A lógica é uma disciplina da filosofia, cuja estuda “as leis e princípios geris do pensamento correcto”. A lógica é uma ciência que tem por objecto de estudo o pensamento e o discurso válido, ou seja, a lógica é uma “ciência dologos, razão” que procura alcançar a verdade.

O objectivo de estudar a lógica é o de aprender a raciocinar de forma a obter coerência no pensamento, daí a importância de saber argumentar. Argumentar “é justificar uma afirmação ou negação que se faz, ou dar as razões para uma conclusão obtida”, é algo de bastante importância em muitas situações (Mortari, 2001: p.6).

Argumentação é a arte de persuadir, convencer alguém sobre determinada situação, isto é, dar razões para acreditar como verdadeiro a afirmação ou negação de uma ideia. A importância de uma boa argumentação (justificativa), vem do facto que, muita das vezescometemos “erros de raciocínio”, chegando a uma conclusão que simplesmente não decorre da informação disponível. Há contextos nos quais uma afirmação só pode ser aceite como verdadeira se for muito bem justificada (argumentada) (idem: p.6).

No entanto, a argumentação é uma questão de lógica em si, visto que, a lógica estuda os aspectos formais da argumentação, estuda os vários tipos de inferência que ocorrem na argumentação, ajudando a distinguir argumentos correctos dos incorrectos; oferece critérios ou princípios e regras que permite-nos identificar argumentos verdadeiros dos falsos (Chambisse&Nhumaio, 2008: p.8).esses princípios são: principio de identidade (o que é, é; o que não é, não é);o princípio de não contradição (uma coisa não pode ser e não ser, segundo a mesma perspectiva); o princípio do terceiro excluído (uma coisa deve ser ou não ser, não há uma terceira possibilidade).

Igualmente, temos as regras simples de inferência correcta: “se como, não sinto fome”; se tenho malaria, então, tenho febre”. Entretanto, a argumentação é uma questão de intercomunicação(diálogo), tendo em conta que nenhuma pessoa argumenta sozinho. A argumentação é um jogo dialécticoque não implica nenhuma eliminação dos contrários. Quem entra neste jogo deve estar preparado para ganhar sempre, admitindo a possibilidade da outra parte ter argumentos mais valiosos do que os seus. Portanto, ao argumentar é preciso que haja:

  1. A máxima cooperação – prestar informação suficiente sobre a sua argumentação, não fugir às responsabilidades, clarificar os argumentos e dar provas materiais e imateriais.
  2. A máxima da pertinência –falar do essencial sobre o assunto em discussão, não fugir do tema e evitar argumentos falsos.
  3. A máxima da relevância – concentrar-se no que é certo e efectivamente do interesse do tema.

Assim, a lógica constitui um auxiliar indispensável para uma boa argumentação, sendo que argumentar é oferecer razões a favor ou contra uma determinada tese ou conclusão, tendo por finalidade provocar uma adesão das pessoas a essa tese, pelo que é necessário que elas lhes pareça razoável. Deste modo, quanto maior for o nosso conhecimento dar regras lógicas, melhor será a estruturação e maior será acoerência do nosso discurso e maior será a probabilidade de defendermos bem as nossas teses e de persuadirmos e convencermos o auditório.

Lógica do Juízo e Proposição

Juízo “é o actode pensamento susceptível de ser verdadeiro ou falso”. Todo o juízo envolve uma asserção (afirmativa ou falsa), pois só quem afirma ou nega pode exprimir a falsidade ou a verdade (Saraiva, 1972: 36). Igualmente, define-se o juízo como “a operação mental pela qual se afirma ou se nega uma relação entre conceitos”, de forma a obter a verdade ou a falsidade. O pensamento e todas as operações mentais só ganharão existência quando expresso em linguagem verbal. Desta forma, o juízo enquanto operação mental se concretiza numa proposição (numa frase). Assim, a “proposição” é a “expressão verbal do juízo”.

Exemplo: Chove – é um juízo; chove e troveja – é uma conjunção de dois juízos; chove, troveja e faz frio – é uma conjunção de três juízos.

Chama-se proposição a expressão verbal (ou enunciado) do juízo. Os juízos anteriormente explicados, estão expressos, verbalmente, ou seja, em proposição. Todavia, quantos elementos existem num juízo? A resposta é: tantos e quantos necessários para produzir uma asserção. O número é variável, por vezes, basta um elemento: chove; outros intervém dois elementos: António estuda; outros três elementos: Aristóteles estagirita; outros ainda quatro elementos: Aristóteles discípulo de Platão.

