A abolição do sistema prazeiro pelos decretos régios de 1832 e 1854 criou condição para a emergência dos Estados Militares do Vale de Zambeze que se dedicaram fundamental ao tráfico de escravos, mesmo após a abolição oficial da escravatura em1836 e mais tarde em 1842. Também ouve o fim do sistema politico s região da Zambézia, criou-se um Vazio de Poder que foi sendo preenchido por vários estados emergentes e a decadência de muitos estados ou centros de poder económico naquela região.

Origem e Formação

Estes estados começam a surgir entre 1820 e 1860, quando decide-se criar bases para uma restauração do poder económico e politico do vale do Zambeze. Dessa reestruturação e dos escombros dos antigos estados e chefaturas do vale, originam os estados militar uma versão actualizada complexa e amplificada dos antigos prazos.

Os Estados militares

A expressão Estados militares é um termo usado para captar a enorme militarização da empresa de caça e uso de escravo com sua fortificação-mãe (Aringas), fortificações outras secundárias, que possuíam exércitos militares de cativos chamados (Achicundas), palavra originária do verbo Shona que significa (Kukunda), o que significa vencer, os tais eram armados de mosquetes e com espingardas de carregar na boca, estes estados militares viviam essencialmente do comércio de escravos e em menor escala do comércio de marfim.   

Principais estados de vale de Zambeze

Estado de Macanga

Estado de Macanga: situado a norte de Tete, fundado por Gonçalo Caetano Pereira. Que tinha alcunha de (Dombo-Dombo), que significava terror, emigrou de Goa por volta de 1770, comerciou marfim e escravos a norte de Tete, e chegou a controlar um centro produtor de ouro na mesma área. Teve filhos, igualmente mercadores de escravos e de marfim. Um dos filhos ajudou o Phiri Undi nos finais do século XVIII a tentar restabelecer a hegemonia política que perdera no Estado Cheua, enviando-lhe um exército de A-Chicunda e grandes quantidades de munições, que contribuíram para o Undi debelar varias rebeliões dinásticas.

A partir de 1840, a dinastia do Caetano Pereira entra em conflito aberto com o Governo Português em Tete, durante os reinados de Pedro Caetano Pereira, o chamado Choutama, que veio morrer em 1849 e de Chissaca (1849/1859). Os Caetano Pereira ocuparam uma área que anteriormente não fazia parte dos prazos.

Estado de Massangano

Estado de Massangano: estava situado a sul da confluência dos rios Luenha e Zambeze. O mesmo território incluía o vale do rio Muira a sudoeste de Tambara, As terras arrendadas em 1849 por Joaquim da Cruz, (alcunhado Nhaúde que significa aranha). Nhaúde neto de um oficial português de origem chinesa fez construir a sua oringa principal em Massangano com receio dos ataques dos Nguni. Eesa fortificacao mãe passou a servir para impedir o trânsito dos comerciantes entre Tete e Quelimane ou faze-lo funcional sob pesadas taxas de trânsito e como base de ataque ao barue. O Governo português falhou em varias tentativas militares que empreendeu para conquistar e destruir Massangano, particularmente no reinado de António Vicente da Cruz, Conhecido por Bonga que significa Gato Bravo, que governou de 1855 á 1879. E em 1888, os portugueses conseguiram conquistar Massangano, com a facilitação pelo facto de Barué e o território vizinho Massangano dependerem de Manuel António de Souza que veio de Goia cerca de 1853, e se fixou primeiro em Sena.

Estado de Gorongosa

Estado de Gorongosa: fundado em 1855 por Manuel António de Sousa “Gouveia”. Dominava o sul de Zambeze entre Sena e a região de Gaza ocupada pelos Nguni. O seu crescimento e a expansão do seu domínio deveu se, sobre tudo a estabilidade e fluidez no interior da Zambézia.

Estado de Massiguir

Massiguire: Tinha como líder Paulo Mariamo Vaz dos Anjos e Fernando Vaz dos Anjos. O seu poder estendia-se desde ao leste do rio Chire dominado território a volta de Macarabula.

Kanyemba e Matakenya

O estado de Canhemba e Mataquenha: Abrangiam a região a volta do Zumbo, as literaturas referem que estes estados foram fundados por Guengue (Dona Júlia da Cruz). As actividades de Kanyemba eram o tráfico de escravos e pilhagem, muito para lá do local da actual barragem de Kariba. Mataquenya, liderado por José de Araújo Lobo, por cognome Matakenya, era um zeloso colaborador e passando algum em 1878 foi nomeado Capitão-mor do Zumbo.

