Por: Marchal

Capítulo 2

 

Ilusões das raças


 APPIAH em seu segundo capítulo fundamenta se no pensamento do autor W.E.B Dubos, aquele que segundo o autor foi quem fez a fundamentação teórica intelectual e prática do pan-americanismo. Na maior parte do capítulo a discussão está centralizada na definição da raça.

APPIAH busca está explicação em diversas áreas tais como, a localização territorial, as origens dos idiomas, biologia e ancestralidade, a identificação grupal e a concepção científica.

Ele finaliza a discussão mostrando como mesmo dentro desta área a questão da raça errónea, entre e o mesmo dentro daquelas chamadas " raças " há muita pouca variabilidade genética se formos pensar no conjunto. Isto acontece porque, está teoria, as raças não estão fixadas devido as grandes movimentos migratórios presentes em todos movimentos históricos.

Por isso mesmo, o pensamento do racismo extrínseco foi refutado, já que a fundamentação vai toda a baixo depois que a ciência provou que todas aquelas chamadas raças são iguais, não há porque se afirmar que características biológicas determinam que uma raça é menos ou mais apta ao trabalho, por exemplo. Segundo este pensamento.

 APPIAH compara os preconceitos sofridos pelos negros aos sofridos pelos judeus. Sendo a base cultural e ideológica dos mentores do pensamento pan-africanismo a cultura e a ideologia Norte americana presente tanto em crummel quanto em Du Bois, estes não percebem que a origem comum africana se resume somente na sua origem racial ou como afirmou APPIAH, que importa que uma grande parcela de seus ancestrais tenham vivido neste vasto continente, se não há nenhum laço mais sutil com  eles, a não ser a ascendência biológica brute ou seja, sem medição Cultural e a "insígnia" que ela implica, dos cabelos e da cor.

Finalizando racismo de Du Bois seria intrínseco e não extrínseco devido às origens.

Capítulo 3

 

Pendendo para o nativismo


 Appiah neste capítulo defende o nacionalismo e a relação entre nação, literatura e raça como sendo questão principal. O capítulo praticamente se inicia com um lema de exaltação à raça saxônica, em especial aos saxões ingleses.

Os ideólogos de tal exaltação dizem que antes da conquista nómada a Inglaterra vivia a igualdade e os direitos individuais eram respeitados, o que teria acabado com a conquista normanda sendo assim depois de restauração de 1660, a teoria da raça não surgiu com uma demonstração de força dos indivíduos contra a Coroa.

Num país claramente mestiço como os EUA, mas de uma colonização inglesa e, sendo assim, anglo-saxónica, também havia aqueles que defendiam ideias semelhantes, como Thomas Jefferson, que apesar de ter em consideração os valor e dos nativos americanos inclusive incentivado a mistura racial entre eles é os brancos com o intuitivo de criar uma raça Branca saxónica fosse muito superior à raça negra, ou seja aos povos de origem Africana.

Em fim o autor diz que a divisão da África em regiões por trocas de língua semelhante, perpetrada por ingleses e belgas, não respeitava as diferenças tribais, pois para os europeus a Língua é  raça, e raça é nação.

Capítulo 4.

 

O mito de um mundo africano.


Neste capítulo APPIAH discute principalmente a ideia de uma identidade africana, ele diz que apesar de ela estar em formação, já se pode ver traços de sua existência.

Um exemplo utilizado pelo autor para ilustrar a ideia de uma identidade africana é o de que se um negro estiver em Londres e alguém lhe perguntar, mesmo que pejorativamente, se ele é africano esse alguém Terá relacionado o facto de indivíduo ser negro com a possibilidade de ser da África, sendo assim isto é uma forma de identidade africana.

APPIAH contrapõe dois outros autores africanos (soyinka e achebe) para dizer que o primeiro não concorda com a tese do segundo de que o próprio facto de África ter uma identidade, bem como identidade africana, é um produto de olhar europeu

No final do capítulo o autor nos diz que o principal desafio dos escritores africanos na construção de uma cultura mais eletista do "nós" a cultura oral pelo "eu" dos seus livros.

Capítulo 5

 

A Etnofilosofia e seus críticos


A proposta do autor neste capítulo é discutir o que é de facto o que a filosofia africana, ou mesmo se ela existe, pois como ele mesmo diz, não é pequeno algo não é filosófico que este algo não é bom, um livro de culinária pode ser muito bom sem por isso fazer parte de filosofia da culinária o que ele chama de um nome muito pomposo para uma coisa tão simples, no entanto diz, que não discutir à qual se propõe por meio da definição, pois acha o método muito pouco produtivo.

