Ramos Antonio

UM FILÓSOFO, UMA MEMÓRIA DO POVO

Desde os primórdios, é pela gratidão e generosidade que, o espírito filosófico se orienta, tal espírito movido pela resolução de questões que preocupavam a toda humanidade. Sócrates, grato pelo coro de demónio (como diria Pondé) que falava no seu interior e, generoso pelo povo ateniense, viu-se obrigado a juntar-se com os jovens da época para fazer-lhes lembrar de que, a função embriónaria do Estado é sem dúvidas, a criação de condições que proporcionem a felicidade aos seus cidadãos, passando por via da gestão justa do Bem Comum e que, tal função do Estado não passava de Dever do Estado e não simples favores, como os políticos têm insinuando nos bastidores. Platão e Aristóteles, também deram eco a ideia socrática de que, a felicidade é a condition sine qua non para convivência pacífica entre os homens. "O homem foi criado (se é que foi criado mesmo) para ser feliz". Escreve Estagirista para o seu filho Nicômaco! Só que, a vida feliz em Aristóteles, passa pelo trabalho duro, pela honestidade e, pelo respeito às Leis do Estado. (Lembre-se de que, "Estado" para os gregos, era a continuidade do corpo humano. Por isso, em Platão, como o corpo humano é composto por três almas, isto é, alma racional, irrascível e concupsciente, com suas respectivas virtudes e defeitos (vícios) o Estado é também dividido em trés classes, como, a dos governantes, a dos soldados-guardiões e produtores-camponêses). Assim, se a gestão justa do Bem Comum é o motor imóvel (Aristóteles) do Estado, então, todos os cidadãos enquadrados em suas respectivas classes, mediante a inclinação de suas almas, certamente trabalharão duramente, pautarão pela honestidade e consequentemente respeitarão as Leis do Estado. Pensava assim Aristóteles. E, então, o que sucede quando o povo trabalha duramente, pauta por acções honestas e respeita as Leis mas um grupinho do mesmo Estado e vivendo sob mesma Constituição, não o faz? Nesse contexto, sucedem revoluções acima de revoluções! Derrama-se sangue. Não da ovelha sacrificada por Abraão no lugar de Isac para os cristãos, ou Ismael para os muçulmanos. Mas sim, de humanos. Porque sempre o povo desperta-se, ou se não desperta, é depertado por um filósofo-alarme! É o que, a história humana registou ao longo dos tempos ídos. Quando a pequena classe burgesa (a detentora dos meios de produção, que sempre respira arés de mais-vália) parecia intocável, os proletariados movidos pelo fogo infernal nos seus olhos, sem temor e tremor (o povo cansado não tem nada a perder) colocaram-se a marcha à caminho do derrube da burguesia. Por isso, Karl Marx gritava: "os trabalhadores do mundo, uní-vos". Aqui mais uma vez, um filósofo-alarme a ser memória do povo sofredor! Daí que, não tardaram as revoluções no mundo. A França, não desprezou os ideiais dos filósofos iluministas e, como resultados assistimos a queda da bastilha, a ruína da Comuna de París e a esperada detenção de altas fíguras da burguesia barriguda. Porquanto, a igualdade, solidariedade e fraternidade, passaram a ser os valores a ser cultivados e preservados pelos francesses. A Inglaterra e os E.U.A também cansados pela vida luxousa, a vida ostentada pelos detentores dos meios de produção, o proletariado se vira a derramar sangue com o fim (Aristóteles) de por o fim (Fukuyama) a vida daqueles que contra Aristóteles, não trabalhara duro, vivera mentindo e sequer respeitara as Leis do Estado. À Alemanha, não foi excessão. Lá Hítler guiado pelo espírito absoluto, traduzido no "desejo pelo reconhecimento" como diria o frankfurtiano Axel Honnet, convenceu os seus patrícios a registar o nome "Alemanha" na história do mundo, com ideias claras e evidentes (Descartes) de se tornar Deus terreno. Tudo isso, graças aos alarmes dos filósofos Hegel, Kant e seus Heideggeres. A Rússia, também considerou os seus alarmes (filósofos) e o resultado foi a revolução de 1917. 

