é preciso ficar quietinho; 4- quem aprende não interage, apenas recebe. É preciso que se creia que a real aprendizagem só ocorre através da interacção, do movimento. É preciso que se destrua, de uma vez por todas o mito da passividade.
- “E como fica o currículo?” Essa ideia pode ser contraposta com uma única pergunta: quem serve a quem? Temos um currículo a serviço da aprendizagem ou a aprendizagem deve estar a serviço do currículo?
A aprendizagem significativa como finalidade do processo educativo
A compreensão do significado de aprendizagem significativa, conforme proposto por Ausubel, nos aponta para uma série de questões que influenciam directamente o processo de ensino e de aprendizagem. A primeira delas refere-se à importância do conhecimento para o sujeito visto que é ele que determinará o modo como o indivíduo irá agir na sua realidade. Quando se tem uma estrutura cognitiva organizada de forma lógica com ligações substantivas e não arbitrárias entre os significados armazenados, o indivíduo está melhor instrumentalizado para usar o conhecimento, realizar novas aprendizagens e, portanto, interagir com e na realidade.
NOVAK (2000:31) nos diz:
“Pense-se em qualquer área de conhecimento onde se consegue relacionar o que se sabe com a forma como esse conhecimento funciona, para compreender o sentido da experiência nessa área, (…). Este é um conhecimento que se consegue controlar e que dá uma sensação de posse e de poder.”
O conhecimento, quando produto de aprendizagem mecânica, por ter restrita a sua capacidade de utilização em novas situações, não garante autonomia intelectual para a acção do indivíduo. A aprendizagem significativa, ao contrário, favorece a construção de respostas para problemas nunca vivenciados e leva tanto à capacitação humana quanto ao compromisso e à responsabilidade, entretanto, não é qualquer conhecimento que se deseja aprendido e, partindo da premissa que os grupos sociais ganham identidade quando os seus sujeitos compartilham conhecimentos, crenças e valores, a educação formal ganha importância como instância responsável pela selecção e o favorecimento da aprendizagem significativa desses conhecimentos.
Desse modo, o significado de aprendizagem significativa aponta para o papel do professor e do aluno no processo de ensino e de aprendizagem. Ou seja, se a aprendizagem significativa de um determinado corpus de conhecimento instrumentaliza o indivíduo para intervir com autonomia na sua realidade, é essencial que o professor esteja comprometido com a aprendizagem do aluno e este, por sua vez, com sua própria aprendizagem. O bom ensino é aquele que, tendo sido organizado em função das especificidades do conhecimento que se deseja aprendido e do seu público-alvo, garantiu o compartilhamento de significados captados e favoreceu a ocorrência de aprendizagem significativa por parte do aluno.
Neste processo, professor e aluno têm responsabilidades distintas. O primeiro deve:
- Diagnosticar o que o aluno já sabe sobre o tema;
- Seleccionar, organizar e elaborar o material educativo;
- Verificar se os significados compartilhados correspondem aos aceitos no contexto da disciplina e
- Reapresentar os significados de uma nova maneira, caso o aluno não tenha ainda captado aqueles desejados.
O aluno, por sua vez, tem a responsabilidade de:
- Captar e negociar os novos significados e
- Aprender significativamente.
Condições necessárias para a ocorrência de aprendizagem significativa
a) Organização de um material de ensino potencialmente significativo.
Tanto a natureza da estrutura cognitiva do aluno quanto a do conhecimento a ser ensinado é fundamental para que esta condição seja atendida. Assim como cada um de nós tem um conhecimento próprio, existe diferença entre aprender história, biologia e matemática pois cada área de conhecimento tem suas especificidades, sua estrutura própria. Portanto, organizar um material de ensino potencialmente significativo requer que a relação entre a natureza desses dois conhecimentos a estrutura lógica do conhecimento em si e a estrutura psicológica do conhecimento do aluno seja considerada.
b) Intencionalidade do aluno para aprender de forma significativa,
O aluno deverá relacionar de forma substantiva e não arbitrária a nova informação com as ideias relevantes que já existem na sua estrutura cognitiva. As duas condições não são excludentes, elas devem acontecer simultaneamente visto que é possível aprender sem ensino e, do mesmo modo, se o aluno não decidir aprender de forma significativa, não haverá ensino ou material potencialmente significativo que garanta a aprendizagem do aluno. Do mesmo modo, se o aluno tiver intencionalidade para aprender de forma mecânica, como comummente ocorre actualmente, não haverá ensino potencialmente significativo que garanta aprendizagem significativa.
