O ESTADO AJ AUA (YAO)

Este grupo étnico e linguístico tem sido designado pelos termos mais díspares: Mujau, Mujano, Hiao, Mudsau, Mujoa, Wahyao, Ayaw, etc. Com o decorrer do tempo foi-se popularizando o nome Ajaua, embora a palavra correcta seja Iao (RITA - FERREIRA, 1982: 89).

O nome Yao, segundo a tradição local, provém de uma montanha, atapetada com capim, mas desprovida de árvores, que se situava entre Mwebe e o Rio Lucheringo. A pa1avra Yao significa um monte sem árvores e sem qualquer tipo de vegetação.

1.1. LOCALIZAÇÃO

O centro do país Yao encontra-se a noroeste de Moçambique, limitado a ocidente pelo rio Lucheringo, a sul pelo Luambala, a oriente pelo rio Lugenda e a norte pelo rio Rovuma.

 

1.2. BASE ECONÓMICA

Até meados do século XVIII, altura em que o comércio do marfim começou a ganhar peso considerável na economia, os ajauas praticavam a agricultura (actividade por excelênccia das mulheres); a pesca e a caça (actividade masculina) e a metalurgia do ferro (particular destaque para o clã A-Chisi, que se especializou no fabrico de instrumentos de trabalho, utensílios domésticos, armamento e objectos de adorno, etc).

A partir do século XIX a base da economia ajaua passa a ser o comércio de escravos. O tráfico de escravos, para além de ter garantido a continuidade de acesso aos produtos importados, introduziu muitos elementos novos no sistema da organização política e social.

1.3. ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL

Até provavelmente meados do século XVIII, os ajaua viviam em pequenas comunidades matrilineares conhecidas por MBUMBA, que estavam geralmente sob a autoridade de um irmão mais velho - o ASYENE MBUMBA - que era simultaneamente o chefe da aldeia.

Tratando-se de comunidades matrilineares - as MBUMBA agrupavam irmãs casadas e os seus maridos, irmãs solteiras, homens solteiros e crianças. Isto acontecia porque com o casamento o homem era obrigado a transferir-se para a povoação da esposa.

As relações de produção e políticas que se estabeleciam entre os membros da MBUMBA baseavam-se nas relações de parentesco. Era como parente que o indivíduo tinha acesso à terra.

O desenvolvimento do comércio do marfim no século XVIII e, sobretudo, do comércio de escravos no século XIX, o exercício e o controlo exclusivo de tarefas técnico-administrativas e mágico-religiosas por um, grupo bastante reduzido de indivíduos contribuiu para o surgimento do Estado centralizado e consequentemente o fortalecimento do poder dos chefes (recorda o papel da penetração mercantil estrangeira). Assim, a partir de 1840/50, surgem grandes Estados como MATACA, MTALICA, KANJILA e JALASÍ, que tinham no comércio de escravos o pilar da sua economia e a fonte da sua dominação como classe.

Os escravos capturados eram distribuídos por três categorias: domésticos, esposas e para a venda.

Das três categorias de cativos, a primeira libertou parcialmente as mulheres livres ajaua da agricultura e de algumas actividades económicas. Ela explica em grande medida o facto de a manutenção das classes dominantes não ter sido garantida pela cobrança de tributos.

A segunda categoria introduziu no sistema de parentesco elementos característicos das sociedades patrilienares: se nas sociedades matrilineares o filho pertence à família da mãe e a sua educação é assegurada pelo tio materno, no caso presente, o filho nascido do casamento de um ajua livre com uma cativa não podia pertencer à família da mãe, nem ser educado pelo irmão mais velho da mãe.

 

Assim, ao invés da predominância das acções militares de conquista e submissão, os chefes Ajaua adaptaram a prática da poligamia como meio de garantir a coesão e a estabilidade dentro das formações políticas. O chefe MATACA, por exemplo, chegou a contrair matrimónio com 600 mulheres, espalhadas por oito povoações do seu Estado.

1.4. IDEOLOGIA

No plano ideológico, a realização de cerimónias mágico-religiosas e a distribuição de amuletos por ocasião da realização de actividades consideradas perigosas (p.e.a caça ao escravo) eram mecanismos que produziam atitudes e comportamentos favoráveis à manutenção e reprodução das classes dirigentes.

Outrossim, o contacto com a costa trouxe aos ajaua novas mudanças. A maior foi a conversão ao islamismo de grandes chefes ajaua (por exemplo Mataca e Mkanjila) e, embora nem todos os ajaua fossem islâmicos, foram identificados como povo onde o Islamismo era sinónimo de ser yao.

1.5. DECADENCIA

Para a decadência deste Estado contribuiram entre outros, os seguintes factores:

  1. a)As lutas pelo controlo das rotas dos escravos entre os macuas e os ajaua;
  2. b)As invasões nguni;

As campanhas de pacificação levadas a cabo por portugueses (a Companhia do Niassa desempenhou importante papel); britânicos e alemães.