Introdução

Estética é um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza da beleza e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado beleza, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se do sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.

Entretanto, é sobre este ramo da filosofia que o este trabalho visa abordar. Onde no seio do mesmo irá debruçar-se sobre vários aspectos inerentes a estes.

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ESTÉTICA

«Para fazer arte verdadeira é preciso expressar aquilo que há em si mesmo.» Battista Mondin

Na era em que nos encontramos, há cada vez maior afirmação das culturas, a nível local. Uma das formas usadas para a manifestação da cultura é a estética. Estetiza-se o corpo, na dança, a paisagem, na pintura, o som, na música, os seres, na escultura.

Existem padrões para a manifestação artística? Em que consiste a beleza de uma obra de arte? Qual é a sua importância? Estas são apenas algumas das perguntas que podemos formular ao reflectirmos sobre a estética. Nas páginas que se seguem vamos reflectir sobre estas perguntas, à luz das experiências de filósofos que sobre ela reflectiram ao longo da História.

 

Conceito de Estética

A palavra «estética» vem do grego aisthetiké, que etimologicamente significa tudo o que pode ser percebido pelos sentidos. Atribui-se a sua origem igualmente à palavra grega aísthesis, que significa «sentido» ou «sensibilidade». Quando falamos de estética, referimo-nos à disciplina da Filosofia que se ocupa do estudo do belo.

Kant define a estética corno a ciência que trata das condições da percepção pelos sentidos.

Todavia, sabe-se que o sentido que se atribui à estética nos nossos dias (como teoria do belo e das suas manifestações através da arte) remonta a Alexander Baumgarten, filósofo alemão (1714-1762), o qual concebeu o belo como subjectivo e resultante da obra do homem.

O objecto de estudo da estética, enquanto ciência e teoria do belo, é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos como bela arte. O seu conceito refere o campo da experiência humana que o leva a classificar um objecto como belo, agradável, em contradição com o que não é.

A estética, enquanto problemática filosófica, compreende os seguintes problemas, nomeadamente: a natureza da arte, o seu fim e a sua relação com as outras esferas da vida humana.

 

A Essência do Belo

O interesse e a reflexão dos filósofos sobre o belo remonta à Antiguidade Clássica.

Platão entendeu a arte como uma imitação da natureza, que é, por sua vez, cópia das ideias. O alvo da imitação é o belo.

Aristóteles, contradizendo o seu mestre Platão, afirma que a arte não é apenas a imitação da natureza. Trata-se não de uma mera reprodução da natureza, mas sim de uma reprodução com a intenção de a superar.

Para o italiano Gianbattista Vico (1668-1744), a arte é um modo fundamental e original de o homem se expressar numa determinada fase do seu desenvolvimento. O desenvolvimento viquiano do homem é composto por três etapas: a dos sentidos, a da fantasia e a da razão.

A arte é a expressão humana na fase da fantasia. Nesta fase, o homem exterioriza a sua percepção da realidade através de criações fantásticas: poemas, mitos, pinturas, etc.

Esta posição foi contestada por Kant, que nega que a arte seja imitação da natureza.

Numa obra de arte, a sensibilidade expressa o universal no particular, o inteligível no sensível, o número no fenómeno. Dito por outras palavras, pela obra de arte, o homem contempla realidades meta-empíricas que jamais seriam acessíveis à sua sensibilidade; estimula-se o prazer estético que deleita o homem.

A arte como a mais sublime expressão humana da natureza e do universo opõe-se à própria natureza que o homem pretende exprimir e interpretar. Quando é a simples manifestação do belo (obras belas), denomina-se belas-artes (designação comum às artes plásticas, sobretudo a pintura, a escultura e a arquitectura). Como afirma Platão em Fédon, sendo a beleza uma ideia absolutamente perfeita, é o fim em si e ama-se por si própria. Porém, quando a arte visa fins lucrativos, denomina-se artes úteis (são as artes mecânicas). Estes dois tipos de obras artísticas diferem um do outro, tal como o belo difere do útil. Pois se o belo se ama em virtude de si próprio, o útil ama-se em virtude do fim diferente de si mesmo. O útil é relativo.

 

O Belo Como Fundamento da Arte

O que é belo é subjectivo. Daí a dificuldade em chegar a um consenso sobre o que é belo ou sobre o que não o é. Portanto, parece ser óbvio que a classificação de uma obra de arte como bela é relativa. Com efeito, não se fala, hoje em dia, de valores universais. Não existem valores eternos comungados por todos os povos e em todos os tempos.

Como afirma Ferry, «A ética [...] fundamentando o belo numa faculdade demasiado subjectiva para que nela se possa facilmente encontrar alguma objectividade, a história da estética, pelo menos até aos finais do século XVIII, iria antes do relativismo à busca de critérios.»

