Vida e obra de Agostinho Neto

António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 — Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, foi presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola e em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola até 1979 Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o “Prémio Lenine da Paz”.

Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa.

Foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio.

Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literária, escrevendo nomeadamente poemas.

Biografia

Agostinho Neto nasceu na aldeia de Kaxicane, região de Icolo e Bengo, a cerca de 60 km de Luanda. O pai era pastor e professor da Igreja Metodista e, a sua mãe, era igualmente professora.

Após ter concluído o curso liceal em Luanda, trabalhou nos serviços de saúde e viria a tornar-se rapidamente uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista que, durante os anos quarenta, conheceu uma fase de vigorosa expansão em Angola.

Decidido a formar-se em Medicina,  embarca para Portugal em 1947 e matricula-se na Faculdade de Medicina de Coimbra, e posteriormente na de Lisboa. Dois anos depois da sua chegada à Portugal, foi-lhe concedida uma bolsa de estudos pelos Metodistas Americanos.

Envolve-se desde muito cedo   em actividades políticas sendo preso em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo. Após a sua libertação, retoma as actividades politicas e torna-se representante da Juventude das colónias portuguesas junto do Movimento da Juventude Portuguesa, o MUD juvenil.

E foi no decurso de um comício de estudantes a que assistiam operários e camponeses que a PIDE o prendeu pela segunda vez, em Fevereiro de 1955 só vindo a ser posto em liberdade em Junho de 1957.

Por altura da sua prisão em 1955 veio ao lume um opúsculo com poemas seus, que  denunciavam as amargas condições de vida do Povo angolano.

A sua prisão desencadeou uma vaga de protestos em grande escala. Realizaram-se encontros; escreveram-se cartas e enviaram-se petições assinadas por intelectuais franceses de primeiro plano, como Jean-Paul Sart, André Mauriac, Aragon e Simone de Beauvoir, pelo poeta cubano Nicolás Gullén e pelo pintor mexicano Diogo Rivera, e em 1957, Agostinho Neto, foi eleito Prisioneiro Político do Ano pela Amnistia Internacional.

Em 1958, Agostinho Neto licenciou-se em Medicina e, casou com Maria Eugénia, no próprio dia em que concluiu o curso. Neste mesmo ano, foi um dos fundadores do clandestino Movimento Anticolonial (MAC), que reunia patriotas oriundos das diversas colónias portuguesas.

Em 30 de Dezembro de 1959. Neto voltou ao seu País, com a mulher, Maria Eugénia, e o filho de tenra idade, e passou a exercer a medicina entre os seus compatriotas. Em 8 de Junho de 1960, o director da PIDE veio pessoalmente prender Neto no seu Consultório em Luanda.

Uma manifestação pacífica realizada na aldeia natal de Neto em protesto contra a sua prisão foi recebida pelas balas da polícia. Trinta mortos e duzentos feridos foi o balanço do que passou a designar-se pelo Massacre de Icolo e Bengo.

Receando as consequências que podiam advir da sua presença em Angola, mesmo encontrando-se preso, os colonialistas transferiram Neto para uma prisão de Lisboa e, mais tarde enviaram-no para Cabo Verde, para Santo Antão e, depois para Santiago, onde continuou a exercer a medicina sob constante vigilância política. Foi durante este período, eleito Presidente Honorário do MPLA.

Por mostrar a alguns amigos em Santiago (Cabo Verde) uma fotografia, em que um grupo de jovens soldados portugueses sorriam para a câmara, segurando um deles uma estaca em que foi espetada a cabeça de um angolano e inserta em diversos jornais (por exemplo, no Afrique Action, semanário que se publica em Tunes) Agostinho Neto foi preso na cidade da Praia em 17 de Outubro de 1961 e transferido depois para a prisão de Aljube em Lisboa.

Sob forte pressão, interna e externa, as autoridades fascistas viram-se obrigadas a libertar Neto em 1962, fixando-lhe residência em Portugal. Todavia, pouco tempo depois da  saída da prisão, Agostinho Neto, em Julho de 1962, saiu clandestinamente de Portugal com a mulher e os filhos pequenos, chegando a Léopoldville (Kinshasa), onde o MPLA tinha ao tempo a sua sede exterior.

Em Dezembro desse ano, foi eleito presidente do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento.

Em 1970 foi-lhe atribuído o Prémio Lótus, pela Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos com a “Revolução dos Cravos” em Portugal e a derrocada do regime fascista de Salazar, continuado por Marcelo Caetano, em 25 de Abril de 1974.

O MPLA considerou reunidas as condições mínimas indispensáveis, quer a nível interno, quer a nível externo, para assinar um acordo de cessar-fogo com o Governo Português, o que veio a acontecer em Outubro do mesmo ano.

Agostinho Neto regressa a Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da mais grandiosa manifestação popular de que há memória em Angola

Agostinho Neto que na África de expressão portuguesa é comparável à Léopold Senghor na África de expressão francesa. Foi um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser, antes de mais, a expressão viva das aspirações dos oprimidos, armas para a denúncia de situações injustas, instrumento para a reconstrução da nova vida.

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, foi eleito pelos seus pares o seu primeiro Presidente.

Obra literária

Poesia

1957 Quatro Poemas de Agostinho Neto, Póvoa do Varzim, e.a.

1961 Poemas, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império

1974 Sagrada Esperança, Lisboa, Sá da Costa (inclui os poemas dos dois primeiros livros)

1982 A Renúncia Impossível, Luanda, INALD (edição póstuma)

Política

1974 – Quem é o inimigo… qual é o nosso objectivo?

