Os reinos afro-islâmico da costa

A partir do século X, os mercadores árabes que demandavam as costas de "Sofala" foram difundindo o islão entre as populações costeiras, mas foi apenas após a instalação em Zanzibar dum xeicado dependente do sultanato de Oman, no século XVII, que começaram a organizar-se pequenos estados de organização islâmica.

Na província de Nampula, no norte de Moçambique, formaram-se o "Xeicado de Quitangonha", "Reino de Sancul", "Xeicado de Sangage" e "Sultanato de Angoche".

Com a abolição da escravatura por decreto régio, em 1875, e o seu declínio real, uns dez anos depois, o governo colonial viu-se obrigado a transformar Moçambique de uma colónia para extracção de recursos naturais, num território que devia produzir bens para seu consumo e para exportação para a "metrópole". Essa foi a motivação principal para o estabelecimento duma administração efectiva, embora também pesassem as pressões internacionais decorrentes da Conferência de Berlim e das pretensões territoriais dos britânicos e holandeses.

O sultanato de angoche

Segundo a tradição oral, a origem do Sultanato de Angoche está ligada a fixação Árabe em Angoche de refugiados proveniente de Quiloa, Mussa e Hassane, este último morreu durante a viagem e foi enterrado na Ilha de Mafamane, a sudoeste de Angoche. Porém, Mussa, em visita ao tumulo de Hassane e reconhecendo as potencialidades de Angoche, como um ponto estratégico para o trafico de escravo, instalou Xosa, filho de Hassane como o primeiro Sultão de Angoche.

Com o efeito, Angoche ganhou importância crescente, quando a capital de Mwenemutapa mudou para próximo do Zambeze, abrindo desta feita rotas comerciais, seguindo os rios e seu afluente Mazõe e Luenha. Durante longos anos, Sofala havia sido o entre posto que controlava o comércio com o interior. Porém, com a fixação portuguesa neste posto comercial, em 1505, este posto comercial perde a sua influência a favor de Angoche.

Os árabes-Shahili, comerciantes de longa data nesta região costeira de Moçambique, desviaram a rota do ouro para o seu terminiu, em Angoche, donde continuavam a comercializar o ouro. Por este facto, Angoche seria atraído por Portugueses em 1511, mas sem grandes resultados. Só com a fixação gradual dos portugueses no vale do Zambeze, desde 1530, aliando a rivalidades internas, é que Angoche seria eliminado como escoador de Ouro.

Tirando algumas raras e ligeiras referências de Duarte Bar­bosa ou de Fr. João dos Santos, sem detalhes, apenas encon­tramos entre os antigos escritores referências mais positivas aos inhabacos e inhamandares de Catamoio em Duarte de Lemos, que falando na sua acção e influência política sobre os xeques e populações da costa, entre outras coisas diz: “Dos Mouros de Angoya (Angoche) estam como estaban: danan todo o trato de Çofala. Parece-me pouquo do vosso serviço estar ally aquella ladroeira. E razão tinha o cronista: que a influência do sultanato e seus mujôjos e nobres se exercia perniciosamente por ser o único principado islâmico com existência efectiva na costa e ter recursos importantes de ordem material e relações seguidas com outros centros muçulmanos.

Assim constituíam o obstáculo mais sério para a realização das nossas empresas e conquistas pela oposição que a esta faziam e pelo esforço e reacção que pelo seu proselitismo desenvolviam contra nós, representando indubitavelmente o foco da resistência contra o estabelecimento da nossa autoridade e do nosso predomínio ao longo das praias de Moçambique e mesmo para o interior.