Estas condições evidenciam que o processo de ensino e de aprendizagem implica co-responsabilidade do professor e do aluno. O professor deve estar subsidiado teoricamente para construir, considerando o que o aluno já sabe e a natureza do conhecimento a ser ensinado, um material de ensino potencialmente significativo e o aluno, por sua vez, deve buscar activamente captar os significados ensinados, interpretá-los, negociá-los e relacioná-los (de forma substantiva e não arbitrária) com os conhecimentos que já possui.
c) Organização do ensino à luz da Teoria de Aprendizagem Significativa
O ensino é uma actividade complexa e dinâmica que se efectiva em um ambiente social particular, visando a aprendizagem que, por sua vez, é um processo pessoal decorrente de relações sociais, afectivas e cognitivas. O ensino, reforço, não é a finalidade do processo educativo mas o meio pelo qual a aprendizagem do aluno é favorecida, ou seja, o aluno, com sua identidade particular, é o ponto de partida para a organização do ensino que, por sua vez, só terá sido bem sucedido se o aluno, agora como ponto de chegada, tiver aprendido significativamente.
Desse modo, a qualidade do ensino não depende de procedimentos ou estratégias específicos mas, fundamentalmente, da concepção de aprendizagem que orienta as decisões do professor e do aluno ao longo do seu processo. O diferencial não está, portanto, na sequência das acções, ele está no “produto final” que possibilita construir, o conhecimento. O ato de ensinar e de aprender é intermediado por diferentes representações sobre um mesmo conhecimento: a do professor, a do aluno e a do material de ensino. Nessa interacção, a ocorrência de aprendizagem depende dos significados dessas representações sejam previamente captados e compartilhados. É o tipo de interacção que professores, alunos e conhecimento estabelecem entre si que dará a identidade de cada situação de ensino.
O ensino ideal foi apresentado como aquele no qual o professor, quando efectivamente comprometido com a aprendizagem significativa do aluno, considera a sua realidade (cognitiva, afectiva e social) e cria situações que lhe possibilite captar e negociar significados. Assim, a melhor estratégia de ensino e de avaliação é subordinada a vários factores: a natureza do conhecimento que se deseja aprendido, a natureza do conhecimento prévio do aluno bem como o seu perfil sócio-afectivo, o contexto no qual ocorrerá o evento educativo, o tempo disponível para a sua realização, entre outros.
Tipos de Aprendizagem Significativa
NOVAK & HANESIAN (1980) defendem que a aprendizagem significativa divide-se em três tipos básicos:
1 – Aprendizagem representacional
É o tipo mais básico de aprendizagem significativa. Esse tipo de aprendizagem geralmente irá condicionar todos os outros aprendizados significativos e é nela que se aprendem os significados de símbolos particulares ou o que eles representam. Quando um aprendiz está ainda em fase primitiva de desenvolvimento, o que um certo símbolo representa ou significa é, a princípio, alguma coisa desconhecida para ele, algo que ele terá que aprender. Observa-se, nesse caso, a ocorrência de uma aprendizagem representacional, ou seja, o processo utilizado para esse aprendizado. Nesse momento, as novas palavras passam a significar para o aprendiz as mesmas coisas que os referentes, e remetem ao mesmo conteúdo significativo diferenciado.