1976 – Destruir o velho para construir o novo

1980 – Ainda o meu sonho

Vida e Obra de Aires de Almeida Santos

Aires de Almeida Santos, nasceu no Chinguar, província do Bié. Passou a infância em Benguela, onde fez os estudos primários, a adolescência no Huambo onde frequentou o colégio Alexandre Herculano, vindo a concluir o curso liceal (7 º ano) na cidade do Lubango.

Trabalhou em Benguela como contabilista no antigo Grémio das Pescas. Comprometido com a luta pela liberdade e  independência nacional, Aires de Almeida Santos foi “deportado” para Luanda, nos anos 50, pela polícia colonial, onde mais tarde acabou por ser preso até finais da década de 60, fazendo parte do “Processo dos 50”. Depois de solto passou a viver em Luanda com residência fixa, onde exerceu jornalismo. Colaborou em vários jornais e revistas publicados em Angola, como Jornal de Benguela, O Intransigente, O Planalto, O Lobito, Jornal de Angola e A Província de Angola. Está representado em diversas antologias nomeadamente na Antologia de Poesia Angolana, Amostra de Poesia, Poetas Angolanos, Antologia Poética Angolana, Literatura Angolana de Expressão Portuguesa, Poesia africana in rivolta

É membro fundador da União dos Escritores Angolanos e foi Prémio Nacional de Literatura em 1989.

Morreu em 1991, na cidade de Benguela.

A poesia de Aires de Almeida Santos centrou-se essencialmente em temas nacionalistas e de denúncia da exploração e repressão do regime colonial, vindo, no entanto, a notabilizar-se mais pela lírica. Tem publicado o livro de poemas: Meu amor da rua onze (1987).

Vida e obra de Alexandre Dáskalos

Poeta angolano, Alexandre Dáskalos nasceu no Huambo, provincia de Angola em 1924 e faleceu em 1961 no sanatório do Caramulo.

Alexandre Mendonça de Oliveira Dáskalos nasceu em Huambo, antiga Nova Lisboa (Angola),. Fez os estudos na terra natal e, em 1942, conclui o 7.º ano, no liceu de Sá da Bandeira, actual cidade de Lubango. partindo  para Lisboa, onde se licenciou em Medicina Veterinária, regressando em 1950 a Angola.

Elemento importante do movimento “Vamos Descobrir Angola” e da Geração da Mensagem, colaborou em O Planalto e em Mensagem (Casa dos Estudantes do Império). Muitos dos seus poemas foram musicados e traduzidos para diversas línguas.

Obra poética:

  • Poesias, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império;
  • Poesia de Alexandre Dáskalos (1975, edição póstuma

 Vida e obra de Amélia Dalomba (1961)

Poetisa e jornalista angolana, Amélia Dalomba, nome literário de Maria Amélia Gomes Barros da Lomba do Amaral (Tichinha), nasceu no dia 23 de Novembro de 1961, no enclave de Cabinda, no Norte de Angola.

Formou-se em Psicologia em Moscou. De volta à terra natal, trabalhou como jornalista, atuando na Emissora Provincial de Cabinda, na Rádio Nacional de Angola e nos jornais A Célula Jornal de Angola, em Luanda.

Frequentou diversos seminários de Jornalismo, Administração e Gestão de Empresas e Formação Política.

Foi também secretária da Missão Internacionalista Angolana em São Tomé e Príncipe.

É galardoada com a Ordem do Vulcão – Medalha de Mérito de 1º Grau da República de Cabo Verde.

Membro da União de Escritores Angolanos (UEA), tendo já ocupado diversos cargos diretivos.

Integrando a geração de 80, denominada pelo crítico e poeta Luís Kandjimbo como a “Geração das Incertezas”, ao lado de nomes como Ana Paula Tavares, Ana de Santana, Lisa Castel, entre outros, Amélia Dalomba é uma das novas vozes femininas do universo literário, cujo contributo se reveste da maior importância para o desenvolvimento da poesia angolana. Tal tendência ou corrente manifesta-se através de um ostensivo tratamento estético da relação que se estebelece entre o homem e a mulher. Nota-se o recurso a um despojamento vocabular denso do ponto de vista semântico, resultando daí aquilo a que poderia denominar uma poética corporal.

Como a obra dos restantes poetas desta geração, filha da geração da guerra colonial, a sua poiesis, assentando num projeto metalinguístico e literário de recuperação da língua, constituiu-se como um espaço de denúncia da realidade angustiante vivida na sua Angola pós-independência, sem cair no “panfletarismo ideológico” que, muitas vezes, nega a qualidade estética.

Com uma presença recorrente ao longo da sua obra poética, o Mar surge como um espelho que recebe e devolve as críticas amarguradas dum sujeito poético revoltado, assumindo-se, assim, como uma testemunha que, incapaz de calar a verdade, também se revolta, ativamente contra o contexto sócio-político do seu país.

Fruto da grande desilusão provocada pela situação de corrupção, de fome, de miséria e de total desrespeito pelos direitos humanos, que caracteriza Angola, a poesia desta autora projeta, então, um “eu lírico” desconcertado e desiludido, que vai usar a melancolia, associada à raiva, como forma de se libertar da catástrofe social que o envolve.

A poesia de Dalomba, angustiada e melancólica, expressa desilusão diante do cenário político e social angolano.

Obras publicadas

– Ânsia, Poesia (1995, editora da UEA)

– Sacrossanto Refúgio (1996, editora Edipress)

– Espigas do Sahel (2004, editora Kilomlombe)

– Noites Ditas à Chuva (2005, editora da UEA)

– Sinal de Mãe nas Estrelas (2007, Zian Editora)

– Aos Teus Pés Quanto Baloiça o Vento (2008, Zian Editora)

– Cacimbo 2000 (2000, editora Patrick Houdin-Alliance Française de Luanda)

– Nsinga – O Mar no Signo do Laço (2012, Mayamba)

– Uma mulher ao relento (2011, Nandyala Editora)

CD

– Verso Prece e Canto (2008, editora N’Gola Música)

Participações em antologias

– Antologia da Poesia Feminina dos Palop (1998, org. Xosé Lois Garcia)

– Antologia do Mar na Poesia Africana de Língua Portuguesa do Século XX Angola (2000, org. Cármen Lúcia Tindó)

– O Amor tem Asas de Ouro (2006, UEA).