 

Localização Geográfica

O Sultanato de Angoche, localizava-se em Moçambique, na província de Nampula, no distrito de Angoche, tendo como limite geográfico, a norte o distrito de Mogincual, a noroeste o distrito de Namitil e as Sudoeste o distrito de Moma e a oeste o oceano Indico. A posição geográfica do sultanato de Angoche contribuiu muito para a sua expansão política. Localizando-se próximo ao litoral, o sultanato de Angoche era responsável por realizar o comércio de longa distância, controlando as principais rotas comerciais entre o litoral Indico e o interior do continente africano. Os chamados Suahilis de Angoche estabeleceram intercâmbios por meio do Oceano Indico, sobretudo iniciados pelas cidades de Mogadixo, Quiloa, Brava e outras.

O Xeicado de Sancul

O xeicado de sacul surgiu no século XVI com povo provenientes da Ilha de Moçambique ficava situado entre Lumbo e Moginqual, com fácil acesso ao mar.

O poder foi controlado por um sistema de sucessão de linhagem.  Apesar de lealdade do Xeique à coroa, foi assassinado em 1753 por um comandante português durante a campanha contra os macuas, que albergavam os escravos foragidos, o que contrariava os interesses dos traficantes dos portugueses.

Estes incidentes levou os sucessores do Xeique a romperem as relações com os portugueses. No século XIX, dirigentes de sancul traficavam escravos. Todas as tentativas de impedir o trafico foi infrutífera, pois os benefícios se estendiam aos governadores portugueses.

A partir de 1877, verificaram-se mudanças causadas pela igualização de conflitos entre os intervenientes do trafico, tendo culminado com a captura, em 1880 de Makusi Omar, capitão-mor de sancul e traficante de escravos.

A soberania de sancul começou a ser ameaçada nos finais do século XIX, com o inicio da ocupação efectiva portuguesa. Apesar de resistência dirigida por Suali Bin Ibrahimo, em 1896, foi obrigado a seguir uma política moderada a partir de 1899.

O Xeicado de Quitangonha

A formação do xeicado de Quitangonha situa-se no século XVI, por população oriundos da Ilha de Moçambique, entre 1515-1585. Os xeicados foram aliados dos portugueses do século XVI ao século XVIII o que contribuía para manutenção do tráfico marítima. A aliança ficou ameaçada com a chegada dos traficantes franceses em 1755, pois, com os lucros obtidos, os xeiques ganharam autonomia e começaram a ambicionar o controlo do tráfico entre a baia de Nacala até candência, entrando em choque com os restantes traficantes.

A hegemonia do xeique manteve-se ate ao século XIX numa extensão que ia até ao interior macua. Independente dos portugueses, mantinham relações com as Ilhas comores.

Mesmo com a imposição dos decretos de 1836 e 1842, os xeiques mantiveram os tráficos com os franceses, americanos, árabes e swahilis. Por outro, os portugueses demostravam-se incapazes de controlar a situação. O último acto de resistência do xeique decorreu entre 1903/73, período da “ocupação afectiva” portuguesa.

 O Xeicado de Sangage

Desde a sua formação, esteve ligado ao sultanato de angoche. Obteve a autonomia no primeiro quartel do século XIX através de aliança com os portugueses, os xeique de sancul e mercadores baneanas da Ilha de Moçambique provocando hostilidade entre angoche e portugueses. Em 1912, o xeique Mussa Phiri dirigiu uma resistência contra os portugueses, contudo com o avanço da ocupação colonial, Mussa aliou-se a este, passando a cobrar o tributo e participando na campanha colonial contra Farelai.

Mussa-Phiri, mais tarde mobilizou os seus homens e com apoio dos chefes macua do mogicual e de Mogovolas, revoltou-se sem sucesso contra os portugueses. Mussa morre no exílio no timor e a região transformou-se num regulado português.

O tráfico de escravo

O tráfico de escravos era uma das formas de comércio, altamente lucrativa, já exercida pelos mercadores fenícios. Nas sociedades mediterrâneas grega e romana, os escravos constituíam um importante “artigo” comercial. Os indivíduos eram capturados em incursões noutros territórios, nas guerras ou vendidos pela aristocracia tribal. Os seres humanos, incluindo crianças, eram negociados nos mercados como animais ou qualquer outra mercadoria. Em alguns centros de comércio havia mercados especiais de escravos.