A sociedade moderna procura compreender o universal a partir do particular. É uma sociedade epistemologicamente indutiva. Sendo assim, não era de esperar um consenso sobre a beleza das grandes obras de arte. Como constata Ferry, é no domínio da estética que a tensão entre o indivíduo e o colectivo, entre o subjectivo e o objectivo se faz sentir de uma maneira mais forte. O belo é o que nos reúne mais facilmente e mais misteriosamente. Daqui resulta a visão de que a obra de arte deve ser uma representação bela do mundo subjetivo do artista.

 

Divisão e Classificação das Artes

Partindo da sua finalidade, que é a utilidade e a expressão do belo, podemos dividir a arte em artes mecânicas (metalurgia e têxteis) e belas-artes. Enquanto nas artes mecânicas o artista está preocupado com a utilidade da sua obra, isto é, o lucro, nas belas-artes a preocupação funda mental do artista é a expressão do gosto pelo belo. Enquanto o belo se ama por si próprio, ou seja, pelo facto de ser belo, o útil ama-se não por aquilo que é, mas em razão da sua finalidade.

Portanto, o útil é sempre relativo, ao passo que a beleza é, como era proclamada por Platão, absoluta e perfeita.

As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes rítmicas. Vejamos estes grupos.

Artes plásticas — são as artes que exprimem a beleza sensível através do uso das formas e das cores.

 

Estas compreendem:

A escultura — que representa imagens plásticas em relevo total ou parcial e expressa senti mentos e atitudes através das formas vivas, buscando a perfeição e a beleza sublimes;

A pintura — que, pela combinação imaginativa e sensitiva das cores, exprime a percepção que o artista tem da natureza. A pintura supera a escultura, pelo menos no homem, pela maneira como fixa nele as suas expressões faciais;

A arquitectura — que, pela imaginação e criatividade, atinge e expressa a beleza com equilibradas e agradáveis proporções das massas pesadas.

As artes rítmicas (ou artes de movimento) — são artes que, na sua essência, produzem obras que exprimem a beleza mediante várias formas: sons, ritmos e movimentos. Estas, por sua vez, compreendem:

A poesia (ou seja, a arte literária) — com ritmo mais ou menos suavizado pelas rimas e palavras hamonizadas entre si, cria uma sensação agradável e é recitada ou lida em silêncio;

A música (arte musical) — expressa a beleza através de acordes vocais, melodias e ritmos ou batidas compassadas em tempos alternados. Com a simultaneidade de melodias, a música pode transmitir sentimentos de vária ordem, assim como uma crítica social. Através da música, o artista exprime o que lhe vem da alma, ou o que gostaria que fosse, mas não é;

A coreografia (ou a dança) — conhecida como arte mista ou arte da dança. Através de uma sequência de movimentos corporais realizados de forma rítmica, ao som da música ou do canto, o artista exprime o modo como vê, sente e encara o mundo à sua volta.

 

Significado e Valor Social das Produções Artísticas

As obras de arte retratam a vida quotidiana de uma sociedade. Por esta razão, em parte, as obras de arte não podem pretender representar o universal, porque constituem uma expressão da visão do mundo do artista. Como a arte representa a perceção do artista do mundo em que vive, torna-se a janela através da qual a sociedade nela se revê. Ou seja, a sociedade espelha-se nas obras de arte, porque estas são a sua representação.

Nem toda a gente tem a capacidade de fazer uma leitura crítica da sociedade ou de ter um olhar antecipado da realidade e o artista pode representar a sociedade de forma crítica. Este poderá igualmente intuir o que poderá vir a ser a sociedade futura.

 

A Arte e a Moral: (Relação Mútua)

Alguns filósofos, como Platão, Aristóteles e Vico, estabelecem de uma forma mais ou menos directa a relação da arte com a moral. Assim, condenam as obras de arte que julgam moralmente censuráveis.

Platão, o primeiro filósofo a tratar do problema estético, diz que a arte é fruto do amor que impele a alma para a imortalidade. Para atingi-la, a alma gera e procria o belo, antecipando, desta feita, a vida feliz. No mundo das ideias, a alma vive feliz mediante a contemplação da beleza subsistente. Para o alcance da felicidade, na vida terrena, a alma cria o belo através de imitações da beleza.

A moral ganha ainda maior importância pela sua relação com a moral. Platão assevera que a arte deve subordinar-se à moral. Por consequência, deve ser favorecida só a arte que é útil à educação. A arte que favorece corrupção deve ser condenada e excluída. Por esta razão, Platão condena a tragédia e a comédia porque são formas de arte imitativa que se afastam da verdade (do mundo das ideias) em vez de se aproximarem dela.

