De acordo com PENA (2015), a Geomorfologia é uma área do conhecimento que se preocupa em estudar as dinâmicas referentes ao extracto superficial da crosta terrestre.

Para ANDRADE, BIGARELLA & LINS (1963), a Geomorfologia é uma área das Ciências da Terra responsável pelo estudo das formas superficiais de relevo, tanto em suas fisionomias atuais quanto em seu processo geológico e histórico de formação e transformação.

Na visão de FILHO (2008), o estudo do relevo é importante para sabermos quais são os lugares propícios à construção de casas, prédios, fábricas, estradas, aeroportos, pontes, plantações, pastagens e muitos outros casos. Em suma, é no relevo que acontecem todas as relações sociais, e por isso requer uma atenção especial sobre o mesmo.

CASSETI (1996), sustenta que o conceito de Geomorfologia está diretamente vinculado à etimologia da palavra: Geo = “Terra”; morfo = “forma”; logia = estudo. Assim, trata-se do estudo sobre a forma da Terra, ou seja, as manifestações do relevo e toda a dinâmica estrutural a ele relacionada. É, portanto, uma importante ferramenta de compreensão da realidade, pois permite um maior e melhor conhecimento sobre a composição natural do nosso planeta.

BIGARELLA & MOUSINHO (1965), defende que para as sociedades e as práticas humanas em geral, a utilidade da Geomorfologia está na possibilidade de estudo sobre a superfície terrestre no sentido de permitir uma execução de sistemas e métodos de planejamento do processo de produção e ocupação do espaço geográfico. Assim, com os estudos empreendidos por essa área do conhecimento científico, sabemos quais são as áreas de melhor ocupação e aquelas de maior risco, além de entender as medidas necessárias para evitar problemas relacionados com o relevo na cidade e no campo.

Desse modo, quando observamos ou acompanhamos nos noticiários casos de graves erosões, deslizamentos de Terra, ocupação de áreas degradadas, entre outros fatores ligados à estrutura da superfície, estamos diante de problemas que poderiam ter sido evitados mediante a aplicação de conhecimentos geomorfológicos específicos. Portanto, ao nos perguntarmos para que serve a Geomorfologia, podemos entender que ela é relevante no sentido de auxiliar o ser humano a ocupar e utilizar o meio natural de maneira correta, de modo a minimizar os impactos gerados sobre a natureza.

A natureza da geomorfologia

Para ANDRADE, BIGARELLA & LINS (1963), a geomorfologia é um conhecimento específico, sistematizado, que tem por objetivo analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos pretéritos e atuais. Como componente disciplinar da temática geográfi­ca, a geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte, considerando a conversão das propriedades geoecológicas em sócio-reproduto­ras, caracteriza as funções sócio-reprodutoras em suporte e recurso do homem). Seu objeto de estudo é a superfície da crosta terrestre, apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo. A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas, sistematizadas pelas atividades tectogenéticas (endógenas) e mecanismos morfoclimáticos (exógenos), responsáveis pelas formas resultantes.

BIGARELLA & MOUSINHO (1965), defende que a compartimentação morfológica inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo, que apresentam uma importância direta no processo de ocupação. Nesse aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de risco que uma área possui, oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de ocupação e uso.

A estrutura superficial, ou depósitos correlativos se constitui importante elemento na definição do grau de fragilidade do terreno, sendo responsável pelo entendimento histórico da sua evolução, como se pode comprovar através dos paleopavimentos. Sabendo das características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em diferentes condições climáticas, torna-se possível compreender a dinâmica evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em relação aos níveis de base atuais, vinculados ou não a ajustamen­tos tectónicos.

Os níveis de abordagem da Geomorfologia

De acordo com PENA (2015), em uma divisão existem três principais níveis de abordagem da Geomorfologia ou estudos segmentados, que envolvem: a compartimentação morfológica, o levantamento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem.

a) Compartimentação morfológica: análise e observação do relevo e as variações de suas topografias (o conjunto de acidentes geográficos e variações de altitude). É um procedimento útil na definição das áreas de ocupação e da delimitação das áreas de risco que um determinado ambiente possui, sendo importante e necessário para o correto uso do solo.

b) Levantamento da estrutura superficial: define as características e, enfaticamente, a fragilidade que um determinado terreno possui. É responsável também pela análise do histórico de formação por meio da actuação dos agentes exógenos e endógenos.

c) Estudo da fisiologia da paisagem: estudar a fisiologia de uma paisagem significa analisar o seu conjunto de funções e, no presente caso, a acção e impactos dos processos morfodinâmicos (movimentação das formas de relevo) na actualidade, o que inclui os efeitos da acção humana sobre o meio.

Portanto, GÜINTHER (1934), diz que ao entendermos esses níveis, podemos ter uma dimensão da complexidade e do alcance que a Geomorfologia possui ao desnudar, em seus estudos, a alçada geológica da qual se formaram as estruturas terrestres – por meio do levantamento de sua genealogia – até os processos naturais e antrópicos que alteram as formas de relevo e a cadeia de elementos naturais relacionados.

Estudo dos processos em geomorfologia

No âmbito da geomorfologia, a dinâmica dos processos representa o ponto de partida para a investigação das variações, no tempo, das formas do modelado. As variações dessas formas do modelado representam respostas a variações espaciais e temporais nos processos, e à variações espaciais nos materiais e nas formas sobre as quais atuam tais processos.