Naturalmente,  pelo simples fato de o capítulo de tratar uma verdadeira metalinguagem, existem grandes digressões nas quais o autor divaga acerca do seu tema, em alguns momentos ele afirma que toda cultura tem uma filosofia, mas essa filosofia precisa ser trabalhada por um filósofo para se tornar académica, sendo assim sempre há um trabalho para um filósofo.

O autor diz que os filósofos africanos cuja ligação com a África, não é maior do que o facto de o continente ser sua terra Natal, o que deste sentido, se pensamos que a África geograficamente é um continente, no entanto existe questões que transcendem a geografia africana e que devem ser discutidas dentro da filosofia do continente.

Dentro de tais discussões, o autor roda dentro do capítulo, sendo que no final diz que voltará a falar sobre o assunto nos capítulos finais do livro.

Capítulo 6

 

Velhos Deuses, Novos Mundos.


Appiah  começa  falando sobre modernidade, mas ao mesmo tempo fala que para pensar em modernidade  é necessário que se pense em sua palavra antagónica, que seria "tradicional", e para isso, ele irá pegar a suposta cultura tradicional africana, pegando um exemplo de uma tribo Achanti, mas especificamente de um ritual dos Achanti, no qual um indivíduo da tribo convoca a um espírito oferecendo a ele ouro em pó e outras coisas, depois se faz sacrifícios de animais.

Após a descrição do acto o autor colocará várias questões a serem estudadas e analisadas sobre este caso e também sobre a África em geral, sendo que a resposta era porque os ancestrais assim o faziam, Appiah começa a nos mostrar a questão do simbolismo, dizendo que este é característico das cerimonias de todas as culturas, dizendo que o ritual implica o simbolismo.

Depois, o autor irá discutir a questão das crenças, sendo elas falsas ou não, e fala que as crenças são aprendidas pelos homens quando estes crescem, de onde quer que este homem seja. A partir dessa questão das crenças o autor nos mostra que as culturas tradicionais, como o exemplo dos Achanti não são irracionais pois nelas é possível que se faça uma defesa razoável de suas crenças, sendo elas verdadeiras ou não, pois, de certa forma, os espíritos interferem na vida dessas pessoas, causando melhorias de saúde por exemplo. saúde por exemplo.

Depois, o autor coloca teorias diversas, como de Horton que nos diz que as religiões tradicionais são como as teorias nas ciências naturais, ao qual Appiah contesta, pois a organização social da investigação é totalmente diferente nas culturas tradicionais e modernas.

Após isso, o autor discutirá ciência e sociedades tradicionais, crenças, etc, a partir de várias teorias. O autor irá nos mostrar que a grande diferença da cultura tradicional da África e a cultura do mundo industrializado é que a cultura tradicional é predominantemente iletrada, fazendo com que não seja possível comparar as teorias dos ancestrais, diferente do que acontece na cultura ocidental, e transmissão oral dificulta o reconhecimento de discrepâncias.

Na transmissão oral, tudo o que é transmitido é de memória e é necessário partilhar com aquele que faz um conhecimento dos pressupostos que lhe servem de base. Para Appiah é necessário que haja uma alfabetização, pois esta foi crucial para o desenvolvimento da modernidade.

No final do capítulo o autor nos diz que é necessário que os africanos se compreendam uns aos outros, e que se compreendam como racionais, e que para resolverem os seus problemas é necessário que os encarem como problemas humanos, e não como problemas africanos.

Capítulo 7

 

Os pós colonial e os pós moderno


Appiah começa  falando sobre uma exposição de arte africana onde foram convidadas dez pessoas para selecionar as obras, e entre elas estava um homem da tribo balue, e para este só lhe foram dadas obras balues pois ele iria rejeitar as outras obras de outras tribos africanas, pois iria julgar com os seus conceitos.

O autor contesta, primeiramente provando que um balue conhece outras culturas africanas e que aqueles não africanos também julgaram as imagens com os seus próprios conceitos.

O autor começa a tratar da questão da arte africana como mercadoria, fazendo parte de um processo de mercadologização, em que a arte é produzida em um contexto pós-moderno que é voltado para a sociedade de consumo.

A partir daí, o autor começa a discutir o pós-modernismo de várias maneiras, como na filosofia, na arquitetura, mas principalmente na arte e na literatura, principalmente a africana. Appiah também irá discutir a racionalização de Webber, e diz que o pós-modernismo rejeita essa razão, mas que faz parte do processo de mercadologização.