Alguns senhores feudais costumavam pagar parte dos seus impostos anuais através da oferta de escravos e tinham igualmente o hábito de os utilizar como ofertas ao soberano ou aos governadores provinciais. Contudo, o escravo nem sempre era uma “coisa” como estava instituído na lei romana, mas sim uma pessoa com direitos e deveres definidos no estatuto do escravo.

Na China, já no I milénio a.C., os escravos tornaram-se um importante objecto de trocas comerciais. Por vezes, o valor dum escravo era inferior ao dum cavalo ou duma junta de bois; cinco escravos custavam tanto como um cavalo; o valor dum escravo equivalia a 20 novelos de seda. No milénio seguinte, eram organizadas expedições aos países dos mares do sul para a captura de escravos, pois o tráfico de escravos ocupava já um importante lugar no comércio externo. Havia um constante mercado de escravos em quase todas as cidades, onde eram negociados como qualquer mercadoria corrente. Eram colocados em cercados juntamente com o gado e aí contados como se tratasse de gado de trabalho. Grupos de escravos acorrentados eram enviados pelos traficantes para centenas de quilómetros de distância.

No I milénio d.C., árabes e beberes entregaram-se a um tráfico de escravos na costa Oriental de África e através do Sara, que perdurou até ao século XIX. Os comerciantes muçulmanos dispunham de grandes mercados de escravos além-fronteiras: na Europa Central e de Leste, na Ásia Central, nas estepes situadas na orla das florestas africanas. Durante os períodos de conquistas, as guerras permitiam a captura de muitos prisioneiros o que facilitava o negócio do tráfico de escravos e o tornava muito lucrativo. O tráfico de escravos prosperou devido à expansão do Islão e do crescimento das relações comerciais. Na Arábia, século XVI, o tráfico de escravos era um negócio importante e florescente. Os escravos eram importados de África e destinados ao trabalho manual pesado como a extracção de pedra e a construção civil, serviços domésticos, etc. Os tributos, que serviam para alimentar as finanças reais, eram pagos com frequência pelo tráfico de escravos. Muitas tribos nómadas desempenharam um papel importante no comércio de escravos a longa distância.

Entre as mercadorias negociadas no norte de África por genoveses, venezianos, espanhóis e portugueses contavam-se os escravos. Para os mercadores dos países marítimos da Europa Ocidental o tráfico de escravos tornou-se a mais lucrativa das empresas, que movia muitos interessados, tornando-se difícil o monopólio. A sua captura era em geral tarefa para os chefes africanos. Os proprietários de navios ou os seus fretadores compravam os negros no melhor mercado e transportavam-nos para a América em condições tais que muitos morriam na viagem. Os navios estavam munidos com um equipamento especial para armazenar a carga humana.

As feitorias, espalhadas pela África Ocidental, serviam de pontos de contacto que permitiam uma rotação mais rápida das frotas, pois os carregamentos de negros já aguardavam aí e chegada dos navios. O comércio de escravos concentrou-se nos grandes portos, particularmente nos que eram considerados livres.

A escravatura praticava-se em África muito antes de 1500. O tráfico de escravos era praticado paralelamente com uma contínua escravatura interna. Entre os africanos havia escravos de “família “ ou de “guerra”, variando de região para região o modo como eram explorados. Após esse ano, o tráfico de escravos é agravado por uma nova dimensão intercontinental: o transporte para as Américas com a sua impressionante história e consequências ainda não completamente avaliadas. O tráfico era quase sempre organizado através de “contratos” entre parceiros comerciais europeus e africanos. O recrutamento era confiado a “contratadores”, que adquiriam este direito mediante o pagamento de licenças. Os europeus não se envolviam directamente na caça aos escravos e preferiam comprá-los aos africanos que se encarregavam de os capturar. Os mercadores europeus permaneciam junto à costa onde os seus parceiros comerciais acorriam para entregar de escravos capturados em guerras ou em ataques organizados, em troca dos mais variados objectos, em geral de pouco valor. O grande desenvolvimento do tráfico de escravos negros, na segunda metade do século XVI, foi impelido pela necessidade mão-de-obra para as plantações tropicais americanas principalmente de cana-de-açúcar e de algodão.

