Como toda ciência, a fitopatologia começou com o objectivo de organizar os conhecimentos obtidos na prática.

Fitopatologia é ciência que estuda as doenças de plantas em todos os seus aspectos: diagnose, sintomatologia (sintomas e sinais), epidemiologia, etiologia, controlo.

A palavra fitopatologia é de origem grega (phyton = planta + pathos = doença + logos = estudo).

A fitopatologia estuda as doenças causadas por fungos, bactérias, fitoplasmas, vírus, viróides e, ainda podem ser incluídos:

1- Os organismos e condições ambientais que causam doenças as plantas.

2- Os mecanismos mediante os quais os agentes patogénicos e os factores ambientais induzem a ocorrência de uma determinada doença.

3- As interacções que se estabelecem entre os agentes causadores da doença (patogenos) e a planta doente (hospedeiro).

4- Os métodos de prevenção ou controle de doenças.

A fitopatológica usa os conhecimentos básicos e técnicas das ciências tradicionais como botânica, micologia, bacteriologia, virologia, anatomia, fisiologia vegetal, genética, bioquímica, ciências do solo, bem como as mais modernas como biotecnologia e informática.

A importância desta ciência é muito grande porque trata de assuntos relacionados principalmente com a agricultura que fornece os alimentos e outros produtos necessários para a sobrevivência da humanidade. Além desse factor básico, economicamente sua importância vem aumentando porque movimenta milhões de dólares em indústrias de defensivos agrícolas, “agrobusiness”.  Desde o início da agricultura já havia preocupação com as perdas e conseqüentemente com as doenças de plantas. Essas perdas levam a fome nas comunidades e, portanto causam problemas sociais e econômicos.

A história da fitopatologia 

As doenças de plantas são conhecidas há muito tempo, praticamente desde o início da agricultura. Considera-se que, como ciência, seu início foi apenas no século XIX, em1861 quando De Bary demonstrou que a causa da doença requeima (míldio) da batata era um fungo, Phytophthora infestans .

A história da fitopatologia, normalmente é apresentada em fases que acompanham o desenvolvimento da agricultura e do homem. Didacticamente, o histórico é separado em períodos de acordo com o enfoque principal para a causa e efeito, ou seja, o patogeno, as condições ambientes, a epidemiologia.

As referências mais antigas sobre doenças de plantas podem ser encontradas na Bíblia e, sempre eram atribuídas a causas místicas. Doenças em culturas que constituíam a base da alimentação humana como videiras, oliveiras, cereais, figueiras são as que se destacam. Não há dúvidas que a Bíblia é um repositório das informações mais antigas sobre as doenças de plantas.

Os hebreus e gregos, na antiguidade tiveram tantos problemas com as doenças que elas eram motivos de estudo de filósofos. O filósofo grego Teofrasto (372- 287 A.C.) foi o primeiro estudioso e, o primeiro a escrever sobre doenças de árvores, cereais e legumes.

Entre outras coisas observou que plantas doentes geralmente eram mais afectadas em lados mais baixos que no alto das colinas e, algumas doenças como as ferrugens eram mais comum nos cereais que em legumes ou videiras. Os romanos, também grandes agricultores fizeram observações interessantes sobre doenças, principalmente a ferrugem do trigo e de outros cereais.

Virgílio, Horácio, Plínio e Ovídio, grandes filósofos da antiguidade, escreveram sobre o tema deixando informações precisas sobre o assunto. Plínio e Columella, considerados agrónomos da antiguidade, apresentaram os melhores relatos sobre fitomoléstias (doenças de plantas)

Durante a idade média (476 a 1453) as referências sobre doenças de plantas são esparsas, sendo citadas como as melhores, as deixadas pelos árabes radicados na Espanha Moura, onde se publicou, no século X, um catálogo das doenças de plantas principalmente dedicado às árvores frutíferas e videira. Com o desenvolvimento da Botânica e Micologia nos séculos seguintes, encontram- se relatos bastante exactos sobre sintomas e até mesmo condições do ambiente que favoreceriam o desenvolvimento de doenças.

Divisão histórica da fitopatologia 

A história da fitopatologia pode ser dividida em vários períodos, considerando-se neste caso a relação causa – efeito. Essa divisão, adoptada por GALLI e CARVALHO (1978) e BERGAMIN FILHO e KIMATI (1995), considera o histórico dividido em período místico, predisposição, etiológico, ecológico.

Período místico 

Normalmente, considera-se este período desde a Remota Antiguidade até o início do século XIX. Caracteriza-se por uma ausência de explicação racional para as doenças que eram vistas como causadas por deuses irados para castigar o homem. No entanto, muitas referências sobre influência de condições climáticas já são encontradas. No final deste período alguns botânicos apresentaram descrições minuciosas das doenças com base na sua sintomatologia e micologistas chamavam a atenção para a associação entre plantas e fungos. Destacam-se neste período o trabalho de Tillet (1714-1791) onde atribuía a um fungo a doença chamada cárie do trigo e os estudos de Giovani Targioni-Tozetti (1767) que defendiam a ideia de que as ferrugens e carvões eram causados por fungos que cresciam debaixo da epiderme das plantas. Durante esta época predominavam as teorias da geração espontânea e da perpetuidade das espécies proposta por Lineu quando da apresentação de seu sistema de classificação e nomenclatura binomial. Assim, a ocorrência de fungos em associação com plantas doentes era explicada pela teoria da geração espontânea.