Ele nos mostra que uma parte da sociedade africana se tornou uma sociedade consumistico os moldes ocidentais e que fazem parte desse processo de mercadologização, isso na era pós-colonialismo, e essa parte é a burguesia africana, ou seja, a elite que comanda as nações.

Para o autor a África está sendo muito influenciada pela cultura ocidental dentro de sua cultura tradicional, principalmente a partir do momento em que a arte vira mercadoria. Appiah também irá nos mostrar vários exemplos de romances literários africanos no pós-colonialismo e como esses rejeitam a ideia anterior, assim como o pós-modernismo.

Ele irá finalizar o 7º capítulo nos mostrando que nas culturas africanas existem aqueles que se recusam a ver-se como o Outro, e que as literaturas populares, a poesia, a música, a dança, e outras coisas todas vicejam na África. Para ele as sociedades africanas estão tendo uma modernização mas mantendo os seus aspectos culturais.

Capítulo 8

 

Estados Alterados.


O que o autor aqui propõe é a análise da formação dos Estados Africanos contemporâneos baseado na compreensão do passado pré-colonial, do colonialismo e da transição de poder da metrópole para os recém formados Estados independentes. 

O autor começa em um retroceder pelo tempo, diagnosticando a formação de novas identidades na junção da colonização com os costumes tradicionais de seu povo, a luta pela independência.

Em sua análise trabalha, com conceitos de Estado e de sua permanência junto as tradições de vários povos. As tradições são legitimadas pelas sociedades e portanto mais próximas as mesmas, permitem que (no caso específico ele se refere da etnia de seu pai, Achanti) estas sociedades possam exercer algum tipo de autonomia com relação ao Estado, sociedades estas unidas por convicções éticas, laços  de afeição e mundos compartilhados de significações. 

Já o Estado, como herança colonial, é legitimado através da coerção (citando exemplos como os impostos e o alistamento obrigatório e o direito criminal que não é optativo) estigmatizado na repressão no aspecto amplo de exploração.

No caso de Gana, e note-se que o autor usa Gana para auxiliar na compreensão do que ocorreu em grande parte da África, o Estado que surge após a independência, possui os mesmos vícios e conjunturas do Estado colonial, em suma, perpetuando muitos aspectos do sistema económico colonial, além de serem suplantadas e ignoradas as diferenças étnicas, muitas vezes encobertas pelos discursos nacionalistas no que diz respeito a junção dos povos no processo de independência.

Quais as consequências da perpetuação de aspectos deste Estado colonial e a crença em uma igualdade étnica que de certa forma não existia?  O Estado colonial visava a manutenção do poder, através da coerção e, ainda mais, o “retorno” de capitais investidos na colónia, principalmente sob a forma de impostos. Restringia o acesso a educação por parte dos nativos e tratava-se de um estado de exclusão social não participativo (neste ponto há que se abrir um precedente para as distinções entre as colonizações francesas e inglesas que ele mesmo diferencia).

Um estado independente que nascia para a gerar condições para o desenvolvimento e criação de infra-estrutura não poderia jamais apoiar-se nas bases de um estado que visava ganhos para a metrópole e a manutenção da ordem vigente. Ao herdarem o aparelho de Estado colonial, os governantes pós-coloniais herdaram as rédeas do poder, poucos repararam, no princípio, que elas não estavam ligadas a um bocal de freio (p. 230). 

Em muitos casos, o que se observa depois da independência, são mecanismos que favorecem determinadas elites dentro do Estado, e a formação destes Estados sob bases frágeis, o que explica os vários golpes de estado sucessivos em muitos países recém independentes, que acabavam por comprometer a formação de estruturas que viabilizassem o desenvolvimento dos mesmos.

Quanto as etnias, como próprio Appiah cita: Uma vez passado o momento de coesão contra os britânicos, o registro simbólico da união nacional confrontou-se com a realidade de nossas diferenças, e mais, no caso de Gana o entusiasmo real que um dia existira, ainda que limitado, tinha-se evaporado; as complicações começaram a reter nossas atenções O que o autor aqui demonstra, é a fragilidade com que se dá a formação destas “unidades nacionais” que logo depois da euforia, frente as complicações geradas pela administração do Estado, o que tende a se romper é exatamente o precário elo entre estes povos.

