Ao longo da história tenta-se explicar as causas e os factores que influíram para que ocorresse a partilha da África ao final do século XIX e inicio do XX, neste contexto iniciaremos por apresentar as diferentes teorias a respeito das causas da partilha da África

Teoria económica

A princípio ninguém se opunha a ideia do carácter económico para a explicação da expansão imperialista, mesmo entre os especialistas não-marxistas. As origens teóricas desta noção surgem em 1900 quando Rosa Luxemburgo apresenta o imperialismo como último estágio do capitalismo. A clássica forma desta teoria está contida na afirmação de John Hobson:

a superprodução, os excedentes de capital e o sub-consumo dos países industrializados levaram-nos a colocar uma parte crescente de seus económicos fora de sua esfera política actual e a aplicar activamente uma estratégia de expansão política com vistas a se apossar de novos territórios” (27).

Para Hobson esta seria a raiz económica do imperialismo, e mesmo com a actuação de outras forças, e apesar delas, a decisão final ficaria com o poder financeiro.

Lenine salientava que o novo imperialismo caracterizava-se pela transição de um capitalismo de orientação “pré-monopolista”, no qual predominava a livre concorrência e que prosperava exportando mercadorias, para o estágio do capitalismo “monopolista”, em que o avanço depende da exportação de capitais, e intimamente ligado a intensificação das lutas pela partilha do mundo.

Para Uzoigwe(2010), os Nacionalistas, revolucionários do terceiro mundo, uniram-se a numerosos especialistas marxistas, na aceitação do imperialismo como resultado de uma exploração económica descarada. Muito embora nem Lenine nem Hobson tenham-se ocupado do caso específico da África, não resta dúvidas de que suas observações contribuíram na análise da história da África. Não podemos descartar o factor económico da partilha, mas, não podemos reduzi-la a este único factor.

As Teorias psicológicas

As chamadas teorias psicológicas estão divididas aqui em: Darwinismo social, Cristianismo evangélico e Atavismo social. Basicamente estas teorias apontam na direcção de uma superioridade da “raça branca” em relação ao africano, o que de certa forma justificaria a colonização.

a) Darwinismo social

Tendo como fonte de inspiração o livro “A origem das espécies por meio da selecção natural, ou a conservação das raças favorecidas na luta pela vida”, escrito por Darwin e publicado em 1859. Hobson apud in Uzoigwe(2010) afirma que:

“Os pós-darwinianos ficaram, portanto, encantados: iam justificar a conquista do que eles chamavam de “raças sujeitas” , ou “raças não evoluídas”, pela “raça superior” , invocando o processo inelutável da “selecção natural”, em que o forte domina o fraco na luta pela existência. Pregando que “a força prima sobre o direito”, eles achavam que a partilha da África punha em relevo esse processo natural e inevitável”.

Os pós-darwinistas, fizeram suas análises para justificar a partilha como algo natural, pois era destino da “raça superior” conquistar e dominar as chamadas “raças não evoluídas”.

b) Cristianismo evangélico

segundo Uzoigwe(2010), para o cristianismo evangélico a teoria de Darwin representava uma grande heresia, muito embora discretamente aceitasse as implicações racistas da obra. As conotações racistas do cristianismo evangélico ficavam encobertas por “zelo humanitário” e “filantropia”, ideias muito disseminadas entre os governantes europeus no período da partilha e colonização da África.

Darwin apud em Kizerbo

Sustentava -se, assim, que a partilha da África se devia, em parte não desprezí- vel, a um impulso “missionário”, em sentido lato, e humanitário, com o objectivo de “regenerar” os povos africanos”.

Apoiar desta forma a necessidade de “regenerar” os povos africanos. Apesar da provável participação de missionários nos preparativos para a colonização da África, apenas este factor não se sustenta como uma teoria geral da acção imperialista na África, haja visto que esta teoria é limitada e não contemplaria uma análise por toda África.

c) Atavismo social

Joseph Submeter foi o primeiro a explicar o imperialismo em termos sociológicos, para ele os factores psicológicos superam os factores económicos na explicação da colonização da África. Segundo Shumpeter, o desejo natural do homem em conquistar e subjugar outro homem, estava intimamente ligado ao processo imperialista da África. A expressão atavismo social é relacionada por uma manifestação de uma regressão aos instintos políticos e sociais do homem primitivo. Shumpeter defende que o capitalismo é anti-imperialista, e que por isto mesmo a teoria económica deveria ser descartada como possibilidade de análise da colonização.

As teorias psicológicas, podem sim conter verdades, que ajudam a compreender a partilha da África, no entanto, não conseguem explicar porque esta ocorreu neste exacto momento, e não em outro momento qualquer. Apesar de não dar conta de uma explicação do porque da partilha, fornece elementos na direcção de explicar porque a partilha foi possível e até considerada desejável.