Período de Predisposição 

Iniciado no princípio do século XIX, este período caracterizou-se pela catalogação de fungos em associação com plantas doentes. Desta época é destacado o trabalho do suíço Prèvost publicado na França, em 1807, onde apresentava o fungo Tilletia carie como responsável pela cárie do trigo, confirmando as ideias de Tillet propostas em 1755. Muitas restrições, entretanto, foram feitas a este trabalho.

O nome de Franz Unger, botânico alemão, apareceu neste período pela sua teoria (1833) em que descrevia como distúrbios funcionais decorrentes de

desordens nutricionais, que predispunham os tecidos da planta a produzirem fungos, o que estava de acordo com a teoria da geração espontânea. Embora com falhas, o trabalho de Unger apresenta o mérito de relacionar doenças com o ambiente. A descrição de muitos parasitas importantes como os pertencentes às Uredinales (ferrugens), Ustilaginales (carvões) e Erysiphales (oídios) foram feitas durante este período.

Período etiológico 

O período etiológico foi iniciado com o trabalho de De Bary, em 1861, quando Conseguiu provas científicas de que a doença Requeima (milidio) da batata era causada por um fungo, Phytophthora infestans . Neste período predominou relatos e descrições da maior parte das doenças de plantas.

De Bary demonstrou ainda o fenômeno do heteroicismo em ferrugem, estabelecendo o nexo entre Aecidium berberidis e Puccinia graminis, como sendo uma única espécie e que passava fases distintas em hospedeiros diferentes.

Em1870, o cientista alemão DRAENERT constatou no Nordeste do Brasil, a primeira bacteriose chamada de gomose bacilar da cana-de-açúcar. Esse relato, porém, por não ter sido publicado em um veículo de divulgação científica (Foi publicado somente no Jornal da Bahia) carece de valor para ciência, e foi atribuído a BURRIL a notícia da primeira bacteriose de plantas em 1876.

Fatos marcantes desta época foram a destruição da teoria da geração espontânea por Pasteur em 1860; o estabelecimento dos Postulados de Koch; a apresentação da teoria da Evolução de Darwin; a descrição de doenças importantes como oídios, míldios, ferrugens e carvões; o relato da primeira bacteriose de plantas sobre pereiras feito por Burril em 1876; a verificação do carácter infeccioso das viroses por Mayer, em 1886 e por Beijerinck em 1896;  O aparecimento do primeiro fungicida eficiente no controle de doenças de plantas, a calda bordalesa, apresentada por Millardet em 1882.

É considerado ainda que neste período, a fitopatologia se iniciou como ciência e De Bary é considerado como o verdadeiro consolidador da Escola Patogenista (patologia vegetal).

Período Ecológico 

A importância dos factores ecológicos foi reconhecida neste período, sendo o livro “Handbook of Plant diseases” de Sorauer, publicado em 1874, considerado um divisor deste período com o anterior. Sorauer apresentava as doenças de

causa parasitária e não parasitária e reconheceu pela primeira vez a importância dos factores ecológicos.  Esta fase se caracterizou pelo reconhecimento da importância vital do meio ambiente na manifestação da doença, agindo tanto sobre a planta como sobre o patogeno. Foram conduzidos estudos minuciosos sobre os mais variados factores do meio (climáticos, edáficos, nutricionais, sazonais). Foram iniciados estudos sobre epidemiologia, sobrevivência do patogeno, disseminação, penetração, condições predisponentes, ciclo biológico, resistência e predisposição das espécies vegetais aos diferentes patógenos, bem como os estudos correlatos sobre genética e melhoramento. Nesta época surgiu também os fungicidas mercuriais orgânicos (1913) para tratamento de sementes, os fungicidas orgânicos do grupo tiocarbamatos (1934) e na década de 1960, os fungicidas sistémicos.

Período actual  

Um período que pode ser chamado de fisiológico começou na década de 1940 e Continuou durante os anos 50 tendo como característica os estudos sobre a fisiologia de fungos, de plantas, progresso da doença em condições de campo, ou seja, relacionavam-se com a interacção entre planta e patogeno. Muitos trabalhos sobre toxinas, enzimas e demais metabólitos foram feitos e abriram novas perspectivas à bioquímica em fitopatologia.

Também neste período a epidemiologia tornou-se importante e desenvolveu seus conceitos e teorias. Finalmente, com o surgimento da biotecnologia na última década do século XX, BERGAMIN FILHO e KIMATI (1995), terminam o Histórico da fitopatologia dizendo que o tempo se encarregaria de dizer se um novo período, o período biotecnológico, estava se iniciando. Com certeza, actualmente, a biotecnologia e a engenharia genética estão presentes em grande parte dos estudos de fitopatologia.