Historial de fitopatologia

A história de Fitopatologia geralmente é contada em fases, que progridem de acordo com o desenvolvimento da agricultura e dos conhecimentos do homem acerca das condições necessárias para o desenvolvimento de uma doença: o patógeno, o hospedeiro e as condições ambientais. Essa divisão, adoptada por Galli e Carvalho (1978) e Bergamin Filho e Kitajima (2011), considera a relação de causa efeito sobre as doenças e divide os períodos históricos em místico, da predisposição, etiológico, ecológico e actual.

Fitopatologia, é a ciência que estuda as doenças das plantas, nomeadamente as alterações provocadas por outras causas, o ataque por insectos e outros animais, fungos, bactérias e vírus, assim como plantas parasitas e factores climáticos. Melhor dizendo, a fito patologia estuda as circunstâncias de um ambiente que pode ser razão de algumas doenças, a relação entre a planta e a doença, os instrumentos pelos quais são os coeficientes causadores da doença tal qual o controle da mesma e as ferramentas de prevenção.

O desenvolvimento e rendimento das plantas dependem de nutrientes, água no solo e manutenção de certos limites de factores ambientes como temperatura, humidade e luz.

Portanto, qualquer factor que afite o seu desenvolvimento pode ocasionar perdas e reduzir sua utilidade para o Homem. Outros factores também ocasionam perdas como as doenças que são causas constantes de perdas na agricultura e, vários são os exemplos de consequências drásticas destas perdas que podem ser encontrados na história da humanidade. Embora como ciência a Fitopatologia seja relativamente recente, a preocupação com as doenças de plantas datam da mais remota antiguidade. Como toda ciência, a Fitopatologia começou com o objetivo de organizar os conhecimentos obtidos na prática. Fitopatologia é ciência que estuda as doenças de plantas em todos os seus aspectos: diagnose, epidemiologia, etiologia, controle. A palavra é de origem grega (phyton = planta; pathos = doença; logos = estudo).

A fitopatologia ao longo da história evoluiu a tal ponto que com a tecnologia actual é possível descrever cada passo das doenças e de onde foram originadas. Para chegar a este nível, a fitopatologia correu grande trajectória, apresentando cinco períodos que decorreram da antiguidade até então. São eles o período místico, período da predisposição, período etiológico, período ecológico e período fisiológico respectivamente, (Michereff, 2018).

O período místico

Engloba desde os primórdios da Antiguidade ao início do século XIX. Foi o período pelo qual a causa das doenças era atribuída aos factores místicos devido à falta de informação que os povos tinham na época. A bíblia, sendo a matriz de informações sobre as primeiras doenças vistas nos vegetais, citava os primeiros ataques das mesmas, que pela percepção do povo tiveram início em videiras, cereais, oliveiras, figueiras e o prejuízo foi enorme. Devido a isso, visando diminuir esses males e evitar perdas na agricultura, botânicos da época iniciaram estudos na Roma e na Grécia antiga para descobrirem de onde vinham essas doenças.

No final desse período, algumas doenças já eram descritas de acordo com os sintomas que as plantas exibiam. Alguns micologistas passaram também a associar plantas doentes a fungos: Mathieu Tillet, em 1755, provou que a cárie do trigo, também chamada de carvão do trigo, era causada por um fungo, e Giovanni Targioni Tozzetti, em 1767, acreditava que ferrugens e carvões eram causados por fungos que se desenvolviam embaixo da epiderme das plantas doentes. Todavia, a teoria da geração espontânea e perpetuação das espécies prevalecia com a ocorrência de patógenos associados a plantas doentes atribuídos à geração espontânea, e as doenças descritas com base em sintomas e classificadas pelo sistema binomial de Lineu

O período da predisposição

A partir do século XIX, ficou notório a relação das doenças com os fungos, dando início ao período da predisposição. Nessa época foram catalogados diversos fungos que tiveram associação às plantas doentes. Além disso, estudos relacionavam certos factores com ausência de nutrientes nos vegetais que levavam os mesmos a gerarem fungos, estudo esses que foram elaborados pelo especialista em fisiologia vegetal Franz

Unger. Sugeriu a teoria de que as doenças resultavam de distúrbios funcionais causadas por desordens nutricionais e, como consequência, predispunham os tecidos da planta a produzir fungos, até então considerados apenas excrescências que se desenvolviam por geração espontânea. Essa teoria, apesar de falha no que se referia aos fungos, já passou a relacionar os factores ambientais a doenças.

Foi ainda nesse período que explodiu a requeima da batata na Europa, e Anton de Bary, em 1845, provou que a doença era causada por um fungo, Phytophthora infestans. O alemão também esclareceu o ciclo de vida de Puccinia graminis, agente causal da ferrugem do trigo, que até então era atribuída ao castigo divino.

