Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na França, é necessário enfocar as feições gerais do desenvolvimento histórico Frances do século XIX. A França foi o pais que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo, dando ao Estado a feição que mais atendia a seu interesses.

A revolução francesa foi um movimento popular, comandado pela burguesia, dirigido pelos ideólogos dessa classe. Nesse processo, o pensamento burguês gerou propostas progressistas, instituindo uma tradição liberal no país. Na segunda metade do século XIX, a França e a Alemanha, no caso ainda a Prússia, disputam a hegemonia, no controle continental da Europa. Havia entre estes dois países, um choque de interesses nacionais, uma disputa entre imperialismos. Tal situação culminou na guerra franco-prussiana. A guerra havia colocado, para classe dominante francesa, a necessidade de pensar o espaço, de fazer uma Geografia que deslegitimasse a reflexão geográfica alemã e, ao mesmo tempo, fornecesse fundamentos para o expansionismo Frances.

Uma primeira critica de principio, efetuada por Vidal as formulações de Ratzel, dizia respeito à politização explicita do discurso deste. Isto é, incidia no fato de as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas. Vidal condenou a vinculação entre pensamento geográfico e a defesa de interesses políticos imediatos, brandindo o clássico argumento liberal de “necessária neutralidade do discurso cientifico”.

Na verdade, Vidal imprimiu, no pensamento geográfico, o mito da ciência asséptica, propondo uma despolitização aparente do temário dessa disciplina. Este posicionamento de acobertar o conteúdo político da ciência, originou-se do recuo do pensamento burguês (após a sedimentação dessa classe no poder) temerosa do potencial revolucionário do avanço das ciências do homem.

Outra critica de principio as formulações de Ratzel incidiu no seu caráter naturalista. Isto é, Vidal criticou a minimização do elemento humano, que aparecia como passivo nas teorias de Ratzel. Uma terceira critica de Vidal a Antropogeografia, derivada da anterior, atacou a concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza. Assim atingiu diretamente a idéia de determinação da Historia pelas condições naturais. Vidal vai propor uma postura relativista, no trato dessa questão, dizendo que tudo o que se refere ao homem “é mediado pela contingência”.

Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre influencia do meio, porém que atua sobre este, transformando-o. Observou que as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazê-las nos materiais e nas condições oferecidas pelo meio.

E bem claro aqui que ate o momento em que é declarada a guerra entre França e Prússia, a Geografia Francesa tinha limites e não era o centro das discussões geográficas da época, e por fim não tinha conhecimento que pudesse legitimar a expansão francesa, como havia feito Ratzel na Alemanha. O pensamento geográfico Frances nasceu com a tarefa de combate a Geografia de Ratzel.

E, sobretudo como forma de justificação da burguesia francesa, Vidal e Ratzel justificariam a evolução e expansão de seus países com visões semelhantes, mas porem um tentando encobrir o outro, ou seja, criaram linhas de pensamento que marcam a produção conhecimento geográfico tradicional Ratzel o Determinismo, Vidal de La Blache o Possibilismo. Vidal produz uma Geografia humana com o Possibilismo, onde a natureza existe, mas não determina, apenas dá possibilidades ao homem, ela existe serve, possibilita e sofre a ação do homem.

Os desdobramentos da proposta La blachiana

La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do século atual (XX). Com Vidal, e de forma progressiva a partir dele, o conceito de região foi humanizado; cada vez mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na historia.

A idéia de região propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de analise do pensamento geográfico: a Geografia Regional. Esta perspectiva se difundiu bastante, enfocando regiões de todos os quadrantes da Terra. Ate hoje, estes estudos são regularmente realizados. Por isso, pode-se dizer que a Geografia Regional foi o principal desdobramento da proposta vidalina.

O acumulo de estudos regionais propiciou o aparecimento de especializações, que tentaram fazer a síntese de certos elementos por eles levantados. Assim, o levantamento de regiões predominantemente agrárias ensejou o desenvolvimento de uma Geografia Agrária, tentando sintetizar as informações e as características sobre a estrutura fundiária, as técnicas de cultivo, as relações de trabalho etc. O estudo das redes de cidade, das hierarquias e das funções citadinas, levou a constituição de uma Geografia Urbana. E assim por diante, com uma Geografia das Indústrias, da População, ou do Comercio. Desta forma, as sínteses empreendidas por comparação das regiões foram especializadas. Vê-se que os desdobramentos da proposta vidalina foram múltiplos. Porém, ao nível da Geografia Francesa, o autor que realmente avançou suas formulações, gerando uma proposta mais elaborada foi Max Sorre.

O conceito central desenvolvido por Sorre foi o de habitat, uma porção do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza. O habitat é assim uma construção humana, uma humanização do meio, que expressa às múltiplas relações entre o homem e o ambiente que o envolve.

A Geografia de Sorre poder ser entendida como um estudo da Ecologia do homem. Isto é, da relação dos agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem transforma este meio.

Os desdobramentos da geografia vidalina, que importou o conceito de região de Gallois que o já havia trazido da Geologia se expandiram por vários elementos de estudos, com abordagem desse novo conceito, Vidal humaniza a região, e que dessa forma de analise regional, muitos conhecimentos desenvolvidos. Foi a partir dele que se desenvolveu a Geografia Regional, precipuamente a analise regional é o mais usual na Geografia.

Muitas especializações foram criadas a partir da abordagem regional, dentre ela a Geografia Urbana, Industrial, Comercio etc. As proposições de La Blache chegaram ate os historiadores, Lucien Febvre e outros.