– Antologia da Moderna Poesia Angolana (2006, UEA, org. Botelho de Vasconcelos)

– Meu Céu, Céu de todos, Céu de Cada Um (2006, Editora Zian, org. Renan Medeiros

Vida e obra de António Fonseca

Poeta, escritor e ensaísta angolano, António Fonseca nasceu a 9 de Julho de 1956, na região do Ambriz, Angola.

Licenciou-se em Economia pela Universidade Agostinho Neto e fez um mestrado em estudos especializados de Políticas Culturais e Acção Artística Internacional pela Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade de Bourgogne, em França.

Frequentou o curso de Formação Internacional Cultural na área de Concepção, Decisão e Gestão Culturais.

Com esta especialização, procurou orientar a sua actividade profissional nesta área, tendo vindo a desempenhar cargos de direcção em empresas e instituições vocacionadas para a actividade cultural, tais como o Instituto Nacional do Livro e do Disco e na Empresa Nacional do Disco e Publicações.

Faz animação radiofónica, sendo, desde há mais de vinte anos, o responsável pelo programa de rádio “Antologia” cujo objectivo nuclear é o de impedir o desaparecimento e a morte da tradição oral, nomeadamente a literatura.

É co-fundador da Brigada Jovem de Literatura de Luanda (BJLL) e da União de Escritores Angolanos (UEA).

António Fonseca é autor das seguintes obras: Raízes (1982); Sobre os Kikongos de Angola (1985) – ensaio; Poemas de Raiz e Voz (1985) – poesia; Crónica de um tempo de silêncio (1988) – contos; e Contribuição ao estudo da literatura oral angolana (1996).

Vida e obra de António Panguila

António Panguila, nasceu a 15 de Julho de 1963. É formado em História pelo Instituto Superior de Ciências da Educação. Foi durante algum tempo professor do ensino secundário.Presentemente é funcionário baancário. Na década de 80 pertenceu ao grupo literário OHANDANJI, além de ter sido membro da Brigada Jovem de Literatura de Luanda.

É um poeta que exibe o domínio de alguns recursos peculiares, destacando-se a recorrência da repetição e da aliteração. Os seus textos trazem a marca característica da brevidade e são de um modo geral curtos, do ponto de vista estrutural.

Em 1996, arrebatou o Prémio Literário Cidade de Luanda, com o livro Amor Mendigo.  É membro da União dos Ecritores Angolanos.

Publicou: · O Vento do Parto (poesia, 1994); · Amor Mendigo (poesia,1996).

 Vida e obra de António de Assis Júnior

António de Assis Júnior nasceu em Luanda a 13 de Março de 1887 e faleceu em Lisboa em 27 de Maio de 1960. Foi por diversas vezes preso, desde as primeiras décadas do século XX. Tal aconteceu, por exemplo, em 1917 quando acusado de ser o principal instigador de um MovimentoNativista ou Revolta de Nativos, foi detido em Dala Tando e conduzido para Luanda.

Em 1922, por ocasião dos acontecimentos de Catete, foi o principal arguido do processo crime cujas averiguações e investigações policiais abalaram as principais centros urbanos de Angola nos anos 20. À prisão de António de Assis Júnior juntaram-se, além de outras figuras, cerca de uma centena de camponeses que de Catete se tinham deslocado a Luanda para apresentar as suas revindicações ao Governador Geral Norton de Matos.

Quando em Fevereiro desse ano de 1922 se dá a vaga de prisões e apreensões, motivadas pelos acontecimentos de Catete, Assis Júnior, com 44 anos de idade, era director do conhecido jornal O Angolense, evidenciando um grande espírito de liderança da causa da independência de Angola. Na qualidade de advogado provisionário, exercia a actividade de procurador judicial das populações autóctones, junto das repartições e dos tribunais, principalmente em litígios de exproriação de terrenos, tendo sido considerado o “advogado dos indígenas”.

Do desfecho do referido processo, resultou o encerramento do jornal O Angolense e da Tipografia Mamã Tita, a extinção da Liga Africana e o desterro de um bom número de intelectuais e jornalistas para Cabinda e Timor Leste.

Ainda como preso político, nos anos 50 e 60, foi-lhe fixada residência em Portugal, onde chegou a ser leitor da língua Kimbundu na Escola Superior Colonial, a convite de Rodrigo Sá Nogueira, um professor português.

Autor de um ensaio-testemunho como Relato dos Acontecimentos de Dala Tando e Lucala (1917), e do romance O Segredo da Morta (1934) e do Dicionário Kimbundu-Português, António de Assis Júnior é sem dúvida o fundador do romance angolano. Este romance é publicado num contexto em que predomina a profusão de textos com pendor propagandístico do colonialismo português, durante os anos 20 e 30, especialmente a partir do lançamento dos concursos de literaratura colonial.

No dizer do ensaísta angolano Mário António, O Segredo da Morta “é uma séria proposta de caracterização do caso angolano da prosa de ficção (…)”.

Já o seu Dicionário é uma prova inequívoca das repercussões produzidas pela obra de Joaquim Dias Cordeiro da Matta nas gerações de escritores do século XX.