 

Adémais, porque tinha alarmes (filósofos) com pilhas carregadas no Ocidente, a África do século XX, também experiementou o derramamento de sangue para o derrube das tiranias ocidentais por isso, a maioria dos seus países pareceu astear suas bandeiras em 1960, com o ápito de Nkrumah em Ácra, embora a Libéria tenha composto o seu Hino Nacional em 1953.

Portanto, os filósofos é que melhor reflectem para que dirrecção o mundo está indo. Não os políticos!Tampouco os engenheiros com cheiros de dinheiros! Daí que, recorrer-se a filosofia quando o alvo não parece tão óbvio. Mas então, quê alvo não parece tão óbvio no século XXI em África? A resposta é óbvia. A Soberania dos Estados africanos e os seus podres, dentre eles, a corrupção das Instituições dos Estados, o desemprego dos jovens qualificados e a consequente entrega dos mesmos com suas qualificações acadêmicas aos grupos que semeam terrores em apologia dos seus "ismos".

 

Os filósofos sempre são chamados à função de alarmes para acordar o povo todo tonto que se esquece de estar sempre pronto para acordar. Quando o seu povo que entre arrancar o poder que delegou aos políticos "Etienne de la Boétie" e sair correndo mesmo sem arché, prefere escolher ter comida mas aprisionado nas axílas dos políticos, é o filósofo sim que, aceita tomar cicuta, porque já não se sabe ao certo qual é a melhor partida, se é a vida ou a morte. O filósofo ilumina os conceitos inerentes à política. Denuncia a absolutização da política (Chambisse) não só, como também notifica (como Adorno fez com a Indústria Cultural) a tiranização de qualquer poder, seja político, económico ou ideológico. O filósofio cuspe contra todos os tipos de dominação, quer seja em forma de interesses (traduzido em monópolio) ou quer em autoridade (a presença de direito de mandar e o dever de ser obedecido). O filósofo não aceita passivamente o Estado, muito menos, a dominação legal com a sua saliência na burocrática, a dos Estados modernos; dominação tradicional e a carismática. O filósofo, não aceita nada como autoridade, quer seja, Homem com a Constituição do seu Estado, tampouco Deus e seus livros Sagrados. O filósofo questiona a coerrência dos discursos políticos procurando a sua relação com a realidade de um lado, como também as humílias dos padres nas ditas santas missas, de outro lado. O filósofo deve acima de tudo, lembrar ao povo quando este último é comido, pisado e dar-lhe razões suficiêntes para voar enquanto se sentir ímpeto de o fazer. Nota que, a desgraça do povo deve-se aos silêncios dos filósofos-alarmes? Sim, pois esses são memórias do povo. O problema é que, o povo de todo o mundo mesmo da Grécia esquece rápido. 

 

Infelizmente, estava certo o filósofo que disse que, três são os lugares dos filósofos de África. Na diáspora como um herói ignoto; Lá está Assante, o afrocentrista, padrinho de Erígimino Mucale e tantos outros; No governo. Lá estão Mazula, Ngoenha, Castiano e seus derivados que funcionam como marionetes das vontades políticas alhéias e; No cemitério, onde estão Sócrates, Galileu e, Cistac por defender suas filosofias. Portanto, esses filósofos-marionetes, permitem que o mundo seja mau, pois deixam que o mal floresça no povo, o mesmo que cultivando a terra faz sobreviver os políticos e os padres. Chamo a eses de filósofos pecuniocratas. Desviados de suas nobres missões no mundo em troca de um Povo religiosamente câmelo a caminho do Inferno de Dante. 

De quem é a culpa? Do Povo que não sabe que está sendo comido faz tempo ou do filósofo-alarme que finge estar em silêncio pitagórico?

No Fundo, Para Um Povo Tonto E Pronto!