No continente africano, a escravatura desencadeou uma gigantesca movimentação de populações. É de salientar as perniciosas consequências sociais e económicas deste tráfico que privou as populações dos seus membros mais vigorosos e dinâmicos, paralisou o desenvolvimento da actividade produtiva. A procura dum refúgio seguro e a instabilidade verificada entre as populações causou diversos movimentos migratórios a uma escala variável com o tempo e o lugar. Foi, além disso, a maior migração forçada intercontinental de sempre. Tornaram-se destrutivos os efeitos dum círculo vicioso de trocas comerciais, armas de fogo por escravos, e escravos por armas de fogo que seriam usadas na captura de mais escravos e, assim por diante, indefinidamente. Muitos povos ocupam os seus actuais territórios em consequência das deslocações provocadas pelo tráfico de escravos. Desapareceram dos povoados os indivíduos mais jovens, mais vigorosos e sãos. Tratando-se de populações essencialmente agrícolas, a produção e a acumulação de bens alimentares mergulharam num caos generalizado, que destruiu o processo produtivo. O tráfico de escravos instalou a guerra entre as tribos e a violência no interior das próprias tribos. Os chefes do litoral passaram a ver os seus súbditos como uma mercadoria e a guerrearem-se uns aos outros para venderem os seus compatriotas. Os povos africanos eram impotentes perante as armas de fogo dos negreiros europeus. As revoltas eram frequentes, mas selvaticamente reprimidas. É difícil de estimar a amplidão deste tráfico que se manteve durante séculos a uma cadência acelerada.

Portugal conheceu o regime de escravidão através das relações de comércio com mercadores árabes e a transformação dos mouros vencidos na guerra em cativos ou servos. Era comum a troca de prisioneiros mouros por escravos de pele escura, em proporção favorável em quantidade aos portugueses. O apoio da Igreja garantia a exploração tranquila de mão-de-obra escrava em projectos de produção agrícola para exportação, como meio de compensar as despesas com as navegações. Por volta do ano de 1460, começa a era do tráfico de escravos organizado através de acordos directos com os régulos da África Negra, a nível de Estado para Estado. O tráfico de escravos africanos adquiria um carácter de aquisição de força de trabalho em massa para fins de produção e de comercialização através dum novo entreposto africano de compra de escravos e ouro, a Fortaleza de S. Jorge da Mina. O tráfico de escravos africanos, já em moldes comerciais, tornou-se uma fonte de lucros. Com os descobrimentos marítimos, em breve os portugueses se aperceberam de que havia muito a ganhar se, juntamente com outras mercadorias, levassem também escravos, tanto mais que a tentativa de atingir as regiões auríferas não correspondeu às suas expectativas. O comércio de escravos tornou-se rapidamente a principal fonte de lucro. Os pontos de tráfico estendiam-se a toda a costa africana e fazia-se mesmo duma região para outra.

Em Portugal, e depois no Brasil, um tipo especial de exploração de trabalho escravo consistiu no aluguer dos serviços dos escravos a terceiros. Esta sublocação revela a existência dum factor económico pouco estudado, mas que pode explicar a extensão do uso do trabalho escravo mesmo por parte de pessoas de reduzidas posses. Outro tipo de exploração caracterizava-se pelo exercício do comércio ambulante ao serviço dos seus proprietários. A instituição de “negros de ganho” criou a possibilidade de investir economias na compra dum ou mais escravos com o objectivo de explorar comercialmente o seu trabalho e generalizou o emprego de negros cativos em funções destinadas a completar a renda financeira. A queda do preço dos escravos africanos deixava à gente de posses médias a opção de se fazer servir por escravos e às grandes famílias a possibilidade de se darem ao luxo de contratarem trabalhadores livres para uso doméstico.