Vida e obra António Jacinto (1924 – 1991)

Nasceu no Golungo Alto, em 28 de Setembro de 1924. Fez os estudos liceais erm Luanda. Foi preso e condenado em 1960, tendo cumprido a pena de prisão no campo de concentração do Tarrafal (1960 -1972). Desde 1972 foi-lhe fixada residência em Lisboa e em regime de liberdade condicional, por cinco anos. Em 1973 evadiu-se de Lisboa, tendo ido juntar-se à guerrilha em Brazzaville. Foi Ministro da Cultura de 1975 a 1978 Morreu em 23 de Junho de 1991.

Publicou Poemas (1961), Vôvô Bartolomeu (1979), Poemas (1982, edição aumentada), Em Kilunje do Golungo (1984), Sobreviver em Tarrafal de Santiago (1985; 2ªed.1999), Prometeu (1987), Fábulas de Sanji (1988).

Arrebatou vários prémios, nomeadamente Prémio Noma, Prémio Lotus da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos e Prémio Nacional de Literatura.

Vida e obra de Arnaldo Santos

É natural de Luanda onde nasceu em 1935. Fez os estudos primários e secundários em Luanda. Na década de 50 integrou o chamado “grupo da Cultura”. Colaborou em várias publicações periódicas luandenses entre as quais a revista Cultura, o Jornal de Angola (da década de 60), ABC, Mensagem da Casa dos Estudantes do Império. É membro fundador da UEA.

Passou a infância e a adolescência no bairro do Kinaxixi, topónimo que ocupa um lugar privilegiado na sua produção narrativa. Aos vinte anos de idade publicou a sua primeira colectânea de contos Quinaxixi.

Com o livro de crónicas Tempo do Munhungo, arrebatou em 1968 o Prémio Mota Veiga, um dos poucos atribuídos em Luanda, na década de 60 e 70. Arnaldo Santos é um autor que se situa num nível singular de tratamento da linguagem. É um preciosista na depuração do texto narrativo curto e de todos os seus recursos e elementos.

Daí que a sua ficção narrativa não tenha conhecido até à década de 90, variações para além do conto (Kinaxixi), crónica (Tempo do Munhungo) e novela (A Boneca de Quilengues). No dizer de Jorge Macedo, ele usa “lexias-kimbundo no interior de um português de luzidia correcção”. O seu nome é uma referência incontornável, associada àquele minimalismo narrativo que, nas gerações seguintes, encontraremos em Boaventura Cardoso.

É um dos poucos narradores que evidencia elevado sentido de rigor na selecção dos tipos de personagens. Na sua obra inicial, reconhecemos traços caracteriais de uma perfeita articulação da psicologia das personagens a esse espaço urbano de Luanda que obedece à lógica e história predominantemente autóctones. Tal efeito é alcançado, por exemplo, no conto A mulher do padeiro, através de uma conflituosa coabitação entre personagens portuguesas e luandenses. Ou ainda em Os calundus da Joana.

Embora o seu espaço físico e social de eleição seja o Kinaxixi, em Luanda, em A Boneca de Quilengues desloca essa minúcia para Benguela, realizando pela primeira vez a introdução de “lexias-umbundu”. Arnaldo Santos é poeta e ficcionista.

Publicou:

  • Fuga (1960, poemas);
  • Quinaxixe (contos, 1965);
  • Tempo do Munhungo (crónicas, 1968);
  • Poemas no Tempo (1977);
  • Prosas (1977);
  • Kinaxixe e Outras Prosas;
  • Na Mbanza do Miranda ( conto, 1985);
  • Cesto de Katandu e outros contos ( conto,1986);
  • Nova Memória da Terra e dos Homens ( poesia,1987);
  • A Boneca de Quilengues (novela, 1991).
  • A Casa Velha das Margens ( romance,1999).

Vida e obra de Augusto Tadeu Bastos (1872 -1936)

Augusto Tadeu Bastos nasceu na cidade de Benguela a 16 de Agosto de 1872. Era filho de um português, Manuel Tadeu Pereira Bastos e de Laurinda Rosa, angolana. Fez os estudos em Portugal (tal como sua irmã Ana). Regressou a Benguela após a morte do pai.

Para ganhar a vida exerceu a actividade de guarda- livros. Anos mais tarde chegou a escrivão da Administração do Concelho da Catumbela. Foi conferencista e jornalista. Exerceu igualmente a actividade de advogado provisionário. Chegou a ser presidente da Câmara Municipal de Benguela e secretário da Assciação Comercial de Benguela. Foi membro da Liga Angolana.

Faleceu em Benguela na sexta-feira de 10 de Abril de 1936. (ver Júlio Castro Lopo, Alberto de Lemos)

Vida e obra de Boaventura Cardoso

Nasceu em Luanda a 26 de Julho de 1944, passou parte da sua infância na região de Malanji. Fez os estudos primários e secundários em Luanda. É licenciado em Ciências Sociais, diplomado em antropologia das regiões, pela Universidade Pontífica de Roma.

A sua obra resume-se em três livros de contos e dois romances, nomeadamente:

  • Dizanga dia Muenhu, (conto)
  • O Fogo da Fala, (conto)
  • A Morte do Velho Kipacaça (conto)
  • O Sino do Fogo, ( romance)
  • Maio, Mês de Maria ( romance).

Com efeito, é no plano da linguagem que Boaventura Cardoso alcança resultados que o inscrevem por direito próprio na galeria dos autores mais representativos da sua geração e da literatura angolana.

Os registos de discursos que atravessam as suas histórias, numa deliberada adequação do espaço físico e social à modulação fónico-linguística das personagens, comportam além do labor estilístico, uma estrutura de superfície textual com construções sintácticas que apontam para a existência de sujeitos textuais responsáveis por tais acções enunciativas, onde o autor introduz estratégias discursivas da oralidade.