2 – Aprendizagem de conceitos
As unidades genéricas ou ideias categóricas são também representadas por símbolos específicos, com a excepção do caso de aprendizes muito novos, as palavras se combinam para formar sentenças e constituir proposições que representam realmente conceitos, e não objectos ou situações. É importante chamar a atenção sobre a formação de conceitos e a aprendizagem representacional, pois os conceitos, assim como objectos ou situações, são representados por palavras ou nomes. Aprender qual o conceito representado por um certo significante novo, ou aprender que o novo significante tem o mesmo significado do conceito é o tipo mais complexo da aprendizagem representacional. O processo de formação de conceitos geralmente é acompanhado por uma forma de aprendizagem representacional, na qual o novo conceito adquirido tem o mesmo significado que o do significante que o representa.
3 – Aprendizagem proposicional
Pode-se dizer que se refere ao significado de ideias expressas por grupos de palavras combinadas em proposições ou sentenças. Durante a aprendizagem proposicional, a actividade de aprendizagem significativa não é apenas o aprendizado do que representam as palavras isoladamente, ou a combinação das mesmas. Esse tipo de aprendizagem, antes de qualquer coisa, refere-se ao aprendizado do significado de novas ideias expressas de forma proposicional. Em comparação com a aprendizagem representacional, a aprendizagem proposicional não tem como objectivo aprender proposição de equivalência representacional, mas sim aprender o significado de proposições verbais, que expressam ideias diferentes daquelas da equivalência proposicional. Em outras palavras, o significado da proposição não é apenas a soma dos significados das palavras componentes.
Vantagens de aprendizagem significativa
A aprendizagem significativa tem vantagens notáveis, enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da lembrança posterior e da utilização para experimentar novas aprendizagens, factores que a delimitam como sendo a aprendizagem mais adequada para ser promovida entre os alunos. Além do mais, e de acordo com Ausubel, pode-se conseguir a aprendizagem significativa tanto por meio da descoberta como por meio da repetição.
Segundo a teoria de Ausubel, na aprendizagem há três vantagens essenciais em relação à aprendizagem memorística. Em primeiro lugar, o conhecimento que se adquire de maneira significativa é retido e lembrado por mais tempo. Em segundo, aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil, mesmo se a informação original for esquecida. E, em terceiro, uma vez esquecida, facilita a aprendizagem seguinte a “reaprendizagem”, para dizer de outra maneira. A explicação dessas vantagens está nos processos específicos por meio dos quais se produz a aprendizagem significativa onde se implica, como um processo central, a interacção entre a estrutura cognitiva prévia do aluno e o conteúdo de aprendizagem.
Desvantagens de aprendizagem significativa
Entre as possíveis desvantagens, teríamos: uma eventual memorização do mapa por alunos que não conseguissem entendê-lo; uma demasiada complexidade do mapa que poderia, eventualmente, dificultar a aprendizagem e a retenção; uma eventual inibição da habilidade dos alunos de construir suas próprias hierarquias conceituais ao receber estrutura já prontas de seu professor.
Relação entre aprendizagem significativa e aprendizagem por competências
A relação entre a aprendizagem baseada por competências e aprendizagem baseada por competências consiste em proporcionar no indivíduo o saber ser/ estar e saber fazer. Isto significa nas duas aprendizagens são preciso que o aluno adquira conhecimentos, como também deve saber mobiliza-los e aplica-los de modo pertinente à situação. Tal decisão significa vontade, escolha e valores.
Bibliografia
Cruz, M.H.. Aprendizagem por Competências, 4a ed. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 2002
NEVES, Rodrigues. Aprendizagem Significativa, 3a ed. Editora Moderna, São Paulo, 2008LOPES, M. J & RODRIGUES, Carneiro. Construção do Conhecimento na Educação, 1ª Edição, Editora Makron, São Paulo, 2010LUCAS, Damiao. Psicologia do Ensino, 2ª ed. Editora Moderna, São Paulo, 2009LEMOS, Dos Santos. Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do Raciocínio, 1a ed. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, Brasil, 2005NOVAK , PELCZAR . Relação Entre as Aprendizagens, 3a ed. Editora Moderna, São Paulo, 2000GOMES, D .G. Teoria Da Aprendizagem Significativa Segundo Ausube, 2ª Edição, editora Guanabara Koogam, Brazil, 2005.