Exemplo:

Severino Ngoenha                           é                             um filósofo moçambicano

      1º conceito                     elo de relação; ligação                              2º conceito

Estrutura de um Juízo Predicativo

A lógica tradicional (do tipo aristotélica) pretendeu reduzir esta diversidade de juízos a um modelo único: o juízo predicativo ou juízo de três elementos,da formula S é P. neste esquema de juízo,um atributo é afirmado ou negado de um sujeito, por intermedio de um verbo (o verbo Ser, chamado verbo copulativo ou simplesmentecópula).dito de outra forma, todo o juízo predicativo é constituído por três elementos que são: o Sujeito, a cópula e o predicado.

  1. Sujeito – é o ser a quem atribui-se o predicado, o termo relativamente pelo qual afirma-se ou nega-se algo.
  2. Predicado – é aquilo que se diz do sujeito, podendo ser afirmado ou negado.
  3. Cópula – é o elemento que relaciona o sujeito com o predicado.

Exemplo:

Osbalamensessãoinvejosos.

Quantificador               Sujeito   Cópula              Predicado

Se o sujeito (S) e o predicado (P) representam um conteúdo ou a matéria da proposição, a cópula representa a sua forma, podendo ser afirmativa (é) ou negativa(não é). Portanto, o juízo predicativo corresponde a fase descritiva do conhecimento (atribuição de propriedades). Entretanto, os juízos irregulares:chove, António estuda, Aristóteles estagirita, Aristóteles discípulo de Platão, são redutíveis à forma regular ou canónica:O tempo é chuvoso, António é estudante, Aristóteles é estagirita, Aristóteles foi discípulo de Platão.

Os juízos predicativos podem iniciar ou não por expressões que em si, não são conceitos, mas indicam a quantidade. A tais expressões designam-se por quantificadores.

  1. Todo (s), cujos equivalentes lógicos são os determinantes: (as), (os), nenhum, não existem, não há.
  2. Algum(ns), seus equivalentes: certos, nem todos, uma parte, a maioria, ou forma verbal, existem, há.

Esquema – padrão do Juízo e frases comuns equivalentes

Todo o juízo predicativo deve ser redutível à sua representação esquemática padrão (ou canónica), na sua forma afirmativa ou negativa:

       
   
     
 

 

 

                                                ou

 

A proposiçãoé o enunciado que estabelece uma relação de afirmação ou negação entre termos, podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa. A operação mental que está subjacente à formação da proposição eque permite estabelecer essa relação é o juízo. Somente as frases declarativas é que são proposições. Só os enunciados que atribuem, declaram, ou constatam alguma coisa, sendo susceptíveis de serem verdadeiras ou falsas é que se enquadram na categoria de proposições.

Classificação dos Juízos

Os juízos predicativos podem ser estudados e classificados em função, quer de cada um dos seus três elementos canónicos (S,Cop, P), quer em função da relação e do modo como o sujeito e o predicado o ligam. Isto é, um juízo predicativo pode ser classificado quanto à natureza da cópula (conhecida também como a forma do juízo), quanto à extensão e à compreensão do sujeito, à relação, à modalidade e, por fim, ao conteúdo por ele expresso. Os juízos classificam-se de diferentes maneiras, consoante o ponto de vista em que nos colocamos.

  1. a)Quanto à natureza da cópula ou forma do juízo: analisamos a conveniência ou não conveniência do predicado ao sujeito expresso pela forma afirmativa ou negativa da cópula. Assim, os juízos quanto à natureza podem ser:

Afirmativos – quando o juízo expressa a conveniência entre o sujeito e o predicado.

Exemplos:

Forma padrão de Juízos Afirmativos

Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos

Todos os moçambicanos são africanos

Os moçambicanos são africanos

Qualquer que seja moçambicano é africano

 

Alguns africanos são ricos

 africanos ricos

Certos africanos são ricos

Existem africanos pobres

A maioria dos africanos são pobres

 

Negativos – quando o predicado não convém ao sujeito.

