Por volta do ano 1250 e 1450, nas regiões entre os rios Zambeze e o Limpopo existiu um povo Bantu denominado Karanga, que era falante da língua Shona. Este povo com o decorrer do tempo tomou um nome, tornou-se em um estado que teve as suas actividades principais económicas e ainda teve uma estrutura política e social.
É neste âmbito que surge a necessidade de se realizar um estudo completo sobre cada aspecto acima destacado, para o efeito de melhor conhecer este povo. Ainda nesta abordagem, irá fazer-se uma síntese sobre a Decadência do Estado do Zimbabwe, incluindo as causas.
Os Estados de Moçambique e a Penetração Mercantil Estrangeira
O Estado de Zimbabwe
Origem
O Estado do Grande Zimbabwe nasceu muito antes da tradição oral que lhe sobreviveu; tudo o que dele sabemos deve-se à investigações arqueológicas ou a uma informação linguística bastante genérica. Os arqueólogos estabeleceram que os povos de língua Shona podem ter sido os responsáveis pelas tradições da Idade do Ferro recente surgidas entre o rio Zambeze e o Limpopo. [Srian M. Fagan]
Grande parte da literatura histórica diz que o estado do Zimbabwe existiu, aproximadamente, entre 1250 e 1450. E tomou o nome de Zimbabwe porque, na capital e noutros centros de poder, os chefes faziam render as suas habitações de amuralhados pedras conhecidos por Madzimbabwe (singular de Zimbabwe).
Nos primeiros séculos da nossa era, os planaltos do Zimbabwe era habitado pelos Karanga, grupo Bantu que falava Shona. Foram estas populações Karanga que fundaram o reino do Zimbabwe, entre os rios Zambeze e Limpopo.
Entre os Karanga do planalto do Zimbabwe desenvolveu-se uma aristocracia no seio das famílias alargadas, clãs e tribos. A população produzia os excedentes e os chefes armazenavam-nos e organizam as tarefas produtivas. Restava-lhes, pois, muito tempo para observar o ciclo da natureza, o que lhes permitia obter conhecimentos acerca do tempo e prazos das sementes. O melhoramento das técnicas agrícolas, com o consequente aumento da produção, permitiu aos chefes afastarem-se das tarefas agrícolas e, com isso, formarem uma administração, um estado.
O Estado de Zimbabwe notabilizou-se pela sua grandeza, onde, para além das habitações dos soberanos nos Madzimbabwe, existiam cerca de 150 outras ruínas na região entre os rios Zambeze e Limpopo. É o caso do Mamyikeni, no actual distrito de Vilanculos, província de Inhambane.
Na capital – conhecida por Grande Zimbabwe – concentrou-se grande parte do poder político e económico, onde vivia o rei, ligado a diversos madzimbabwe (pequenas casas de pedra) regionais onde viviam os chefes provinciais.
No grande Zimbabwe havia vários recintos circundados por pedra na planície e na colina e, igualmente, uma grande “cidade de caniço”.
ACTIVIDADES ECONÓMICAS
As actividades económicas do Estado do Zimbabwe dividem-se entre a agricultura, a pastorícia, o fabrico de ferro e comércio.
Agricultura
Os Bantu desenvolveram, no século I n. e., as técnicas agrícolas cultivam a Mapira e a Mexoeira. Esta actividade era a mais importante de todas e era praticada na sua maioria por mulheres.
O aprimoramento dos métodos usados na agricultura itinerante, em algumas regiões contribuiu para o aumento da população. Esta situação fez com que as populações adoptassem técnicas de desmatamento e de queimadas mais eficientes, que possibilitavam cada vez mais o repouso da terra, isto é, permitia a existência de zonas de cultivo por períodos mais longos entre as sementeiras.
A região que sofria uma grande pressão demográfica era o centro, o Grande Zimbabwe. Várias pessoas afluíam ao Grande Zimbabwe devido à sua prosperidade agrícola, mas isso levou a uma necessidade cada vez maior de espaços de cultivo. E o uso excessivo dos terrenos agrícolas fez com que a população tivesse de procurar novos terrenos, num semi-nomadismo agrícola.
