O presente trabalho tem como tema, Consciência histórica na perspetiva de Severino Ngoenha, subordinado a disciplina de Filosofia da historia, Ngoenha, preocupado com a questão que ele chama de primordial que assola e atormenta á Moçambique diz que,  a Historia não é simplesmente um terreno da racionalidade e produção, mas é também de sentimentos e fantasia, ela não pode ser simplesmente o horizonte de descrição, mas deve ser antes de mais, horizonte de juízos de valor. Desse modo, a pergunta que norteara a pesquisa é: Como é que Por meio da consciência o homem vai saber que lugar quer ele exercer na historia do amanha? Desse problema temos as seguintes questoes: o que se pode comprender por consciência? Ou seja, o que há de consciência na historia e na historia de consciente? Será que a historia é o terreno de realização  da liberdade humana e por via disso o homem moçambicano tem a possibilidade de reconquistar o direito de ser senhor do seu próprio destino e da sua própria historia? Qual é a critica que Ngoenha faz acerca da Historia?

A pesquisa tem como objetivo geral: refletir ate que ponto a consciência leva ao homem a dar se conta de que o homem era homem antes da escrita.e como objetivos específicos: abordar o conceito de historia; analisar criticamente o pensamento de Nhgoenha entorno do que e qual deve ser ser o nosso entendimento acerca da historia.

 Segundo Ngoenha, o homem era homem antes da escrita, das línguas, das maquinas e foi precisamente porque era e tinha atrás de si uma memoria individual e coletiva que pode produzir esses elementos culturais, mas posteriores e inferiores ao homem. Essa breve exposição remete à necessidade de aprofundamento no campo de estudo da filosofia da Historia  e, por isso, essa pesquisa se propõe a questionar a consciência histórica na perspetiva de Ngoenha  e entender o caminho pelo qual se colocou à margem o conceito de historia.

Para a elaboração do trabalho recorreu-se ao método bibliográfico e, de forma complementar, à técnica hermenêutica como suporte, que consiste na leitura e interpretação de obras e manuais de autores que abordam sobre o assunto em questão. No que concerne à estrutura, o trabalho começa pela introdução daquilo que se vai tratar, passando pela conceptualização de ideias chaves e desemboca nos aspetos conclusivos do debate

Contextualização

 

Desde que os Moçambicanos tomaram a sua independência ou identidade de que estão livre, vivemos cada vez mais pior da nossa historia. Ainda restam duvidas que questionamos a nossa própria  realidade. A partir de um conhecimento critico da nossa historia, será que nos somos agente da nossa própria historia ou são os outros que fazem a nossa historia? Nos Moçambicanos reconhecemos que somos objeto ou sujeito dos acontecimentos temporais? Com tanta fome, Guerra, Emigração e dita ajuda internacionais, será que  nos sentimos realmente realizados? será que existe uma continuidade entre o que vivemos no passado e a situação atual?  Segundo o nosso autor, afirma que é muito difícil para moçambicano se orgulhar de uma forma mais elevada de que esta livre duma historia que alguns se orgulham e os outros se sinta-o  heróis. Como material sobre o qual os outros constroem o seu orgulho, onde os outros se forjam heróis. Quando não nos transportavam como escravos de um continente para outro, utilizavam-nos para cantas as suas epopeias sobre nós.

Ao falarmos da historia de moçambique, temos que pensar  em primeiro lugar sobre o colonizador, escravatura e não-descolonizadores, desentendimento de povo para povo, a pesar de existir as divergências consideremos que a única maneira que podemos atribuir sentido e valor à historia é o interesse coletivo da humanidade para o melhor. O fim da historia.           

2.1 Consciência

A consciência é a perceção imediata do sujeito daquilo que se passa pelo sentido, ou seja, a consciência pode ser percebida como conhecimento que os homens possuem do seu próprio pensamento, sentimentos e ações. Neste aspeto, a consciência é a capacidade de o homem recuar perante os seus pensamentos julga-los e analisa-los, a consciência faz com que o homem pense na natureza que nos circula e é nela que nos faz preso no sentimento de existência e o pensamento.  Um aspeto fundamental de consciência é o de que ela sempre esta em direção a uma meta. "Santos, afirma que ela sente a meta, mas não explica o que seria esse sentir, conhecer os interesses e é o padrão de uso dela"(SANTOS, 2017, p. 12). Apesar de James em momento algum afirmar ou indicar o que ou como as metas são definidas, seria o papel da consciência exercer julgamentos e seleção a fim de alcança-las.