Três são as razões que levaram Platão a condenar as artes imitativas:

 

  1. Representam os deuses e heróis com paixões humanas, perdendo respeito;
  2. Não exprimem a ideia original das coisas (é uma imitação imperfeita e, por isso, distante da verdade);
  3. São fundadas nos sentimentos e não na razão. Agita as paixões, provocando o prazer e a dor.

 

A única arte digna de ser cultivada, no entender de Platão, é a música. Esta educa para o belo e forma a alma para a harmonia interior.

Kant diz, na Crítica da Razão Prática, que a razão humana não tem somente a capacidade de conhecer, tem igualmente a capacidade de determinar a vontade para agir moralmente. Portanto, o objetivo da segunda crítica é estudar como é que a razão determina a vontade para agir moralmente. Em Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, Kant atribui às virtudes adjectivos estéticos. São belas e atraentes a compaixão e a condescendência (virtudes presentes no homem de bom coração); é sublime a virtude genuína de um homem justo, de coração nobre.

Na crítica do juízo, Kant diz que um objecto pode ser agradável, belo ou bom. O nosso interesse é captado pelo que nos agrada ou pelo que é bom, mas não pelo que é belo. O belo proporciona-nos uma satisfação desinteressada e livre. Não procuramos o prazer estético, ele acontece-nos inesperadamente. É um prazer que não depende do nosso desejo. Nós somos surpreendidos pelas formas belas. Portanto, é preciso distinguir o estético do ético, cuja separação se manifesta através do interesse, ausente no primeiro e presente no segundo. Todavia, o belo e o bom são análogos, porque:

 

  • agradam imediatamente;
  • são universalmente partilháveis;
  • são inspirados por uma forma (forma de imaginação e forma da lei moral);
  • são livres (a vontade só depende das prescrições da razão).

 

Ponto de vista diferente e contestatário foi apresentado por Beneditto Croce. Este defende que a arte é absolutamente autónoma. Para que a arte seja arte verdadeira deve ser genuína expressão dos sentimentos íntimos do artista.

Segundo Mondin, «para fazer arte verdadeira é preciso expressar aquilo que há em si mesmo» e argumenta que «quem o exprime bem é o artista. Mas o homem e o artista são duas realidades diferentes. Para se ser artista, basta expressar bem os próprios sentimentos, enquanto o homem deve ser também moral, sábio e prático. Portanto, embora não esteja sujeito à moral como artista, o artista está sujeito à moral como homem». Como assevera Croce, «se a arte está aquém da moral, não está do lado de cá nem do lado de lá, mas sob o seu império está o artista enquanto homem, que aos deveres do homem não deve escapar, e a própria arte [...] deve ser considerada como uma missão e exercitada como um sacerdócio».

Portanto, a moralidade do artista é uma realidade imanente em si, como homem. Se o artista observar as normas morais, jamais produzirá obras suceptíveis de serem classificadas como imorais, pois a obra de arte é a expressão do sentimento íntimo do artista.

 

Conclusão

Findo trabalho, após a profunda compilação de matéria necessária para esta abordagem, pôde de uma forma comprimida e clara concluir-se ser é tudo quanto há, ou seja, tudo quanto existe, independentemente do modo como é. A substância é aquilo que é em si e por si, e não em outra coisa; e o acidente é aquilo que ocorre na substância. A substância e os acidentes são as dez categorias aristotélicas do ser correlacionadas. A potência é a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser algo em acto. 

A estética é a ciência do belo. A arte é a representação subjectiva da realidade. A obra de arte deve ser uma representação bela do mundo do artista. As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes rítmicas. Para Kant, a estética e a ética estão separadas pelo interesse presente na última, mas o belo e o bom estão próximos. A obra de arte espelha a sociedade. O artista, enquanto homem, está sujeito à moral.

Por fim, constatou-se que Aristóteles concebe a arte como uma criação especificamente humana. O belo não pode ser desligado do homem, está em nós. Separa todavia a beleza da arte. Muitas vezes a fealdade, o estranho ou o surpreendente converte-se no principal objectivo da criação artística.

 

Bibliografia 

 

BIRIATE, Manuel Mussa, GEQUE, Eduardo R. G., Pré-Universitário – Filosofia 12, 1ª ed. Pearson Moçambique, Lda, Maputo, 2014

ARISTÓTELES, Metafísica, Coimbra. Ed. Atlântida, 1979

CASINI, P., A Filosofia da Natureza, Lisboa, Ed. Presença, 1979 

SARTRE, Jean-Paul, O Existencialismo é um Humanismo, Lisboa, Ed. Presença, 1962

MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia: Problemas, Sistemas, Autores, Obras, São Paulo, Ed. Paulinas, 1981

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