O período etiológico

Por meados do ano de 1853, Anton de Bary, botânico, microbiologista, e micólogo alemão, foi quem deu início a fitopatologia, ao aprofundar seus vários estudos sobre os fungos, inovando conceitos da sua época e iniciando o período etiológico. De Bary comprovou cientificamente que a doença da batata era derivada de um fungo, Phytophthora infestantes, (mostrado na foto acima) dando ainda mais suporte para a relação doença – fungo, fazendo com que nessa mesma etapa prevalecessem relatos de plantas doentes tendo esta mesma relação.

O período ecológico

Ainda no século XIX, por volta de 1874, um botânico, também alemão, deu sua contribuição importantíssima para o começo do período ecológico, diferenciando as doenças parasitárias das não parasitárias ou fisiológicas, foi ele Paul Sorauer. Descoberta que também teve destaque nessa fase, bem como deu o nome ao período, foi que as condições ecológicas, do mesmo modo que os fungos, influenciavam para que doenças atacassem os vegetais, levando esse factor a ter uma grande importância.

O período fisiológico

Já no século seguinte, por volta de 1940, os métodos de pesquisa evoluíram, Microbiologia, estudando os fungos e bactérias, Fisiologia ajudando no entendimento das funções dos vegetais e Bioquímica inovando todo processo da transgênese, criando vegetais mais resistentes, aumentaram a eficacia dos estudos, surgindo novas ideias para a interacção da planta com a doença, e assim começou o período fisiológico, vivido até então.

Coeficientes que acarretam em incessantes perdas na produção de algumas plantas ou no crescimento de outras, ocorrem devido a doenças ou pragas. Na prática considerando a

fitopatologia no seu sentido restrito os provocados por insectos e outros animais.

. Surgiram também, em 1950, duas novas abordagens, que perduram e coexistem juntas até hoje: a fisiológica, em que as doenças passam a ser encaradas com base nas relações fisiológicas e dinâmicas, entre a planta e o patógeno, e a abordagem epidemiológica, que mostra o desenvolvimento da doença no campo. Nos últimos anos, a biotecnologia vem crescendo cada vez mais em nossa área, e tudo indica que um período biotecnológico dentro da Fitopatologia já está se desenvolvendo.

O surgimento da Fitopatologia resultou, em grande parte, de eventos catastróficos que se desenvolveram na agricultura ao longo dos anos, como a epidemia da requeima da batata, que gerou fome, morte e imigração na Irlanda entre 1845 e 1846. A batata (Solanum tuberosum) era a base da alimentação da maioria dos países Europeus, pois apresentava alta produtividade, boa adaptação e alto valor nutritivo. Como as condições financeiras da época eram precárias, quanto mais rural e mais pobre a área, mais se consumia batata, que compunha o cardápio desde o café da manhã, até a janta, período em que um trabalhador irlandês chegava a consumir de 4 a 8 kg de batatas por dia.

Tudo corria bem, até em meados de Junho de 1845 uma doença altamente destrutiva, hoje conhecida como requeima (Phytophthora infestans), atacar as plantações de batata. Primeiramente, a doença foi constatada na Bélgica, depois na Holanda, na França, na Inglaterra e, por fim, na Irlanda, com perdas de 25% da produção, mas que não eram nem a metade da catástrofe que estava por vir.

Em 1846, enquanto cientistas discutiam se o fungo encontrado nas plantas doentes era a causa ou a consequência do problema, na Irlanda, o patógeno foi observado sobre as plantações de batata dois meses mais cedo do que em 1845. Atacando plantas mais jovens em um clima favorável, o patógeno praticamente dizimou as plantações, com perdas de 80% da produção. Sem o alimento base da alimentação da época, houve em torno de dois milhões de mortos e um milhão de emigrantes.

Da mesma forma que os irlandeses dependiam da batata para sua alimentação, os habitantes de Bengala (hoje dividida em Índia e Bangladesh) dependiam do arroz. Em 1942, enquanto a guerra atingia seu apogeu na Ásia, os habitantes de Bengala viam suas plantações de arroz serem dizimadas pela ocorrência de um fungo, o Helminthosporium oryzae, hoje, Cochliobolus miyabeanus.

As condições ambientais eram favoráveis ao desenvolvimento da doença, como chuvas e tempo encoberto e, com isso, a fome também foi inevitável. Corpos e pessoas morrendo eram vistos por onde se passava, e a contagem dos mortos também chegou a dois milhões, ficando conhecida como catástrofe de Bengala.

Referência bibliográfica

Michereff, S. Conceito e história da fitopatologia. Ebah. Consultado em 17 de Janeiro de 2018

BERGAMIN, F. Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. Piracicaba agronómica Ceres, 2011. P. 367-388.