De acordo James, entende, e expõe isso de modo claro, que o fato que ocorrem na consciência não estão isolados la mas tem impacto na vida social e são impacto por elas. Porem se o valor moral pode mudar a consciência, e importante questionar que seria também questionar novos interesses e metas suplantando ou reforçando a Auto preservação, bem como aspeto estéticos, (SANTOS upud JEMES 2017, p. 13).

A mente humana é inacabável, única coisa de ela ser ineficiente e através da seleção ao que ela se aterá a todo resto e ignorado. Portanto a consciência e o que potencializa a maquinaria cerebral, capacidade da seleção da mente é indubitavelmente, uma das característica mas importantes da consciência.

2.2  Historia

A História é o estudo das ações humanas no passado e no presente. Para os Gregos a historia significa pesquisa ou conhecimento advindo da investigação. É a ciência que estuda o ser humano e sua ação no tempo e no espaço simultaneamente à análise de processos e eventos ocorridos no passado. O termo História também pode significar toda a informação do passado que foi guardada em todas as línguas por todo o mundo, por intermédio de registos históricos. História não é lenda, é investigação. É uma tentativa de obter a resposta para perguntas definidas, a cerca de um assunto cuja a ignorância se reconhece. Não é teocracia, é humanista, (COLLINGWOOD, 1989, P. 34). A historia é a ciência de resgate, a tentativa de responder as perguntas sobre ações humanas praticadas no passado. A historia é para o auto-conhecimento humano.

Para Heródoto é claro que a historia humanista e não mística ou teocrática. Como diz no prefacio da sua obra, foi o seu propósito de escrever ações humana. A sua finalidade tal como ele próprio indica, foi fazer como que essas ações ficassem para a posteridade. Temos que a minha característica da historia, isto é, contribuir para que homem conheça o homem. (ibidem. P. 36). 

Salienta ele, de que o homem como agente racional, não limita a sua atenção aos simples acontecimentos, de modo inteiramente humanistas, como ações de ser humano que tiveram razões para atuar como o fazem.

3.      A Necessidade da tomada de consciência histórica

Ngoenha (1992:7) advoga que nos encontrámos-nos a viver numa situação trágica devido ao conhecimento crítico que temos da nossa própria história, mas também parte da mesma concepção que Gardamer na qual a história não pode ser vista de um modo universal, dado que cada povo é um povo, cada cultura é uma cultura. E advogar que a história é universal, aponta-se puramente para a história ocidental e os outros povos ficam á margem, não participam como agentes ativos na história, mas sim passivos.

Todos reconhecemos que o nosso passado remoto está já caduco, como também caducou o nosso próximo, sem que o futuro constitua lugar de esperança a uma verdadeira consciência histórica” (Ngoenha,1992:21).  Ngoenha trás a ribalta Fukuyana onde este proclama o fim da história após a 2ºguerra mundial, doravante falar do fim da história não implica necessária o fim dos eventos históricos, até porque continuamos sempre a margem e a cumprir os planos do FMI e do BM, o ocidente continua a exercer domínio sobre nós, ninguém ousa relativizar os valores ocidentais e os povos a margem são obrigados a menosprezar suas culturas, seu passado, sua história, demonstrando assim a ‘incapacidade de abarcar a história como experiência global do homem’ que não é sempre e em toda parte igual e por isso, não pode ser vista sobre a mesma lupa.

A necessidade da consciência histórica urge quando decidimos renegar a nossa história, quando cogitamos que para sermos civilizados precisamos nos despir de nos mesmos, e assumir o que não é nosso. Muito pelo contrário, Ngoenha (1992:21) advoga que nos falta exatamente um processo de seleção axiológica que podemos adquirir na assunção da nossa diferença, na aceitação e valorização dos valores próprios das nossas culturas, que não são construções bárbaras, mas são respostas aos problemas com que os nossos antepassados tiveram que se defrontar. Ademais, dado que a consciência histórica é preponderante para a construção de um futuro risonho, um futuro desenhado por nós mesmos e para nós mesmos devemos aceitar o nosso passado e a partir dele projetar o nosso futuro, como seres históricos. Pelo contrário, estaríamos a aceitar de forma incondicional e acrítica certos fins decididos por outros, que significa renunciar a nossa liberdade e a nossa humanidade.