Exemplos:

Forma padrão de Juízos Negativos

Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos

Todos os africanos não são moçambicanos

Nenhum aluno é preguiçoso

Não há (ou não existem) alunos preguiçosos

Os alunos não são preguiçosos

 

Alguns alunosnão sãopreguiçosos

Nem todos os africanos são moçambicanos

Certos africanos não sãomoçambicanos

Uma parte dos africanos não são moçambicanos

 

  1. b)Extensão do Sujeito ou quantidade do juízo:os juízos quanto à extensão do sujeito ou à quantidade classificam-se em:

Universais –são juízos, cujo sujeito é tomado em toda a sua extensão, isto é, referem-se ou aplicam-se a todos os indivíduos da classe considerada. Na sua forma canónica, tais juízos são precedidos de partículas que nos confirmam a quantidade universal (daí a designação de quantificadores universais) como: todo/nenhum ou simplesmente pelo artigo definido o/o.

Exemplo:

Forma padrão de Juízos Universais

Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos

Todos os moçambicanos sãoafricanos

Os moçambicanos são africanos

Não há (ou não existem) alunos preguiçosos

Qualquer que seja moçambicano é africano

 

Nem todos os africanossão ricos

Os estudantes não são preguiçosos

Nenhum aluno é preguiçoso

 

Particulares: são juízos em que o sujeito é tomado ou considerado apenas em uma parte da sua extensão ou dos indivíduos da classe que representa. O sujeito é precedido na forma canónica de quantificadores: alguns, certos, uma parte, a maioria, etc.

Exemplo:

Forma padrão de Juízos Particulares

Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos

Alguns moçambicanos são africanos

 alunos inteligentes

Certos alunos são inteligentes

 

Alguns estudantes não são preguiçosos

 

Existem alunos não empenhados

Uma parte dos alunos gostam de ler

Nem todos os alunos gostam de ler

Certos alunos são faltosos

 

  1. c)Compreensão do Sujeito: fazendo uma reminiscência, na introdução à Lógica I, define-secompressão de um conceito como “o conjunto de características essenciais de um objecto ou classe de objectos”. Entretanto, analisaremos os juízos sob ponto de vista da inclusão ou exclusão do predicado na compreensão. Assim, conforme o predicado esteja ou não incluso na compreensão do sujeito do juízo, o juízo pode ser:

Analítico: juízos em que o predicado faz parte da compreensão do sujeito ou juízos em afirmamos do sujeito um atributo que lhe é essencial. Há uma identidade entre o sujeito e o predicado. Daí apenas limita-se em explicar ou decompor, dividir o sujeito.

Exemplo: o triangulo é um polígono de três ângulos. N.B: aqui o predicado explica, decompõe a ideia já expressa no sujeito.

Sintéticos: são juízos cujo atributo não faz parte da compreensão do sujeito, isto é, o predicado exprime algo acidental que se junta à ideia do sujeito. Exemplo: o quadro da sala é preto. N.B: a ideia expressa pelo predicado é nova e é adicionada à do sujeito.

  1. d)Relação: os juízos podem ser:

Categóricos: juízos formados por afirmação ou negação absoluta, sem reservas. Exemplo: os Países africanos são ricos em recursos naturais.

Hipotéticos: juízos constituídos por uma afirmação ou negação condicional ou disjuntiva. Exemplo: se Moçambique tem recursos naturais, então, é um País africano. Hipotético condicional; - Balama tem ou não tem recursos minerais; hipotético disjuntivo.

  1. e)Modalidade: os juízos podem ser:

Apodítico: o juízo diz-se apodítico quando enuncia uma relação, que não só é verdadeira, mas seria ilógico considerar falsa (duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si).Exemplo: todo circulo é redondo.N.B:o circulo é redondo, seria absurdo ser rectangular.

Assertórios ou contingentes: um juízo diz-se assertório quandoenuncia uma relação que, sendo verdadeira (são 19 horas), podia conceber-se como falsa (é falso que seja 19 horas).

Problemáticos, duvidosos ou possíveis: o juízo diz-se problema se enuncia uma relação possível,presumida como verdadeira, mas não afirmada expressamente como verdadeira.Exemplo: devem ser 19 horas. Talvez ainda chova.

Impossíveis: são juízos em que o predicado não pode convir, ou seja, não pode aplicar-se ao sujeito. Exemplo: todo o carro tem dois pneus. 

 

Bibliografia

CHAMBISSE, Ernesto D; & NHUMAIO, Alcido M.G. Filosofia 12ª classe. 2ª Edição. Maputo: Texto Editores, 2008.

BORGES, José F; PAIVA, Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução à Filosofia 12ª classe. Maputo: Plural Editores, 2015.

SARAIVA, Augusto.  Filosofia: segundo os programas do ensino LicealLisboa, 1972.

MORTARI, Cezar A. Introdução à Lógica. S. Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial do Estado, 2001.