A separação de goa e Moçambique

Em 19 de Abril de 1752, por decreto-régio do rei D. José I, Goa separa-se de Moçambique sendo nomeado governador e capitão-geral de Moçambique, rios Sena e Sofala D. Francisco de Melo e Castro. Com esta separação, a coroa portuguesa pretendia que Moçambique se subordinasse directamente a Lisboa e não a Goa, como era antes, pois pretendia obter o controlo da actividade comercial em Moçambique. Foi no século XV que começaram a penetração mercantil portuguesa no continente africano com maior intensidade no final deste mesmo século, pela demanda de riquezas existentes no continente africano como ouro, e o marfim, como por exemplo, nos mostra Alberto da Costa e Silva “Os cristãos começaram a conhecer a África Negra a bordo de caravelas com que, a partir da metade do século XV, costearam o continente. Era com os povos costeiros ou próximos ao litoral que o europeu se havia. Em poucas regiões tiveram eles acesso ao interior, de onde vinham os escravos, o marfim e o ouro. Inicialmente os portugueses se fixaram no litoral formando feitorias (fortalezas que serviriam para a segurança do território), em Moçambique, para negociações comerciais e por Moçambique ser uma rota estratégica para a Índia como nos mostra em uma de suas cartas o padre António Fernandes “Pellos anos de 1569, no primeiro governo o vice Rey Dom Luís de Ataíde, mandou o vigário geral da congregação o reverendo padre Frey Francisco de Abreu, dous religiosos para fundar em casa de religião em Mossambique que esta a quinze graus ao Sul da costa da África, grande escalla dos portugueses a essa conhecida pelo ouro, marfim, e escravos que de seu porto saem para o Oriente. 

A resistência no sul de Moçambique

No sul de Moçambique, a resistência teve varias formas tais como:

  • A recusam de pagamentos de imposto, por exemplo, o pagamento de “palhotas” por parte da população.

Os ataques dos guerreiros locais ao posto militares portugueses. Temos vários exemplos de resistência. Na região de Marracuene, próximo dos locais onde se situava o posto militar português de Anjoane.

Os portugueses, face a resistência local, são obrigados a estabelecer aliança com alguns chefes da povoação.   

Matibejane, chefe de zixaxe e Mangunduane, chefe de moamba, recusaram aliar-se aos portugueses e atacaram, em 1894, Lourenço Marques na zona sul, o poder português. Estes vieram a ser derrotados pela tropa de António Enes, enviadas de Portugal, em 1895.

Os portugueses tiveram que resistir por varias vezes aos ataques do chefes locais, alguns fieis, ao imperador Ngungunhane.

Ngungunhane enfrentou com êxito os portugueses em varias batalhas, mas por traição de alguns dos chefes foi preso a 28 de Dezembro de 1895 e deportado para o Arquepelago dos Açores em Portugal.

Resistência no centro de Moçambique

A RENAMO começou suas operações na província de Manica, centro de Moçambique, com André Matsangaíssa, um dissidente da FRELIMO. Matsangaíssa foi morto pelas forças governamentais em Gorongosa no dia 17 de Outubro de 1979, num ataque da RENAMO a uma posição das forças governamentais. A base era conhecida com o nome de "Casa Banana". Depois de uma luta pela sucessão violenta, Afonso Dhlakama tornou-se o novo líder da RENAMO.

Durante a Guerra Civil moçambicana da década de 1980, a RENAMO também recebeu o apoio da África do Sul. Nos Estados Unidos, a CIA e os conservadores fizeram lobby para o apoio à RENAMO, no entanto encontrou-se forte resistência por parte do Departamento de Estado, que disse "não reconhecer ou negociar com a RENAMO". O governo britânico de Margaret Thatcher não enxergava a guerra civil em Moçambique como parte da Guerra Fria, assim a princípio apoiava informalmente a RENAMO. No entanto quando a FRELIMO tomou a atitude de fechar a fronteira para Rodésia, fato que vinha a calhar com os interesses britânicos que naquele momento se punha contra a colónia rebelde (Rodésia), o governo britânico passou a apoiar a FRELIMO, enquanto o governo rodesiano apoiou a RENAMO.