Aí subjazem igualmente estilos de comportamento e uma figuração léxico-gramatical corroborada pelos nomes hipocorísticos das personagens. Esse aparente minimalismo textual que a elipse permite, esconde paradoxalmente um esforço em dar mais densidade aos contornos não-verbais e às diversas circunstâncias envolventes, isto é, os chamados não-ditos culturais.

Do ponto de vista sociológico, a estratégias de Boaventura Cardoso, à semelhança de Luandino Vieira, inspira rigorosamente à denúncia de clivagens e variações no funcionamento da língua portuguesa em Angola. A diglossia imprópria é para este autor um importante instrumento.

De tal modo que todos os textos parecem levantar a problemática da língua literária, relativizando-a no contexto angolano. Daí que a acção do autor se traduza na exploração das virtualidades do sistema linguístico. Os resultados que alcança no plano formal, deixam de ser suficientes para explicar tais níveis de realização,exigindo-se ainda a convocação do projecto estético subjacente.

Mas semelhante constatação só é possível se se tiver em atenção a situação de discurso em que os textos são criados. Os seus dois romances (O Signo do Fogo e Maio, Mês de Maria) apresentam um coerente fio condutor do ponto de vista da articulação das histórias respectivas. Se O Signo do Fogo é um romance que se inscreve no contexto temporal anterior à independência, ou seja, no período colonial, já em Maio, Mês de Maria temos um típico romance pós-colonial ou do pós-independência, em que se incorporam elementos do imaginário religioso perante as crises que fracturam o tecido social no centro do qual está a personagem chamada João Segunda.

O imaginário religioso e sagrado é vazado através das relações que João Segunda estabelece com um animal doméstico, a cabra Tulumba, em cujo comportamento se podem interpretar os sinais premonitórios e reprobatótios das peripécias do protagonista.

Vida e obra de Carmo Neto

Carmo Neto nasceu a 16 de Outubro de 1962 em Malanje, onde fez os estudos primários e secundários. Durante anos a fio, enquanto cumpria o serviço militar, foi jornalista da Revista Militar de que chegou a ser Director. É jurista. Presentemente exerce advocacia em Luanda.

O pequeno volume da sua produção narrativa, constituída por três textos, o últimos dos quais é colectânea de textos curtos publicados no Jornal de Angola, parece revelar um excessivo respeito pela escrita literária, preferindo uma progressiva acumulação de experiências, em vez de uma fluidez criativa. Mas ao mesmo tempo esconde expectativas e ambições para escritas e textos de maior fôlego. É membro da União dos Escritores Anglanos.

Publicou três textos narrativos:

  • A Forja (1985),
  • Meu Réu de colarinho branco (1988),
  • Mahézu (2000).

Vida e obra de Cikakata Mbalundu

Cikakata Mbalundu é natural do Mungo, província do Huambo onde nasceu em 1955. Fez os estudos na capital da província. Fixou residência na cidade do Lubango em fins da década de 70. Aí iniciou os estudos universitários em filologia germânica, vindo a formarar-se em Psicologia pelo ISCED, designação dada posteriormente a antiga Faculdade de Letras, no âmbito da reforma do ensino superior.

Obteve o doutoramento em Portugal (Universidade do Minho).

Publicou dois romances:

  • Cipembúwa (1986),
  • O Feitiço de Rama de Abóbora (1996).
  • O Feitiço de Rama de Abóbora (1996).
  • Entre a Morte e a Luz (2002).

Com as duas primeiras obras o autor participou no concurso do Prémio Sonangol de Literatura, tendo a primeira sido distinguida com uma menção honrosa e a segunda mereceu o troféu do ano de 1991.

Vida e obra de Costa Andrade

Costa Andrade cujo nome guerra é Ndunduma we Lépi, adoptado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola. É natural do Lépi, localidade situada na actual província Huambo, onde nasceu há 64 anos, em 1936, portanto. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango. Por razões que se prendiam com a falta de universidades ou outras escolas superiores nas colónias portuguesas, como acontecia na generalidade com os jovens da sua geração, Costa Andrade encontrava-se em Portugal, nas décadas de 40 e 50, com o objectivo de, em Lisboa, realizar estudos de Arquitectura.

Foi editor, com Carlos Ervedosa, da Colecção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana. Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudónimos, sendo o mais recente o heterónimo Wayovoka André.

Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo em países como Brasil e Itália. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo. Criou o heterónimo Wayvoka André.

Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se entretanto obras de poesia.

Publicou:

  • Terra de Acácias Rubras, (poesia, 1961);
  • Tempo Angolano em Itália (poesia, 1963);
  • Poesia com Armas (poesia, 1975);
  • O regresso e o canto (poesia,1975);
  • O caderno dos Heróis (poesia, 1977);
  • No velho ninguém toca (texto dramático, 1979);
  • Literatura Angolana ( Opiniões), (ensaio, 1980);
  • No país de Bissalanka (poesia, 1980);
  • Estórias de Contratados (conto, 1980);
  • Cunene corre para sul (poesia, 1984);
  • Ontem e Depois (poesia, 1985);
  • Lenha Seca (versões em português do fabulário de língua Umbundu, 1986);
  • Dizer Assim( versões em português de provérbios da líbgua Umbundu, 1986);
  • Os sentidos da pedra ( poesia, 1989);
  • Falo de Amor por Amar (poesia),
  • Lwini (poesia);

Com o heterónimo Wayovoka André,

  • Limos de Lume (poesia, 1989);
  • Irritação (poesia, 1996);
  • Memória de Púrpura (Luanda, UEA, poesia, 1991).

Vida e obra de Dário de Melo

Dario de Melo nasceu em Benguela a 2 de Dezembr o de 1935. Fez os estudos primários e parte dos secundários em Benguela. Em Portugal concluíu o Magistério Primário. Diplomado em 1955, foi inspector escolar e professor em diversas localidades de Angola, tendo chegado ainda a docente de disciplinas como português e pedagogia na antiga escola de professores de posto no Kuima.

