Albert Camus era um romanticista francês em meados do século 20. Ele não se chamava “filósofo”, porém a maioria de seus livros é considerada como relevantes textos continentais hoje em dia.

O maior problema dele—conforme o descrevia—foi a questão de suicídio. Ele acreditava que é inútil se incomodar com a filosofia a menos que consigamos responder a essa pergunta:

“Se a vida não tivesse significado algum, por que não todos nós nos suicidaríamos?”

Desnecessário dizer que ele não era o cara mais optimista.

Mas sim, é uma pergunta com que todos os filósofos se contendam em algum ponto, e a resposta nunca é simples: Sartre (contemporâneo de Camus) disse que o significado foi o que criou durante toda sua vida; Nietzsche disse que o significado foi a vontade de poder acompanhada de um pouco de amor fati (comprido demais para explicar aqui), o significado pode ser tirado de religiões, etc…

Muitos analíticos e alguns budistas diriam a vocês que o significado é uma construção humana “insignificante”, algo que não precisamos. Mas uma pergunta mais interessante seria: “Por que sentimos que nossas vidas precisam de um significado?”

Porém Camus não foi satisfeito. Ele era infinitamente céptico então essas idéias de Sartre ou outras existencialistas não o convenceram. Ao mesmo tempo, Camus era ateu, então não podia se dirigir a religião para lho dar algum propósito. O pensar analítico não o satisfazia, mesmo que logicamente talvez não precisamos de um maior propósito, ainda sentimos como se precisássemos daquilo, e isto basta para nos conduzir à insatisfação. De nada servia ignorar o problema.

Então ele fez o que a maioria de filósofos continentais faria em sua posição: ele escreveu um livro terrivelmente complicado sobre isso, chamado Le Mythe de Sisyphe (O Mito de Sísifo). Sísifo foi condenado a empurrar um rochedo até ao alto da montanha, só para cada vez tê-lo cair pouco antes de chegar lá. Ao percorrer o livro, Camus demonstra que como Sísifo, os humanos encontram o Absurdo enquanto questionam sua posição no Universo, enquanto olham ao mundo material e descobrem que não é tão vivo quanto eles; que a vida não tem sentido e não podemos achar um significado para ela, e nunca o acharemos. Cada vez que o rochedo caísse, Sísifo teria que reparar que a sua tarefa não tenha sentido. As conclusões de um raciocínio tão absurdo poderiam ser três: suicídio, suicídio filosófico, e revolta.

Ele explora mais filosofias, e todas as religiões, e conclui que nenhuma delas satisfaz de verdade, porque todas caem na armadilha de oferecer alguma esperança no final, por meio de abandonar toda a razão ou confiar em algum deus. Isso, Camus disse, é suicídio filosófico.

O suicídio, ele afirma, está fora da questão: se tivéssemos de fazer algo com esse Absurdo, precisamos de um humano. Sem o humano, o Absurdo desaparece, e a nossa filosofia se acaba. Camus leva o Absurdo a sério, claramente, e suicídio então é uma evasiva.

Isso é justificado por sua conclusão final, que precisamos reconhecer que o mundo falta significado, que a razão tem seus limites, como o conhecimento humano: portanto, nós jamais podemos aceitar o Absurdo, devemos sempre viver apesar dele.

Somente quando fazemos isso que conseguimos atingir a verdadeira liberdade, a liberdade de viver sem precisar buscar por significado, sucesso, ou maior propósito.

“Só a luta em si basta para encher o coração do homem. Poderia imaginar Sísifo feliz.”

Ao resumir sua filosofia eu estraguei a maioria, então por favor vão lê-la se não leram ainda.