Na concepção Ngoenhiana (1992:22) se quisermos um dia ser artistas da nossa história e termos o devido reconhecimento, devemos aceitar-nos a nós mesmos, reconhecendo e valorizando a nossa diferença. Deixando de lado a história universal, onde somos vistos como objetos e não como sujeitos, deve-se ainda assumir o lugar de fazedores da história, onde não mais somos instrumentos, mas sim protagonistas da própria história, caso não continuaremos sempre a seguir os planos desenhados pelos outros. 

O ponto de partida para a tomada de ‘consciência histórica’ é a analise feita por Heidegger da estrutura previa da compreensão e da historicidade intrínseca da existência humana, onde no ato compreensivo de um determinado texto, tema ou situação não compreendemos com uma ‘consciência vazia’, mas com uma consciência temporariamente preenchida coma situação em causa. “… o passado não é como um amontoada de factos que se possam tornar objeto de consciência; é antes um fluxo em que nos movemos e participamos, em todo o ato da compreensão”(Richard,1969:180).  A tradição não é trazida para se colocar em aversão connosco, mas muito pelo contrario, é algo que que nos situamos e pelo qual existimos.

Deve-se tomar o conhecimento do ‘dizer do outro’ sem tomá-lo como minha opinião, Gadamer exortamos para que esta distinção seja mantida a priori, todavia, essa distinção não implica necessariamente que devemos evitar formar qualquer ideia antecipada em relação ao conteúdo. 

Quando escutamos alguém ou lemos um texto a partir da situação em que nos encontramos, discriminamos os diferentes sentidos possíveis: aceitamos aqueles que nós consideramos como possíveis e rechaçamos o resto que nos parece “de antemão absurdo”. É isso que faz com que, malgrado a pretensão de nos mantermos fieis ao sentido “literal” do texto, demos vazão à nossa tendência natural de sacrificar, qualificando como “impossibilidade”, tudo o que não logramos integrar em nosso sistema de antecipações.(Gadamer, 2003:63).

Pelo que, a atitude hermenêutica pressupõe uma tomada de consciência em relação as nossas opiniões e preconceitos. Aliando ao pensamento de Heidegger vai afirmar que a uma necessidade de construirmos em nós mesmos uma consciência que dirija e controle as antecipações implícitas em nossos procedimentos cognitivos, só assim podemos estar seguros de uma compreensão ‘verdadeiramente valida’. Urge a necessidade da consciência histórica, visto que, sem ela, o nosso conhecimento acerca do ‘dizer do outro’ serem apenas reduções.

 

4.      A consciência Histórica na Concepção de Severino Nguenha

Ngoenha em seu livro por uma dimensão moçambicana da consciência histórica fala-nos seguinte­; de que a historia constitui um problema primordial que assola á moçambique,  ele identificando este problema como primordial, consequentemente como um tormento, afirma que esta dividido em duas vertentes que são; o facto de impor- los a questionar sobre a trangetoria em que eles se encontram a viver, que só, e por si só, leva-os a partir de um conhecimento critico da sua historia, como também, o de estarem atentos a estagnação do conteúdo epistemológico que o termo historia vai assumindo com o risco de assimilar criticamente numa pretensa histórica universal, na qual, Ngoenha, acredita que os moçambicanos só participam como materializadores de opções alheias, isto é, como instrumentos mecânicos modernos tirando deles a possibilidade de decidir livremente pelas suas vidas que abrangirá o futuro das suas vidas. "A historicidade da humanidade, nem tão pouco significa a fineza das línguas, o poder tecnológico, o conhecimento da escrita", (NGOENHA, 2013. p. 11). Isto é, o homem era homem antes da escrita, das línguas, das maquinas, e foi precisamente porque era e tinha atrás de si uma memoria individual e coletiva que pode produzir esses elementos culturas, importantes, mas posteriores e inferiores ao homem. Aqui, pode se compreender que para Ngoenha, a nossa identidade ontológica, isto é, dos moçambicanos precede e é superior as eventuais aquisições gnoseológicas a que podemos aceder-nos ou qualquer outro homem. Falar de moçambique é falar de um aglomerado de povos e culturas num amalgama arbitrário, e por razoes desconhecidas e alheias aos moçambicanos.