O seu currículo pessoal conta outros ofícios. Como jornalista colaborou em vários órgãos da comunicação social, designadamente jornais, rádio e televisão. Enquanto escritor é o mais prolífico dos autores de literatura infanto-juvenil tendo publicados dezoito títulos. Em 1998, arrebatou o Prémio PALOP de Língua Portuguesa de Literatura Infantil.

É membro da União dos Jornalistas Angolanos e da União dos Escritores Angolanos.

Publicou entre outros livros:

  • Quitubo – a terra do Arco-Íris (narrativa infanto-juvenil);
  • Onda Dormida (poesia);
  • INALDINO (narrativa infanto-juvenil);
  • Os Riscos Mágicos (narrativa infanto-juvenil);
  • As Sete Vidas de um Gato (narrativa infanto-juvenil);
  • Aqui, mas do outro lado (novela);
  • Farinha do mesmo saco (crónicas publicadas na Internet).

Domingos Van-Dúnem

Domingos Van-Dúnem nasceu em 1925 na localidade de Mbumba, em Caxito. Passou parte da sua infância em Luanda, onde fez os seus estudos primários. Em 1945 desempenhou funções de secretário de redacção do Jornal O Farolim, que era publicado na capital angolana desde 1932.

Intensificou a sua actividade jornalística em Luanda, na segunda metade da década 40, tendo sido igualmente colaborador de jornais publicados em Lourenço Marques, actual Maputo e Lisboa. Da sua dispersa e vária colaboração a título de ilustração o seu primeiro conto A PRAGA publicado no Diário de Luanda em Agosto de 1947 dois artigos inseridos no Jornal Acção nomeadamente Breves considerações a roda de um grande tema e Notícia sobre o poeta Rui Noronha, datados de Junho e Setembro de 1947.

Publicou: Um História Singular, Milonga, Dibundu e Kuluka. Apesar de publicadas depois de 1974, as obras deste autor, tal como acontece com a de outros escritores, carregam marcas da experiência individual da sua geração em que avulta contexto da situação colonial. Com Uma História Singular, publicado em 1975, inicia o tratamento de um tema que ressurge em narrativas posteriores, com algumas variações de intensidade.

Este texto breve parece constituir uma paródia do destino das mulheres que, originárias das franjas inferiores da escala social, entram em amancebia com homens detentores de algum estatuto social, para contornar obstáculos da sua condição económica. Milonga é um livro que inclui três contos cujas histórias decorrendo no período colonial se inscrevem no espaço urbano de Luanda e na região do Kuanza-Norte.

Merece, no entanto, destaque O Processo, um conto que repete a história de uma criatura que vive as peripécias de uma indigência idílica. O tecido novelesco de Dibundu comporta igualmente um feixe de acções que descambam no drama de uma mulher. Hébu é o nome da sacrificada personagem cuja infelicidade parece estar predeterminada por uma relação sexual episódica com um administrador colonial e que a expõe ao opróbio do seu meio.

Por outro lado, na obra de Domingos Van-Dúnem constrói e atribui às personagens o uso de expressões idiomáticas motivadas pela co-presença da língua kimbundu, no espaço em que os eventos narrativos se inscrevem.

Em síntese, a obra de Domingos Van-Dúnem produz um traço de originalidade em razão da sua recorrência temática: a mulher, a personagem feminina e motivos associados aparecem em representações realistas, actuando em situações que lhes conferem sentido, mas destituídas tendencialmente de qualquer imagem patética.

Vida e obra de Ernesto Lara Filho (1932 – 1977)

A morte colheu-o em 1977, quando no apogeu de viver projectava certamente outras aventuras. Nascido em 1932, com o nome civil de Ernesto Pires Barreto de Lara, contava quarenta e cinco anos de idade, na data em que entrou para a galeria dos escritores mortos de que já fazia parte Alda Lara, sua irmã.

Em 1945, partiu para Portugal com a finalidade de frequentar a escola de regentes agrícolas de Coimbra. A partir de 1952 inicia uma actividade intermitente de jornalista e regente agrícola. A alternância vai pendendo mais para o jornalismo. Como jornalista começa o ofício nos jornais Comércio e Diário de Luanda entre 1954 e 1958.

Ele mesmo escreveria: “Há alguns anos – por volta de 1954 – quando ingressei no jornalismo diário angolano – dediquei-me de alma e coração a tentar fazer renascer nas pessoas que me liam o gosto pelas coisas de Angola” (pessoas & coisas, 1962/63, Notícias).

Data da década de 50 a sua coluna de crónicas, Roda Gigante publicada no Jornal de Angola da Associação dos Naturais de Angola. De 1959 a 1961 está no jornal ABC de Luanda pelo qual chegou a ser enviado a Lisboa como repórter. Em 1961, está no Huambo exercendo a profissão. É regente agrícola na Junta de Exportação de Cereais.

É colega de Rebelo de Andrade na estação de melhoramentos de plantas da Chianga. Ainda nesse ano ambos fundam a Colecção Bailundo, na esteira de publicações que vinham sendo feitas pela Colecção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império de Lisboa e pela Colecção Imbondeiro do Lubango, então Sá da Bandeira. O primeiro livro da colecção foi uma recolha de poemas de Alexandre Dáskalos, poeta do Huambo que morrera no mesmo ano. O segundo livro foi Picada de Marimbondo do próprio Ernesto Lara.