As Teorias diplomáticas

Oferecem uma explicação puramente política para a partilha da África. É talvez a mais comummente aceita. Para analisá-las dividiremos em: “prestígio nacional”, ‘o equilíbrio de forças” e a “estratégia global”.

a) Prestígio nacional

Carlton Hayes, defende que o novo imperialismo era um fenómeno nacionalista. E que os defensores do imperialismo possuíam sede ardente de reconhecimento e prestigio nacional, assim resumido por Hayes apud in Hobson, 2010:

“A França procurava uma compensação para as perdas na Europa com ganhos no ultramar. O Reino Unido aspirava compensar seu isolamento na europa engrandecendo e exaltando o império britânico. A Rússia, bloqueada nos Balcãs, voltava-se de novo para a Ásia. Quanto a Alemanha e a Itália, queriam mostrar ao mundo que tinham direito de realçar seu prestígio, obtido à força na Europa por façanhas imperiais em outros continentes. As potências de menor importância, que não tinham prestígio a defender, lá conseguiram viver sem se lançarem na aventura imperialista, a não ser Portugal e Holanda, que demonstraram renovado interesse pelos impérios que já possuíam, esta última principalmente, administrando o seu com redobrado vigor.” (29).

O novo imperialismo era um fenómeno nacionalista e que seus defensores tinham sede ardente de prestígio nacional. Tendo consolidado e redistribuído as cartas diplomáticas no seu continente, os dirigentes europeus eram propelidos por uma força obscura, atávica, que se exprimia por uma reacção psicológica, um desejo ardente de manter ou de restaurar o prestígio nacional.

b) Equilíbrio de forças

H. Hinsley apud em Hobson (2010), destaca que o desejo de paz e de estabilidade europeu foi a principal causa da partilha da África. Segundo Hinsley a partir do Congresso de Berlim, as nações europeias estiveram a Beira de um conflito generalizado, que somente não ocorreu por habilidade dos estadistas. No entanto, havia um crescente conflito de interesses na África, que ameaçava a paz na Europa, portanto, segundo Hinsley, não havia outra forma de manter a paz e a estabilidade europeia senão com a partilha da África.

c) Estratégia Global

Se pensarmos em uma frase que resumisse a ideia da estratégia global poderíamos dizer que: “A grande responsabilidade pela partilha da África é dos próprios africanos.” A chamada Estratégia Global acendeu entre os especialistas em história da África reacções negativas, no entanto, foi irresistível entre historiadores não africanistas e mesmo junto ao grande público, mas, uma análise mais profunda desta tese torna difícil sua aceitação.

Os grandes defensores desta teoria, Ronald Robinson e John Gallagher, atribuem a responsabilidade da partilha aos movimentos “protonacionalistas” na África, que passaram a ameaçar os interesses estratégicos globais das nações europeias. Estas “lutas românticas”, segundo os autores, teriam culminado por “forçar” os estadistas europeus a partilhar a África, mesmo contra sua própria vontade, em defesa dos interesses de suas nações no âmbito global.

 

Teoria da Dimensão africana

Esta teoria admitia superficialmente os motivos económicos da partilha, mas não como elemento principal. Nos anos de 1930, George Hardy, especialista em História colonial francesa, demonstrou a importância dos factores africanos locais da partilha, tratando a África como uma unidade histórica, tal como Keltie apud in Kizerbo 2010 afirma que:

“Embora a causa imediata da partilha fossem as rivalidades económicas entre os países industrializados da Europa, ela constituía ao mesmo tempo uma fase determinante nas relações de longa data entre a Europa e a África. Hardy julgava que a resistência africana à crescente influência europeia precipitou a conquista efectiva, tal como as rivalidades comerciais cada vez mais exacerbadas das nações industrializadas levaram à partilha” (30).

Tratar a África apenas no quadro ampliado da Europa é um erro grave, estaríamos de certa forma, negando a existência de “vida inteligente” no continente africano. É necessário examinar os motivos da partilha do ponto de vista das sociedades africanas. Uzoigwe acredita que as teorias eurocêntricas que explicam a partilha completam-se com a teoria da dimensão africana, rejeita, no entanto, a ideia de que a conquista do continente africano era inevitável, para ele existiu um processo que iniciou-se bem antes do século XIX, e que os factores económicos foram vitais na tomada de decisão da conquista e partilha. Precipitados é bem verdade, pelas resistências africanas a invasão crescentes executadas pela Europa, o que teria militarizado o processo de ocupação.

 

Bibliografia consultada

COSTA, Emília Viotti da. A abolição do tráfico dos escravos. 8ºed, e Amplver – São Paulo: Editora UNESP, 2008.COSTA, Mariete da Conceição Pereira: A Conferência de Berlim de 1884/1885 – Realidades e Consequências históricas verdadeiras, Lubango, (trabalho de fim de curso para obtenção   de licenciatura em Ciências da Educação, opção história), 1989;https//mamapress.files.wordpress.com;HOBSON, J. A. A Evolução do Capitalismo Moderno. São Paulo: Nova Cultural, 1985;

LÊNIN, Vladimir I. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global Editora, 1982;LUXEMBURG, Rosa A acumulação do capital: estudo sobre a interpretação económica do Imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1976;M´BOKOLO, Elikia: “África Negra: História e Civilizações do século XIX aos nossos dias. Vol. II, 2ª Ed, Editora Calibre, 2007

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo, DIFEL. 7. Ed, 1982;SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984;SERRANO, Franklin. Relações de Poder e a Política Macroeconómica Americana, de Bretton Woods ao Padrão Dólar Flexível. In: Fiori, J.L. org. O Poder Americano.         Petrópolis:       Vozes, 2004;UZOIGWE Godfrey N. “Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral”. In: BOAHEN, Albert Adu.  África sob dominação colonial,1880-1935. Brasília, UNESCO, 2010.