Por Júlio Chinavane
Estamos numa era totalmente globalizada e digital, onde o avanço tecnológico desconstrói qualquer tipo de fronteira, assumindo desse modo que qualquer ganho ou avanço é de pertença global e nenhum país deve estar alheio a este percurso, a participação deve ser colectiva seja como consumidor ou produtor.
É necessário desconfiar da pessoa que está contra o avanço, seja qual for o tipo, sendo assim, não posso estar alheio, mas estou no meu direito de trazer qualquer obsevação ou pensamento em relação á aplicabilidade de qualquer que seja o avanço, tendo em conta o nosso contexto.
 
Em Moçambique, mesmo com reajustes, o salário mínimo não é nada mais que 4.829 meticais, aproximadamente 65 euros. Com o elevado custo de vida os 4.829 meticais, devem ser suficientes não só para a alimentação, mas também, para o transporte, estudos, o pagamento de água e energia, e, ainda, deve sobrar algum para sonhar em um dia ter casa própria com condições mínimas, tendo em conta que a taxa de dependência demográfica gira em torno dos 99,5%, isto é, no nosso país em cada 100 pessoas existem cerca de 99 pessoas a espera de outras para lhes suportar em todas as suas despesas.
De acordo com os resultados do censo geral da população de 2017, Moçambique tem cerca de 27.909.798 habitantes, onde 33.4% da população é Urbana e 66.6% é Rural. Ademais, em realação á fonte de energia para a iluminação, a maior parte da população moçambicana que é representada com cerca dos 41% usa pilhas para a iluminação e apenas 21% é que tem acesso a energia eléctrica, não menos importante, cerca de 12,2% da população faz o uso da lenha como energia para iluminação. Importa também destacar que em relação aos meios de acesso á informação apenas 21,8% da população moçambicana tem televisão, 35% que é a maioria tem rádio, 26,4% tem na sua posse um telefone celular, sem esquecer ainda que apenas 6,6% tem acesso a internet.
 
Neste contexto, está mais que claro que o nosso país está a passos muito lentos para chegar nos padrões mínimos de desenvolvimento. Por isso que as politicas públicas devem olhar para aquelas que são a reais prióridades e necessidades do povo que estar a seguir os PADRÕES OCIDENTAIS DE DESENVOLVIMENTO. Ainda não há nem 50% da população com acesso á internet, muito menos com acesso á televisão, assim como á um telefone celular.
 
Não era suposto que primeiro seja consolidada a inclusão digital (onde a maior parte da população te acesso á internet, tem condições para comprar uma televisão ou mesmo telefone celular), para de seguida se pensar numa possível migração? O elevado custo de vida causado pelo escândalo das dívidas ocultas, tanto pelas politicas mal concebidas, fazem-nos mergulhar juntos com os os 4.829 meticais num verdadeiro sentido de pobreza. Antes, com pelo menos energia de 50 meticais era suficiente para ver a televisão (mesmo com usando um garfo como antena), ajudava esquecer por alguns minutos a pobreza que estamos a sentir na pele.
O que se espera de uma mamana que tem uma banca de tomates, onde diariamente consegue 100 meticais para alimentar os seus filhos? Com o sinal aberto pelo menos dava para pelo menos dar matabicho para as crianças e de seguida deixá-las a ver televisão até ao final do dia para posteriormente preparar a última refeição.
 
O que se espera de um chefe de familia que simplesmente recebe os 4.829 meticais, o valor pouco chega para garantir uma alimentação saudavél por 1 mês, já não falo de transporte para o trabalho, o pagamento de renda e da escola dos filhos, para ainda no mesmo valor retirar 800 meticais para PAGAR A TELEVISÃO.
 
SOU A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO, MAS DEVEMOS PENSAR PARTINDO DO NOSSO CONTEXTO