Na visão de FILHO (2008), foi possível repertoriar diversas formas especificas de cada um dos sistemas: descamação dos granitos, recuo das vertentes paralelamente a si mesmas em zona quente e húmida, fendas em ângulo e todas as formas de crioturbação em região fria, pedimentos e glacis das regiões áridas.

Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos

BIGARELLA & MOUSINHO (1965), defende que as diferenças histórico-culturais européias levaram à individualização de quadros nacionais contrastantes no contexto político continental, contribuindo para que se desenvolvessem correntes filosóficas e relações escolásticas distintas, levando ao discernimento de duas linhagens epistemológicas em geomorfologia. Uma, hoje identificada como de natureza anglo-americana, onde se evidenciou a aproximação da Inglaterra e França com os Estados Unidos, e outra de raízes propriamente germânicas, que posteriormente incorporou a produção publicada pelos russos e poloneses.

Na visão de FILHO (2008), a geomorfologia alemã, na Segunda Guerra Mundial, se beneficia com o desenvolvimento da cartografia geomorfológica, enquanto a geomorfologia anglo-americana permanece estagnada. As críticas consubstanciadas ao modelo davisiano acabam respondendo por uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva anglo-americana, aproximando-se cada vez mais das bases que subsidiam a linhagem germânica

Níveis metodológicos em Geomorfologia

BIGARELLA & MOUSINHO (1965), defende que o estudo da geomorfologia tem sido tratado ao longo do tempo, em dois grandes níveis: um relacionado à construção do edifício teórico, o que promove a base epistemológica para o desenvolvimento da pesquisa, e outro correspondente às expectativas associadas às aplicações dos conhecimentos.

a) Compartimentação Topográfica Por compartimentação topográfica entende-se a separação de determinados domínios morfológicos que se individualizam por apresentarem características específicas, como determinados tipos de formas ou domínios altimétricos.

b) Estrutura Superficial: O nível de abordagem correspondente à estrutura superficial refere-se ao estudo dos depósitos correlativos ao longo das vertentes ou em diferentes compartimentos. Esses depósitos são susceptíveis de transformação ao longo do tempo geológico, ensejadas por erosão e perturbações tectónicas locais.

c) Fisiologia da Paisagem: A fisiologia da paisagem diz respeito ao momento atual e até suba-ta do quadro evolutivo do relevo, considerando os processos morfodinâmicos, como o significado das ocorrências pluviométricas nas áreas intertropicais, ou processos específicos nos diferentes domínios morfoclimáticos do globo, bem como as transformações produzidas na paisagem pela intervenção antrópica.

Diferença de processos geomorfológicos

Na visão de FILHO (2008), descreve o seguinte:

De descritiva e classificatória na sua origem, a geomorfologia evoluiu, como qualquer outra ciência, para o estudo das causas e inter-relações entre processos e formas. Esta abordagem, conhecida como a “geomorfologia dinâmica”, tem beneficiado muito dos avanços tecnológicos, da redução de custos em equipamento de medição e do aumento exponencial do poder de processamento dos computadores. A geomorfologia dinâmica é fundamental no estudo dos processos de erosão e transporte de sedimentos.

A “geomorfologia climática” estuda a influência do clima sobre a evolução do relevo. O clima é responsável pelos ventos e precipitação, que agem na modelagem contínua da superfície da Terra. A diversidade climática implica velocidades diferentes na evolução do ciclo: em climas áridos, o ritmo evolutivo é mais lento, enquanto que climas muito úmidos apresentam maiores taxas de evolução.

A “geomorfologia fluvial” é o ramo especializado da geomorfologia que lida com o estudo das formas e estruturas provocadas pela dinâmica dos rios. Este subcampo é muitas vezes confundido com o campo da hidrografia.

A “geomorfologia de encostas” é a que estuda os fenómenos produzidos no sopé das montanhas, os movimentos de massa, estabilização de encostas e outros. Tem grande importância para o estudo dos riscos naturais.

A “geomorfologia eólica” estuda os processos e formas provocados pelo vento, especialmente em domínios morfoclimáticos onde o vento é predominante, por exemplo, nas zonas costeiras, desertos quentes e frios e regiões polares.

A “geomorfologia glacial” estuda as formações e os processos causados pelas geleiras e alívio periglacial. Este ramo é estreitamente ligado à Glaciologia.

A “geomorfologia estrutural”, coloca a ênfase na influência dos processos geológicos no desenvolvimento do relevo. Esta disciplina é importante em áreas com forte actividade geológica, onde falhas e dobras podem predeterminar a existência de picos ou vales, ou a existência de baías e promontórios, ou outros afloramentos rochosos mais ou menos resistentes à erosão.

 

Bibliografia

  • ANDRADE, G. O.; BIGARELLA, M. & LINS R. C. Contribuição à Geomorfologia e Paleoclimatologia do Rio Grande do Sul e Uruguai. Separata, n. 8/9, 1963;
  • BIGARELLA, J.J. & MOUSINHO, M.R. Considerações a respeito dos terraços fluviais, rampas de colúvio e várzeas. Bol. Paran. Geogr., Curitiba, 1965;
  • CASSETI, V. Abordagem sobre os estudos do relevo e suas perspectivas. Rev. Sociedade & Natureza, Uberlândia, ano 3, n. 15, 1996;
  • FILHO, C. O. Arenização e tectónica: contribuição estrutural ao estudo da Gênese dos areais no sudoeste do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008;
  • GÜINTHER, S. Geografia Física. Rio de Janeiro: Ed. Atlântica, 1934;
  • PENA, Rodolfo F. Alves. “Geomorfologia”; Brasil Escola. 2015.