Os processos de apropriação dos espaços para o turismo trazem implícito um complexo jogo de variáveis originado a partir da lógica de cada um dos seus agentes produtores e das combinações entre aquelas lógicas.
A combinação das acções e interacções de todos os agentes, no tempo e no espaço, compõe o jogo dialogico do turismo contemporâneo, que tem sua territorialidade mais facilmente perceptível nas escalas local e regional. Mesmo aquelas que oferecem um discurso mais democrático sinalizando para uma maior participação de todos os envolvidos nos processos de decisões, pecam por periodizar em suas directrizes e propostas de acções, os agentes de mercado.
Em outros termos, as políticas publicais direccionadas para o (re) ordenamento dos espaços turistificados deveriam observar e atender as necessidades e demandas de cada um dos seus agentes produtores para estimular um processo de desenvolvimento sustentável e duradouro para os destinos turísticos.
A Apropriação dos Espaços para o Turismo: territórios-rede e redes de turismo
O processo de apropriação de trechos do espaço pelos diversos agentes do turismo, também conhecido como turistificacao, resulta na produção de territórios descontínuos, sazonais e flexíveis.
A lógica zonal esta relacionada com o controle de áreas ou limites, enquanto a lógica reticular concentra-se no controle dos fluxos e dos pólos de conexões, portanto, das redes.
Na contemporaneidade a turistificação dos espaços revela-se importante factor de reordenamento dos espaços, a partir da refuncionalizacao dos seus fixos e da produção de territórios “esgarçados”, estruturados em malhas de pontos e linhas, mais ou menos densas. Os espaços apropriados para o turismo revelam a organização de um território que deve ser visto e analisado “através de uma perspectiva integradora entre as diferentes dimensões sociais”de cada um dos seus agentes.
A sociedade contemporânea, para alguns, dita pós-moderna, experiencia o “viver em redes”, em que os territórios e as territorialidades passam a ser concebidos e caracterizados pelo movimento, pela fluidez e pelas interconexões, portanto, pelas redes. Assim como outras actividades económicas contemporâneas, o turismo concretiza-se pela acção, pela articulação e pela interconexão dos seus diversos agentes produtores no tempo e no espaço.
O conceito de rede, presente em diversas formas de representação do mundo proposta pelo homem desde a Antiguidade, adquiriu uma posição de destaque enquanto recurso de análise de diversas disciplinas das ciências humanas, inclusive da geografia.
Os agentes de mercado por sua vez, apesar da aparente fixidez dos seus empreendimentos, ao perceberem as possibilidades de incorporação de novos atractivos aos seus produtos, logo iniciam o estabelecimento de contactos com outros agentes de mercado no intuito de ampliar suas margens de lucro.
Em virtude da sua maior agilidade de acção, os agentes de mercado sempre se antecipam as acções dos demais agentes do turismo, impondo sua lógica de apropriação dos espaços e dos demais recursos.
Perspectivas das Redes Regionais para as Políticas Públicas de Turismo
A análise concentrada no destino turístico centrada na escala local pode estar descolada das questões relacionadas com “processos que ocorrem em outras meta e micro escalas e relacionamentos com coisas alheias ao destino embora na mesma escala de análise. Isto nos aponta que os destinos não podem ser vistos ou analisados isoladamente, tendo em vista que “estão inseridos em uma complexa rede de relacionamentos socioculturais, económicos, políticos e ambientais”
As articulações cada vez mais intensas entre os territorios-rede do turismo apontam para a escala regional onde, redes regionais de relações e inter-relações constituídas pelos e entre seus agentes sociais, criam uma dimensão espaço-tempo complexa de governança do sector. Para tornarem-se publicas devem ser frutos de um amplo processo, aberto, democrático e inclusivo que observe e respeite as praticas sociais existentes nas comunidades onde serão implementadas.
Politicas decididas nos ambientes fechados de gabinetes de autoridades do governo não podem e não ganham o status de politicas publicas, limitando-se a serem politicas de governo. Em resumo, antes de serem politicas publicas, são politicas de governo e como tal, ficam mais sujeitas as descontinuidades marcadas por cada ciclo governamental aparente ruptura proposta em 2003, pelo Plano Nacional de Turismo do primeiro ciclo de governo do presidente Lula, representada pela extinção do PNMT e instituição do PRT,apenas confirmou a opção politica do governo federal pela descentralização.
E importante ressaltar que essa aparente descentralização trás embutida a manutenção do predomínio do poder central. O processo de municipalização do turismo preocupava-se mais com a organização dos diferentes nichos do sector – associações, fóruns, conselhos – enquanto o PRT voltou-se mais para a organização da cadeia produtiva do sector nos espaços das regiões. Talvez, a maior falha da descontinuidade politica ocorrida entre o PNMT e o PRT esteja no fato dos criadores e executores do segundo terem se demorado a perceber o quanto os resultados do primeiro lhes eram essenciais.
Em suma, a relação de poder continua sendo do centro para a periferia. O surgimento e o desenvolvimento de processos participativos endógenos implicam no Desenvolvimento de redes locais e regionais de relacionamentos, estruturadas nos pilares básicos da solidariedade e da confiança entre seus participantes.
Bibliografia
FRATUCCI, Aguinaldo Cesar, Reflectindo Sobre a Gestão dos Espaços Turísticos: perspectivas para as redes regionais de turismo, vol. 20, 2009.