Maganja da Costa

estado de Maganja da costa: foi fundado em 1862-1898, por irmãos Bonifácio Alves da silva. Edificaram a sua principal fortalesa em Maganja da Costa e reuniram o seu respectivo exército Chicunda. O impressionante exercita dos irmãos Alves da Silva eram composto por ensacas de duzentos e cinquenta homens de cada um, tendo estes à frente um capitão.  

Estado de Makololo

Estado de Makololo: fundado por volta de 1858 no baixo Chire, por carregadores de Livingstone. Entre 1867 e 1870, um pequeno grupo de Makololos (imigrados com tradições guerreiras, chegados a região dos Losi como guias e carregadores ao serviço de David Livingstone) tomou o poder, porque tinha armas, mas sobre tudo porque soube explorar os caos provocado pelas razias e pelas consequências da seca para recrutar seguidores entre os Maganja e os refugiados de origem Yao. Foi este o início de reconstrução social e produtiva que permitiu a reintegração da região no comércio legal.

Características gerais dos estados

As estruturas organizacionais possuíam fortalezas armadas, grandes exércitos de Chicundas e um grande arsenal de armas modernas.

A sua progressiva africanização, o que não é provavelmente dissociável de uma estratégica política visando diluir a distinção entre intrusos e súbditos locais.

Estrutura social

Face a estrutura social desses estados era, no fundo, a mesma com a dos antigos Prazos onde os camponeses das mushas eram forçados a dar com regularidade uma renda em género diversos como produtos: mel de abelha, cereais, marfim. Este imposto denominava-se mussoco e constituíam reservatório natural de onde a aristocracia dos estados militares retirava os escravos para os mercados Brasileiros e Cubanos.

O controlo dos camponeses estava a cargo dos antigos Mambos e Fumos independentes. Vigiados pelos Chuanga, Cativos que faziam o papel de “inspectores administrativos e fiscais”. Policiando nomeadamente a entrega do mussoco. As quantidades que cada musha devia entregar como renda eram controladas pólos nós de uma corda.

Estrutura económica

A economia dos estados militares do vale de Zambeze baseava-se na comercialização dos escravos, ou por outras, na caça do homem pelo homem, assim como a pratica de agricultura onde os camponeses eram obrigados a pagar um tributo em géneros diversos como, (cereais, mel, marfim), chamados mussoco.

Factores da decadência dos estados

Entre 1892-1902, processa-se a destruturação dos estados militares devido aos seguintes factores:

Lutas entre próprios estados e entre estes os portugueses no séc: XIX, conhecidas como “guerras do Zambeze”, que conheceram 3 fases:

1ª Fase: entre (1846-1862), neste período, Pedro Caetano Pereira- primeiro luta com as autoridades de Tete pelo controlo das terras a norte do Zambeze e depois com António Vicente da Cruz pelo controlo do próprio rio.

2ª Fase: entre (1880-1892), foi a mais complexa pois a Zambézia encontrava-se sob fortes pressões internacionais como também reformadores colónias de poderes europeus e dos estados africanos independentes como Barué, chefaturas, Shona, Macuas e Nguni. Os muzungos encontravam-se perante uma escolha, entre colaborar e resistir aos portugueses.

3ª Fase: inicia com Manuel António de Sousa a ocupar Barué em 1880 e quebrando o levante armado de Massingir.

A intensificação da competição entre os poderes imperialistas europeus durante o período de luta por África, puseram em causa um conflito inevitável com os estados militares.

O declínio dos estados secundários inicia quando Portugal congrega grandes reforços militares e enceta em 1886, um ano depois do término da Conferência de Congo-Berlim, a “ocupação efectiva” de Moçambique, principiando justamente pelos poderosos Estados militares do vale do Zambeze.

 

Bibliografia

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GWEMBE, Eusébio A. P. A decadência dos estados militares no vale do Zambeze, realizado no âmbito da disciplina de história de Moçambique, Nampula, 2002.

NEWITT, Malym. História de Moçambique. Publicações Europa-América, 1997.

RECAMA, Dionísio. Calisto. História de Moçambique, de África e Universal. Plural editore. LDA, Maputo-2004.

SOUTO, Amélia Neves. Guia Bibliográfico para o estudante de História de Moçambique. U.E.M. Maputo.