É demitido da Junta ainda em 1961. Em trânsito para Lisboa, revisita Benguela e Luanda. Parte em seguida para o exílio. Passa por Portugal. Deambula pela Europa. Mas, depois de uma actividade política efémera exercida em Paris, integrando as fileiras da FUA, abatido pela nostalgia regressa ao Huambo, então Nova Lisboa. Em 1963, sai a público Canto do Martrindinde, seu segundo livro de poesia.

A topografia, a fauna e personagens castiças são elementos de uma escrita saudosa, nostálgica mas absolutamente ancorada ao tempo e ao espaço, nas coordenadas da memória e de uma história pessoais.

Sempre que estivesse longe da terra, era dilacerado no seu âmago. Embora em Picada de Marimbondo, um livro publicado em 1960, o tom do discurso poético apontasse já para esse lirismo, é sobretudo com O Canto do Martrindinde que a nostalgia liquida o poeta. Aliás, ao título deste livro acrescenta: e outros poemas feitos no Puto.

Vida e obra de Fernando Kafukeno

Fernando Kafukeno nasceu em Luanda aos 18 de Novembro de 1962, onde fez os estudos primários, secundários e pré-universitários. Foi membro da Brigada Jovem de Literatura de Luanda. Em 1987 integrou o elenco directivo da Brigada Jovem de Literatura de Angola.

Organizou tertúlias literárias que cujo cenário era a cervejaria Biker, na baixa de Luanda.Os seus primeiros poemas foram publicados no suplemento cultural do Jornal de Angola. Na fase inicial da sua carreira, demonstrou sempre uma avidez de leitura e convívio pessoal com outros poetas. Assim se explica a amizade que na década de 80 travou com o malogrado David Mestre.

Estamos, pois, diante de um poeta que, ao lado de outros mais ousados da sua geração, e pugnando por uma certa discrição mediática, apresenta um elevado nível de elaboração no fazer da poesia, recorrendo ao experimentalismo poético, a um selectivo acervo vocabular brandamente marcado pela topografia de Luanda e à construção do texto curto e denso. É uma revelação de vulto na poesia angolana da geração de 80, a chamada geração das incertezas.

É membro da União dos Escritores Angolanos. Arrebatou o Prémio de Literatura Cidade e Luanda 1999 com o livro Missangas !Kituta

Publicou:

  • Boneca do Bê-Ó (1983);
  • Na Máscara do Litoral ( 1997);
  • Sobre o Grafite da Cera (2000);
  • Missangas Kituta (2000)

Vida e obra de Frederico Ningi

Frederico Ningi nasceu em Benguela a 17 de Fevereiro de 1959.Fez os estudos primários e secundários na cidade natal e em Luanda realizou estudos de jornalismo.Presentemente é assistente de comunicação e imagem da Sonangol Aeronáutica.

Filho de pais tocoístas, sobre os quais se abateu a restrição de liberdade religiosa na década de 60, cedo começou a ler Bíblia nas versões em Umbundu e Português, tendo-se tornado na adolescência leitor assíduo da literaturta espiritual oriental e praticante de yoga.

Enquanto poeta integra uma das quatro tendências em que podemos analisar a poesia da geração de 80.Faz parte daquele grupo de poetas iconoclastas, que além de perturbarem a estrutura morfológica das letras e palavras com o jogo de maiúsculas, a presença de termos em línguas nacionais, introduzem uma ordem visual nos seus textos,produzindo um resultado surpreendente na combinação de fotografia, grafismo monocromático e gravuras de tratamento informático.

Dedica-se igualmente à fotografia cuja actividade desenvolve de modo quase profissional. É membro da União dos Escritores Angolanos e da União dos Artistas Plásticos.

Publicou:

  • Os Címbalos dos Mudos (1994) e Infindos na Ondas (1998).

Vida e obra de Henrique Abranches

Henrique Abranches nasceu em Lisboa em 1932. Veio para Angola em 1947. Participou na luta política clandestina contra o colonialismo português, tendo por conseguinte adquirido a nacionalidade angolana. Esteve exilado em Argel, onde foi co-fundador do Centro de Estudos Angolanos.

Neste Centro trabalhou com Pepetela na redacção de um manual de História de Angola usado nos centros de instrução revolucionária do MPLA, no período da guerra anti-colonial e adoptado para o sistema de ensino angolano, nos anos que se seguiram à independência.

Durante muito tempo foi considerado um dos mais proeminentes investigadores de questões culturais angolanas, nomeadamente aquelas que dizem respeito à museologia, história, etnologia, especialmernte às chamadas culturas etno-regionais.

Pode igualmente ser considerado um autor cerebral com uma poderosa e quase infindável capacidade de criar mundos fanstásticos. Publicou Diálogo, A Konkava de Feti, O Clã de Novembrino, Kissoko de Guerra, Sobre a Colina de Kalomboloca, Cântico Barroco, Titânia, Misericórdia para o Reino do Congo! e Os Senhores do Areal. Tem no prelo o 1º volume do romance As Marés do Bacilon com o título “O Ovo Magentino”.

Três romances deste autor merecem a nossa atenção, nomeadamente:

  • A Konkava de Feti,
  • O Clã de Novembrino (romance de três volumes)
  • Misericórdia para o Reino do Congo!.

Em A Konkhava de Feti socorre-se de materiais das tradições orais dos povos do sudoeste de Angola.

Em O Clã de Novembrinonarra a história de um naufrágio, gravitando à volta do velho tema da ilha. Os sobreviventes que, são colonos africanos cujo destino era o Brasil. Fundam uma nova comunidade no pedaço de terra para onde são lançados pelas ondas do Atlântico.

Numa persistente luta contra as adversidades da natureza constroem uma sociedade cujas bases são constituídas pela cultura das diversas étnias do país de origem. Instituem regras e normas apropriadas à sua situação como, por exemplo, a que diz respeito à regulação das relações entre os homens e as mulheres, devido à escassez destas últimas.

