O presente trabalho tem como tema “Filosofia da natureza em Hegel: A mecânica”. É um trabalho hermenêutico com vista a interpretação dos conceitos-chave abordados por Hegel nesta temática da mecânica. O mesmo enquadra-se na disciplina de Filosofia da natureza, constituindo o terceiro tema de debate de acordo com o plano analítico em uso nesta disciplina.

Hegel, abre seu debate não procurando saber o que é filosofia, mas procura saber o que é a natureza, visto que, o grande tema é sobre a filosofia da natureza. E ele se questiona, quais são as várias maneiras de considerar a natureza? Porque este conceito ainda continua sendo um enigma para o homem. Com esta forma de indagar, ele quer saber no fundo, o que é natureza? Mas não o faz assim porque a natureza não algo dado, não é algo que pode ser fornecido como ‘caneta’.

Mais pode-se perceber com o seu debate que a natureza é mecânica; é física; é física orgânica; em fim, natureza é tudo.

O objectivo deste trabalho é analisar e compreender as diversas maneiras de considerar a natureza propostas por Hegel.

Para a elaboração do trabalho, é usada como obra principal Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio (1830): filosofia da natureza de Georg. W.F. Hegel, visto que, é um trabalho precisamente hermenêutico.

O trabalho obedece à estrutura seguinte, O primeiro subtema aborda a questão do espaço. Onde trata-se do conceito espaço como uma concepção ideológica porque não existe na representação directa e empírica. O segundo trata de tempo como sendo algo ideal como o espaço, que é sentido por via da duração. O terceiro aborda os conceitos de lugar e movimento, onde o lugar é considerado como singularidade do espaço e o movimento como mudança ou alteração da natureza. E, seguidamente, matéria inerte, o choque, a queda, e por fim a mecânica absoluta.

Para realização deste trabalho, segue-se o método hermenêutico-bibliográfico, que consiste na leitura e interpretação da obra principal Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio (1830): filosofia da natureza de Georg. W.F. Hegel publicada em 1997.

O espaço


O espaço é uma concepção ideológica e/ou abstracta pois, ela não existe de uma forma independente dos objectos, ou seja, não existe sua representação directa e empírica.

Ele é o totalmente ideal ao lado-um – do-outro, porque é o ser-fora-de-si e simplesmente continuo […] ainda é totalmente abstracto e não tem em si nenhuma diferença determinada” (HEGEL, 1997: 47).


Portanto, o espaço é algo continuo, isto é, sem limitações e esta sua infinitude oferece-lhe uma dimensão de incompreensibilidade como ser-fora- de –si. Para Japiassú e Marcondes (2001: 65), o espaço é o meio homogéneo e ilimitado, definido pela exterioridade mútua de suas partes contendo todas as extensões finitas e no qual a percepção externa situa os objectos sensíveis e seus movimentos. Desta feita, o espaço é algo que não existe por si como algo dado como se fosse “martelo”. Enquanto objecto tangível ele é inconcebível.

Não se pode mostrar nenhum espaço que seja o espaço por si, porém ele será sempre espaço preenchido e nunca diverso d seu enchimento” (HEGEL, 19997: 49).

 

O tempo


Como o espaço, o tempo é uma simples abstração, idealização, é uma forma de intuir que é compreendido com a duração. Para Hegel (1997: 55), no tempo tudo surge e tudo passa, mas neste perecer, só desaparece as coisas e não o tempo. O que nos dá a sentir que as coisas passam é a sua durabilidade. “ […] O tempo concreto é duração vivida, irreversível e nova a cada instante” (BERGSON citado por REALE; ANTISERI, 1991: 712). O tempo é algo que existe como ideia e, para notar o seu movimento deve-se tomar em referência os eventos que ocorrem.

O lugar e o movimento


O lugar é a unidade do aqui e agora, ou seja, é a identidade posta do espaço; é a singularidade espacial. É a indicação ou intuição do espaço. E o movimento é a relação do espaço e tempo. Assim, o movimento é o processo, o passar de tempo para espaço. E, não existe movimento sem matéria porque o que se move é a matéria. Com isto, o movimento é a mudança ou alteração de uma natureza.

Matéria


Matéria é tudo o que tem massa e ocupa espaço. Qualquer coisa que tenha existência física ou real é matéria. A matéria pode ser liquida, solida ou grossa. A matéria sustem-se diante de sua identidade consigo pelo momento de sua negatividade, de sua singularização abstracta. A matéria é pois, antes de tudo, essencialmente pesada mesmo, o peso constitui a substancialidade da matéria.

 Matéria inerte


O corpo enquanto corpo chama-se abstracto do corpo, porque ele é a unidade que liga o tempo e o espaço e ele por sua vez torna-se exterior, ao movimento e o repouso do corpo é inerte. A matéria inerte, isto é, ela é como seu conceito, que é oposto de sua realidade, e ela suprassumida na qual ela existe só como abstração e o que se chama a realidade sensitiva é o real, e a forma de abstração em si mesma. A matéria seve como ‘preenchidor’ do espaço;

a matéria enche o espaço, nada mais significa senão que ela é um limite real no espaço, porque ela como ser- para-si é exclusiva, o que o espaço como tal não é” (HEGEL, 1997: 70).