Resistência no norte de Moçambique

Durante muitos anos, a ideia de que a guerra civil que assolou Moçambique era conduzida por um exército mercenário ao serviço de interesses externos foi considerada inquestionável, desconhecendo-se que a Renamo possuía uma base social de apoio rural e que a produção agrícola constituía uma das fontes de financiamento da guerra. Após a independência, o partido-Estado Frelimo provocou uma desestruturação social, económica, política e cultural das sociedades rurais, conduzindo um projecto de desenvolvimento e de construção da nação autoritário e centralizado, que pôs em causa direitos fundamentais de cidadania. A adesão à guerra  de parte da população pode assim ser interpretada como uma tentativa de conquista desses direitos.

Neste trabalho, através de dois estudos de caso contrastantes, pretende-se revelar as estratégias de reprodução social e económica que permitiram a sobrevivência das populações durante o conflito e a posterior reconstrução, mas também as múltiplas formas que a afirmação dos direitos de cidadania pode encobrir.

 

O sul de Moçambique e o trabalho migratório para áfrica de sul

Relações económicas entre 1885 – 1930, a região sofreram uma transformação: a economia era baseada nas relações com RSA, com abertura das minas de Witwatersrand (1886) e a construção de linha férrea.

 Em 1886, o transporte de mercadorias de Transvaal fazia-se por estrada. Foi neste ano que iniciaram as obras de construção da linha férrea, concluída em 1894, facilitando o trafico de mercadorias e de passageiros.

Principais acordos regulamento de 1897

O ano de 1895 marcou o início das campanhas militares no sul e das relações de Moçambique e a RSA, concretizadas um ano depois com o acordo que estabelecia o recrutamento da mão-de-obra em Moçambique. Neste contexto a câmara de minas criou a Rand Native Labour Association (RNLA). Com este órgão, estavam criadas as condições para a acumulação, resultante de redução do salário dos trabalhadores em 20 – 25%.

Depois da guerra em 1900, a indústria foi estruturada e necessitada de mão-de-obra face a esta situação, esboçou um novo plano que condicionava a assinatura do acordo à garantia do uso dos caminhos-de-ferro para a circulação de mercadorias do Rand.

Modus vivendi de 1901

O Modus Vivendi assinado a 18 de Dezembro de 1901 no contexto da guerra Anglo-Boer (1899-1902), visava solucionar a crise de mão-de-obra com que as minas do Transvaal vinham se deparando e foi acordado com o Transvaal sem tomar em consideração os interesses de outras colónias, como o Cabo e o Natal.

Este acordo privilegiava a utilização do porto de L. Marques no intercâmbio comercial de e para o Transval e a produção agrícola Portuguesa em detrimento da produção do Natal e do Estado Livre de Orange que tinham no Transval o seu potencial mercado.

Ao aceitar este acordo o Transval não tinha em vista prejudicar as outras colónias, mas apenas agradar aos Portugueses e conseguir vantagens em relação a mão-de-obra, sua grande necessidade.

Pela primeira vez foi fixado o período dos contratos, que passou a ser de um ano, sem limite de recontrato. Definiu o emolumento de 13 shillings por cada recrutado, para despesas de fiscalização, passaportes, contratos registos, etc...com acréscimo de 6 pence por mês, durante todo o período de recontrato.

Em 1903 com a unificação aduaneira das quatro colónias britânicas na África do Sul (União aduaneira Sul africana), o governo colonial britânico do Transval viu-se obrigado a negociar uma redução parcial das vantagens comercias de Portugal.