Pastorícia
A presença de ossos de gado bovino nas ruínas do Grande Zimbabwe leva-nos a pensar que a criação de bois, carneiros e cabras era uma actividade dominante no seio dos membros da aristocracia.
Estes vestígios foram encontrados em muito maior quantidade nas ditas ruínas, perto da área residencial da aristocracia e do chefe supremo. Dá a entender que havia criação de animais em milhares de cabeças de gado. E os camponeses, provavelmente, pagavam os seus impostos em cabeças de gado.
O Uso e Fabrico de Ferro
No Grande Zimbabwe os habitantes eram bons conhecedores do uso da tecnologia de ferro, daí o grande desenvolvimento de técnicas de fundição.
Os ferreiros adquiriam privilégios especiais e tornavam-se uma camada social importante e respeitada, pois eram eles que produziam enxadas de cabo curto para o cultivo dos campos, as armas para a defesa e a conquista de terras.
O cobre e o ouro também eram trabalhados, mas sobretudo para fins comerciais e para o uso da aristocracia.
Foram encontradas numerosas minas de extracção de ouro ao longo do planalto do Zimbabwe. Este comércio do ouro, sobretudo com mercadores estrangeiros, fez de Manyikeni um entreposto comercial de grande importância.
No Comércio Interno e Externo
No grande Zimbabwe, faziam-se trocas de produtos entre as populações das várias aldeias. Entre estas populações, trocavam-se essencialmente: cereais, gado, sal, objectos de adorno (missangas e conchas) e instrumentos de ferro.
Com a acentuada presença persa, indiana, chinesa e árabe na costa nos séculos XI e XII, o comércio oceânico intensifica-se e novos produtos são trocados. Com a chegada destes mercadores estrangeiros, o comércio acabou por se tornar a actividade económica mais importante do Estado do Zimbabwe. O comércio era controlado pela aristocracia, a partir do Grande Zimbabwe, a capital do Estado, e serviu para o reforço e consolidação do poder político.
Estado do Zimbabwe Importava:
- Missangas de vidro colorido;
- Porcelanas;
- Louça vidrada e finas garrafas de vidro.
- Esferas fundidas em ouro;
- Missangas de ouro.
A Organização Político-Social
O Estado do Zimbabwe era liderado por um Rei. Abaixo destes estavam os velhos, fundadores das famílias que tinham tarefas importantes.
A exploração das minas era directamente controlada pelos Funcionários do Rei.
A administração das culturas e gado era feita localmente pelos respectivos anciãos.
As classes dominantes deveriam ter um número aproximado dos mil. A demais sociedade Zimbabweana era composta pelos camponeses e exploradores mineiros. Estes constituíam o povo e viviam fora das muralhas.
As crenças mágico-religiosas e práticas ideológicas desempenharam, nesta sociedade, um papel importante. A ideologia mágico-religiosa constituía uma arma fundamental do poder, da coesão social e de aparente imobilidade social.
O rei e os chefes das linhagens imploravam aos antepassados para si e para o seu povo, as chuvas, a saúde, a protecção para a caça e para as viagens. Como elo da cadeia que liga os anciãos mortos aos vivos, o chefe-sacerdote detinha uma função que era uma base do poder.
A Decadência do Estado do Zimbabwe
A Decadência do Estado do Zimbabwe teve várias causas e não foi um processo simples e linear.
A queda deste reino teve na sua origem factores de índole político-militar, económica, natural e social.
CAUSAS
DESCRIÇÃO
Causas Político-Militares
Em 1505, Portugal implantou em Sofala uma autoridade colonial político-militar.
Em 1507, Portugal instaura na ilha de Moçambique uma autoridade semelhante.
Causas Económicas
As minas de ouro começaram a esgotar-se em meados do século XV.
Causa Natural
O rio Save (que atravessa a meio o Estado Zimbabwe) começa a secar.
Causa Social
Agudização de lutas internas pela ânsia de poder e consequente instabilidade social.
A conjugação destes factores fez com que, gradualmente, a partir do início do século XV, o Estado do Zimbabwe começasse a desintegrar-se.
leia também: O Estado Marave
Bibliografia
NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013
SOUTO, Améilia Neves de, Guia Bibliográfico para o Estudante de História de Moçambique, UEM/CEA, Maputo, 1996