 Afirma Ngoenha que, na origem de Moçambique, não estão razoes éticas e muito menos humanas, porem, ideias de dominação de um homem sobre o outro,  em nome de uma pretensa superioridade, quando um grupo de homens quer expandir a própria liberdade e conseguinte, a própria historia, sobre a liberdade e a historia do outro homem, (NGOENHA, 2013. p. 11).

Moçambique significa, por um lado, para Portugal, o aumento geográfico, demográfico e de riquezas e de outro, a supressão dos reinos de Monomotapa, gaza, etc., das suas tradições e das suas culturas. Por razoes que veremos logo de seguida, Ngoenha, acredita que uma historia dos povos autóctones, que vivem no espaço geográfico que hoje da pelo nome de Moçambique, pois a sua vida, quando dela puderem usufruir, será orientada , não como resposta a intenções éticas e racionais por eles impostas, mas sobre tudo como resultado da vontade de usurpadores da vontade alheia. E é evidente que o autóctone não faz a historia de moçambique, mas pelo contrario padece a historia de Portugal. Portanto, com esta colonização, a historia de Portugal assume uma fisionomia negativa, pois ela nem se quer se assemelha com as leis de justiça e muito menos com uma reflexão de ordem moral. "Afirma Ngoema, se viver significa lutar e avancar, isto comporta que a Historia é, antes de mais, horizonte de juízos de valor," (NGOENHA, 2013. p. 14). Ora vejamos, segundo ele, o português não soube salvaguardar um espaço critico entre a sua ideologia colonizadora e a Historia. esta superioridade critica do moçambicano constitui o primeiro ponto de destaque sobre o colonizador, a ideia do devir histórico começou a ganhar forma e levou a esperança, e a avaliação dos próprios empenhos éticos. Então, o moçambicano entendeu que ele não conscide com a historia, ainda menos com a historia que Ngoenha acredita que lhe foi estabelecida por outros, esse homem entendeu que ele projeta se na Historia, sem no entanto perder a própria identidade. é nesse contexto que Ngoenha compreende que o campo da historia torna – se terreno de luta, de realização de crescimento, não só da racionalidade, mas também da fantasia, o sonho como modalidade de pré-consciente e de inconsciente encontram possibilidades de explicação, como forcas explosivas e inventivas.

Portanto, o valor principal para o homem moçambicano, como para qualquer oprimido, era a própria liberdade., era  reconquistar o direito de ser senhor do seu próprio destino e da sua historia, o facto de o colonizador lhe deixar espaço fazia com que a imagem da historia oficial, ele fosse construindo uma personalidade livre, fosse construindo a sua historia, (NGOENHA, 2013. p. 14).

O moçambicano estava dividido em dois mundos históricos diferentes, em primeiro lugar, ele participava da historia como objeto, e a margem desta, fazia a sua historia como sujeito, isto é, o universo do colonizador englobava em si o pequeno universo do colonizado, sem o compreender. Argumenta ele, que um historiador que pretendesse investigar a historia do período que vai de 1500 a 1975, sem ter em conta a historicidade do homem indígena de Moçambique, de envergadura menor mas não marginal, arriscar – se – ia a não entender o significado global da historia que se foi construindo. Mas sobretudo, se tentássemos reconstruir a historia global desses cinco séculos de contínuos encontrões a partir de uma das muitas periferias moçambicanas, ela resultaria completamente diferente daquela que normalmente nos é dada a conhecer. O homem que vive em moçambique, ele participava consciente ou inconscientemente na formação para uma nova identidade cultural e de uma nova historia e isso deveu se  da relação conflitual eu-tu que se apresentou, o homem de Moçambique teve que virar-se para si mesmo e o que viu já não era o homem que fora antes do encontro com costumes diferentes dos seus, ele descobriu-se como pertencente a uma unidade maior do que aquela que sempre pertenceu.