No fim das negociações de 1904, foi assinado um “Aditamento ao Modus Vivendi”, em que foi definido que produto da indústria de cada uma das colónias interessadas (Moçambique e Tranval) apenas seriam admitidos, livres de direitos, na outra colónia quando os elementos ou principais partes constituintes de tais produtos fossem originários da colónia exportadora

 

 

A diferença entre o nacionalismo europeia e africana

Como é o conhecimento de todos nós, o nacionalismo europeu é o patriotismo da Europa. Tem relação com o pan-nacionalismo europeu. Não é uma palavra muito bem definida. Há gente que pensa que está relacionado com a União Europeia e as suas instituições mas outros pensam que está relacionado com todo o continente europeu. Esta ideia teria como fim a criação dos Estados Unidos da Europa ou a total ampliação da União Europeia.

São vários os movimentos dentro do espectro político-ideológico que se apropriam do nacionalismo, ora, como elemento programático, ora como forma de propaganda. Nomeadamente, nos finais do século XIX, em Portugal contra o iberismo. Já durante o século XX, o nacionalismo permeou movimentos radicais como o fascismo, o nacional socialismo na Alemanha, o saudosismo e o integralismo no Brasil e em Portugal, especialmente durante o (Estado Novo no Brasil e Estado Novo em Portugal). O nacionalismo é uma ideologia que se pode dizer moderna com antecedentes antigos, com uma definição maior das fronteiras das nações em países: surgiu numa Europa pré-moderna e pós-medieval, a partir da superação da produção e consumo feudais pelo mercado capitalista, com a submissão dos feudos aos estados modernos (ainda absolutistas ou já liberais), com as reformas religiosas protestantes e a contra-reforma católica  – factos históricos estes que permitiram, ou até mais, que produziram o surgimento de culturas diferenciadas por toda a Europa, culturas que, antes, eram conformadas, deformadas e formatadas pelo cristianismo católico, com o apoio da nobreza feudal.

Surgiu como uma ideologia da Revolução Francesa, pois ajudou a convocar soldados mais leais e baratos do que nos mercenários e foi contrária ao domínio imperialista político-cultural do cristianismo católico que se apoiava nos nobres feudais e ajudava a sustentar a superada, limitada e limitante economia feudal, mas também como uma ideologia burguesa, pois as massas camponesas e o pequeno proletariado que também surgia passavam do domínio da nobreza feudal para o da burguesia industrial – e a ideologia dominante em uma sociedade é a ideologia das classes dominantes.

Após a definitiva vitória político-cultural dos burgueses sobre a nobreza feudal – a qual foi submetida pela destruição ou pela absorção pela cultura e pela política burguesa – foi parcial e progressivamente deixado para trás, como uma ideologia que teria sido importante, mas que já não seria mais do que uma lembrança histórica.

O nacionalismo ressurge nas colônias europeias do Novo Mundo, nas Américas, e principalmente na América Latina, antes mesmo do surgimento da ideologia comunista européia, como um renovado nacionalismo, um "nacionalismo revolucionário" já com alguns elementos socializantesSimón Bolívar foi o líder maior desse nacionalismo revolucionário latino-americano, ao lado de figuras como Tupac AmaruSan Martín e José Artigas.

Ressurge na Europa, pouco antes do surgimento da ideologia comunista, como um outro nacionalismo, como um nacionalismo revolucionário socializante, ou até mesmo socialista, e anti-imperialista, contrário ao imperialismo europeu, o qual, além de explorar as colónias americanas, asiáticas e africanas, explorava ainda as nações europeias mais pobres; Giuseppe Mazzini foi o líder maior desse nacionalismo revolucionário na Europa.

O nacionalismo revolucionário europeu, como uma ideologia anti-imperialista, também influenciou o pensamento dos latino-americanos que souberam apreender dos europeus aquilo que fosse interessante e útil, desenvolvendo, no Novo Mundo, uma prática e uma luta anticolonialista, a qual se traduziu na ação e no discurso de homens como Tiradentes, San Martín e Giuseppe Garibaldi.