Há que se levar em conta ainda que os Estados geográficos europeus na África ignoraram qualquer diferença entre povos, adequando os territórios conforme sua vontade e lógica de exploração. Mas na independência a mesma Europa deixou a África com Estados a procura de nações.

Mas a visão de Appiah que em uma primeira impressão possa parecer pessimista, traz a compreensão de possibilidades que possam proporcionar a alguns Estados africanos o crescimento e a criação de estruturas e mecanismos que possam alavancar o desenvolvimento e principalmente, gerir um estado de participação dos povos na gestão do Estado como um todo. Mas como ?

O autor cita o exemplo das organizações e associações não governamentais que gradualmente passaram a exercer papéis anteriormente de função do Estado, como administração de creches, instituições de ensino e na área de saúde.

O funcionamento destas organizações, auxiliado em sua maioria por naturais da região, de certa forma, torna-se um aprendizado no exercício da organização e no que diz respeito a mobilização das pessoas

eles dão às pessoas a oportunidade de exercer modos participativos de organização da vida comunitária, proporcionam uma experiência de autonomia” (p. 239). 


Para Appiah, a democracia não deve ser baseada apenas em questão de parlamentos e eleições, mas no desenvolvimento de mecanismos pelos quais os governantes possam ser cerceados pelos governados.

Appiah encerra o capítulo de uma forma que deixe o leitor a imaginar que nada está pronto e que tudo se assemelha a uma fase de transição á qual nem ele mesmo consegue prever o que de certo irá ocorrer, mas nos deixa subentendido de que, se alguns aspectos forem mantidos e não houver um pensamento racional comum que possibilite a superação das estruturas coloniais e as diferenças étnicas que impeça a orientação de vários povos como um todo e não fragmentado, aquilo que se pode esperar como um Estado participativo de uma nação unificada torna-se inviável sob muitos aspectos e principalmente, a África se tornando um fragmentado território de muitas “identidades” e pouco conjunto, coesão, comum.

Capítulo 9

 

Identidades Africanas.


Toda identidade humana é construída e histórica. Appiah. Este capítulo o autor reúne seus  pensamentos expostos na obra para dar sentido a sua principal afirmativa de que existe um perigo real e latente ao se formar as identidades baseadas na questão raça, pois a mesma

pressupõem falsidades demais para que as ignoremos” (p. 243)


E adverte do perigo de que tais concepções podem proporcionar muito mais desajustes do que soluções ou alternativas. 

Appiah traça um histórico cultural do continente africano ressaltando a ideia de que a influência europeia no continente anteriormente ao século XIX que proporcionasse uma mudança nos padrões culturais dos povos foi quase ínfima.

Esta somente se dá por volta do final do século XIX e principalmente no período pós Primeira Guerra. Afirma que não há como traçar generalizações culturais para o continente devido a diversidade, mas que haveria alguns aspectos comuns como o campesinato sem senhor, porém sem formar uma identidade ao continente.

Para o autor, a raça não apenas forma conjuntos, mas exclui no sentido de que parte do pressuposto do que é diferente, daquilo que não é, e certamente não poderá ser igual. Ainda mais, para Appiah, muitas destas construções de identidades são recentes e surgem como meios de se criar alianças ou de sustentar objetivos que visem o favorecimento de alguns grupos em detrimentos de outros.

Raça pode ser distorcida, pode ocultar sob uma máscara de igualdade as reais tensões existentes dentro de um mesmo grupo ou uma mesma raça; não corresponde ao que é verossímil, mas aquilo que, baseado em alguns argumentos que para ele, em sua grande maioria, são refutáveis, se tornam reflexos de anseios presentes e que recorrem ao passado ou ao biológico para a busca de uma identidade que talvez nem sequer realmente tivesse ocorrido.

Reconhece que estas devem estar fundamentadas em um conceito de conjunto e que não se pode atribuir valores ou argumentar a favor ou contra identidades, porém, por se tratar de algo relativo, deve se considerar uma a uma, caso a caso.   

Seu principal objetivo é relatar como a ascensão das identidades, criação das mesmas e a busca pelo domínio político destes novos estados, pós independência geram consequências, tais como os conflitos étnicos-regionais e a negação de uma unidade que possa ser fundamentada em povos heterogéneos mas com objetivos comuns, objetivos estes que devem suplantar as diferenças e não o contrário.

Demonstra que muitos destes conflitos hoje apoiados nas diferenças étnicas, vem apenas responder objectivos muito particulares.

Bibliografia


APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. 1 ed. Contraponto Editora, Rio de Janeiro,1997.