 

O choque


O choque é um contacto, encontro violento entre dois ou mais corpos; é uma colisão. A intensidade do choque como grandeza efectividade é, apenas aquilo com que a matéria obtém seu ser-para-si ou resiste. Choque é também resistência; resistência quer dizer precisamente matéria. Pressão e choque são as duas causas do movimento mecânico exterior.

A queda


A queda é o acto de ou resultado de cair ou deixar cair um corpo num determinado tempo e espaço. A queda é o movimento relativamente livre, sendo posto pelo conceito do corpo; é a manifestação da própria gravidade dele e é imanente.

A lei da queda é contrariamente à abstracta velocidade uniforme do mecanismo morto, determinando de fora, é uma livre lei da natureza, isto é, uma lei que tem em si um lado a determinar a partir do conceito do corpo.

A queda é por meramente abstracto de um centro em cuja unidade a diferença das massas e corpos particulares se põe como suprassumida, massa peso não tem pois nenhuma significação na grandeza deste movimento.

Mecânica absoluta


Desde a origem do mundo vários pensadores procuram investigar como o mesmo funcionava, qual era a sua composição, como é que funcionavam as leis da natureza. Entre os pensadores, destaca-se físicos, filósofos, químicos, astrónomos, etc., procuram explicações baseando-se na sua área de estudo.

Neste presente capítulo importa-nos referir as contribuições feitos pelo filósofo alemão Hegel sobre o que é a natureza na sua concepção. Na mecânica absoluta Hegel destaca dois conceitos que são, a gravidade e o movimento. Para ele a gravitação é o verdadeiro e determinado conceito de corporeidade, que está realizado para a ideia. A gravitação contradiz imediatamente a lei da inércia pois por meio da gravitação uma matéria de si mesma tende para outra. Com isto Hegel quer dizer que na natureza os corpos estão em movimento, os corpos movem-se entre si através de dois momentos de ser-para-si e o da continuidade suprassumida de ser-para- si.

Para Hegel (1997: 89), o sistema solar é em primeiro lugar um conjunto de corpos independentes, que se relacionam independentemente uns com outros, não graves, mas se mantem nesta relação e põem sua unidade em um outro-fora-deles.

Segundo Hegel (1997: 90), a gravidade, enquanto fazendo cair, é certamente o conceito da matéria, mas como abstratamente, ainda não como em si se diminuindo a queda é uma manifestação incompleta da gravidade; logo não são? Para Hegel o movimento dos corpos celestes não é um só puxado para lá e para cá, mas o movimento livre; eles vão por ai, como dizem os antigos, quais deuses bem-aventurados. A corporeidade celeste não é tal que tenha fora-de-si o princípio do supremo ou movimento.

Para sustentar sua ideia Hegel apoia-se na lei de gravidade de Newton e de Kepler. Kepler defendia o movimento dos corpos celestiais; Newton transformando-o no reflexo de força de gravidade e certamente da mesma forma como na queda se dá a lei de sua grandeza.

Para Hegel estes dois processos de gravidade e movimento ocorrem num determinado tempo e espaço. Que o tempo fica atrás em uma dimensão já e esperado a partir do que precede. Ao ficarem aqui interligados espaço e tempo, cada um é posto em sua propriedade, e sua determinação de grandezas e determinado por sua qualidade.

CONCLUSÃO


Os conceitos tempo, espaço e lugar, são concepções ideológicas porque não são constatáveis de forma directa; são conceitos abstratos. Estes conceitos foram convencionados na natureza pelo homem na tentativa de compreender os fenómenos que ocorrem na mesma.

Hegel coloca estes conceitos em debate no contexto mecânico porque ela (a mecânica) é um ramo da física (phisis = natureza) que compreende o estudo e análise do movimento e repouso dos corpos, e a sua evolução no tempo, seus deslocamentos sob a ação de forças. E se a mecânica é um ramo da natureza que estuda o movimento e repouso dos corpos então, torna- se legítimo o enquadramento destes conceitos no capítulo da mecânica como aqueles que auxiliam a compreensão da natureza.

Todos conceitos-chave arrolados neste trabalho são, uma forma que o homem criou para entender as metamorfoses que ocorrem neste grande conceito; natureza. Porque desde a sua génese, o homem ficou espantado com as maravilhosas transformações que se manifestam na natureza; e, como forma de tentativa de desvendar estes grandes mistérios vem criando conceitos que possam o ajudar a compreender melhor o lugar onde ele vive.

Contudo neste trabalho verifica-se que os grandes conceitos que tem ajudado o homem nesta compreensão, são os conceitos de tempo e espaço, pois, tudo ocorrem num determinado tempo e espaço. Mesmo quando quer se verificar a mudança ou movimento de um corpo, toma-se como base estes dois conceitos (espaço-tempo). Dai que pode – se enfatizar estes conceitos como nucleares para qualquer área que queira compreender os mistérios da natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HEGEL, Georg. W. F. Enciclopédias das ciências filosóficas em compêndio: a filosofia da natureza. José Machado (Trad). São Paulo, Loyola, 1997. v. 2.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3.ed.; Rio de janeiro, Jorge Zahar. 2001.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. 2.ed.; São Paulo, Paulus, 1991. v. 3.