5.      A critica de Ngoenha

O inicio do progresso da colonização o dito  homem selvagem é objeto  e só o homem civilizado é sujeito, ele que civiliza, que fala, que pensa, consequentemente, a espécie humana é construida por duas imagens opostas: de um lado, as nações civilizadas hoje diríamos desenvolvidas, ocidentais, do norte ou do primeiro mundo, animadas por um movimento continuo que se afasta sem cessar da sua condição primitiva., e do outro, os povos selvagens, sem escrita e portanto sem passado, brutalmente arrancados a uma duração imóvel e atirada numa onda de discriminação de raças e de civilizações. Mundo selvagem e civilizado confrontam – se e definem – se um pelo outro, irreconciliáveis no tempo e na historia. Para Nhoenha, " A Historia não é simplesmente um terreno da racionalidade e produção, mas é também de sentimentos e fantasia, ela não pode ser simplesmente o horizonte de descrição, mas deve ser antes de mais, horizonte de juízos de valor, "(NGOENHA, 2013. p. 18 - 19). E é exatamente no ambito significativo e de valores que a historia é susceptivel de uma analise filosofica. Para ele, se quisermos um dia ser artistas da nossa Historia, e ser reconhecidos como tais, temos de nos aceitar primeiro a nos mesmos, e reconhecer e valorizar a nossa diferença. Temos de aceitar que a nossa não é a famosa Historia Universal onde participamos sempre como objetos. E de certa maneira, temos de negar o próprio conceito de Historia como dimensão essencial da nossa existência, para a ré-assumir quando os fautores de Historia estiverem dispostos a relativizar os próprios padrões culturais, se não ousarmos por em causa a Historia, estamos condenados a ser artistas de segundo plano, estamos destinados a ser objetos da Historia. Diz Ngoenha, sim, é melhor que a Historia acabe, não como terreno de luta, de realização e crescimento, mas como negação a diferença e portanto a mudança e ao crescimento.

Conclusão

Na temática sobre Consciência histórica na perspetiva de Severino Ngoenha, concluímos que o contexto da filosofa da Historia  no que tange ao guarda chuva do estatuto epistemológico da filosofa africana, deixa claro que é necessário um aprofundamento nas questões que envolvem a historia, em especial atenção a historia que foi dada ao homem moçambicano para lhe conferir o merecido ‘status’ dentro do arcabouço geral de uma filosofia e para isso, é necessário entender que a nossa identidade ontológica precede e é superior as eventuais aquisições gnoseológicas a que podemos aceder nós ou qualquer outro homem. Visto que a consciência é a capacidade de o homem recuar perante os seus pensamentos julga-los e analisa-los, é evidente que Ngoenha acredite que com a tomada de consciência terá motivado profundamente a compreensão que antes este homem tinha dele mesmo e da sua vida,  contraviesse-se da mudança que operava no seu estatuto histórico de sujeito livre e fautor do seu destino, a objetos de ação de opções alheias.   O facto de serem conscientes de si e da sua posição de realizadores de acçoes não intencionais, produzia neles  uma pequena luz cintilante que escapava ao controle e a dominação do colonizador. Então o moçambicano entendeu que ele não conscide com a historia , ainda menos com a historia digamos assim oficial  que lhe foi imposta por outros homens, sem no entanto perder a própria identidade e a sua dignidade.

Por historia, Ngoenha entende que é antes de mais, horizonte de juízos de valor, desse modo, o campo da historia torna-se terreno de luta, de realização e de crescimento, portanto, o valor principal para o homem moçambicano, como para qualquer homem oprimido, era a própria liberdade, era reconquistar o direito de ser senhor do seu próprio destino e da sua historia. Onde na sua critica encontramos a seguinte proposta; para ele, se quisermos um dia ser artistas da nossa Historia, e ser reconhecidos como tais, temos de nos aceitar primeiro a nos mesmos, e reconhecer e valorizar a nossa diferença. Temos de aceitar que a nossa não é a famosa Historia Universal onde participamos sempre como objetos. E de certa maneira, temos de negar o próprio conceito de Historia como dimensão essencial da nossa existência, para a ré-assumir quando os fautores de Historia estiverem dispostos a relativizar os próprios padrões culturais, se não ousarmos por em causa a Historia, estamos condenados a ser artistas de segundo plano, estamos destinados a ser objetos da Historia. Diz Ngoenha, sim, é melhor que a Historia acabe, não como terreno de luta, de realização e crescimento, mas como negação a diferença e portanto a mudança e ao crescimento.

 

BIBLIOGRAFIA

NGOENHA, Severino Elias. (1992). Por uma dimensão Moçambicana da consciência histórica.  Salesianas Porto.

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GADAMER, Hans-George. (1999). Verdade e Método: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica., Trad. Flávio Paulo Meurer. 3. ed. São Paulo, Vozes.

____________. (2003). O problema da consciência histórica. Trad. Paulo Cesar Duque Estrada. 2.ed. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas

COLLINGWOOD, A. (1989). A ideia da historia. [s.ed], Lisboa presença.