Mas se tivermos em atenção a tematização da histórica, é sem dúvida o terceiro que melhor situa o autor no panorama da ficção narrativa angolana.

Henrique Abranches vai à História de Angola e submete a um tratamento ficcional o chamado movimento messiânico dos antoninos que no século XVII é liderado por Cimpa Vita. O cenário é o reino do Congo, mais precisamente na região do Soyo.

Vida e obra de Henrique Guerra

Henrique Guerra nasceu em Luanda a 25 de Julho de 1937. É engenheiro civil, tendo exercido actividade docente na Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto. Fez a sua estreia literária aos 20 anos de idade. Além de escritor, é artista plástico.

Pertence a chamada geração da Cultura, designação que deriva do nome da principal publicação literária da cidade da década de 50/60, publicada em Luanda pela Sociedade Angolana de Cultura. Colaborou em outras publicações peródicas como o Jornal de Angola da Associação dos Naturais de Angolana (ANANGOLA) e Mensagem da Casa dos Estudantes do Império.

Foi membro da Comissão de Redacção da gazeta Lavra & Oficina e Secretário para as Actvidades Culturais da União dos Escritores Angolanos de que é membro fundador. Henrique Guerra, que foi preso político nos anos 60 em Lisboa, é um daqueles escritores que, no percurso histórico-literário angolano, representam o modo como foi assumida a dimensão cívica da actividade literária.

Publicou:

  • A Cubata Solitária ( contos, 1962);
  • Angola – Estrutura Económica e Classes Sociais (ensaio, 1975);
  • Quando me Acontece Poesia (poesia, 1976);
  • Alguns poemas (1978);
  • O Círculo de Giz de Bombó (teatro, 1979);
  • Três Histórias Populares (ficção narrativa, 1980 )

Vida e obra de Jacinto de Lemos

Jacinto de Lemos nasceu em Icolo – e – Bengo a 2 de Janeiro de 1961. Fez os estudos primários, secundários em Luanda. Publicou Undengue (1989), menção honrosa do Concurso Sonangol de Literatura em 1986 e O Pano Preto da Velha Mabunda ( 1997).

No plano temático, a sua narrativa caracateriza-se pelo modo como é apresentada a paisagem social suburbana luandense e as personagens que tipificam o seu universo social, feito nomeadamente de humor e relações conflituosas, destacando-se entre os intervenientes crianças, mulheres e homens ociosos ou marginais.

Do ponto de vista da linguagem, os diálogos, a narração dos factos, e a descrição dos ambientes em que interagem aquelas personagens, são os aspectos mais visíveis.

Vida e obra de João Maimona

Nasceu a 8 de Outubro de 1955, em Kibocolo, Maquela do Zombo. Estudou humanidades científicas em Leopoldeville.Em 1978, fixou residência na província do Huambo, onde se licenciou em medicina veterinária. É diplomado em Estudos Superiores Especializados de Virologia Médica e Epidemiologia Animal, pelo Instituto Pasteur de Paris e pela Ecole Nationale Veterinaire d’Alfort,

França. É quadro do Ministério de Agricultura e do Desenvolvimento Rural e desempenhou as funções de Director Nacional do Instituto de Investigação Veterinária (I.I.V.), de 1991 a 1993. É assistente da Universidade Agostinho Neto. Foi membro fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo.

É membro da União dos Escritores Angolanos. Em 1984, arrebatou o prémio Sagrada Esperança com o livro de poesia Trajectória Obliterada. Em 1987, foi distinguido com a medalha de bronze no concurso internacional de poesia, organizado pela Academia Brasileira de Letras, na cidade do Rio de Janeiro. Tem colaboração dispersa pela imprensa angolana e estrangeira. Figura na Antologia No Caminho Doloroso das Coisas (1988).

É deputado à Assembleia Nacional.

Publicou:

  • Trajectória Obliterada (poesia,1985);
  • Les Rose Perdues de Cunene (poesia,1985);
  • Traço de União (poesia, 1987, 1990);
  • Diálogo com a Peripécia (teatro, 1987);
  • As Abelhas do Dia (poesia, 1988, 1990);
  • Quando se ouvir o sino das sementes (poesia, 1993);
  • Idade das Palavras (poesia, 1997);
  • No Útero da Noite (poesia, 2001);
  • Festa de Monarquia (poesia, 2001).

Vida e obra de João Melo

João Melo é jornalista, escritor, publicitário. Nasceu em Luanda, em 1955. Estudou Direito em Coimbra e em Luanda. Licenciou-se em Comunicação Social e fez o mestrado em Comunicação no Rio de Janeiro.

Dirigiu vários meios de comunicação angolanos, estatais e privados. Foi secretário-geral da União dos Escritores Angolanos. Actualmente, além de presidente da Comissão Directiva da UEA, dirige uma agência de comunicação privada e é deputado à Assembleia Nacional.

Publicou:

  • Definição (poesia, 1985);
  • Fabulema (poesia, 1986);
  • Poemas Angolanos (poesia, 1989);
  • Tanto Amor (poesia, 1989);
  • Canção do Nosso Tempo (poesia, 1991);
  • O Caçador de Nuvens (poesia, 1993);
  • Limites & Redundâncias (poesia, 1997);
  • Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir ( contos, 1998);
  • Jornalismo e Política (ensaio, 1991).

Vida e obra de João Tala

João Tala nasceu em Malanje a 19 de Dezembro de 1959. É médico exercendo a profissão como interno em alguns hospitais de Luanda. Iniciou a sua actividade literária na cidade do Huambo, onde cumpria o serviço militar e foi co-fundador da Brigada Jovem de Literatura.

Apesar de ter frequentado círculos literários daquela cidade, de que despontaram ainda na década de 80 importantes nomes da novíssima poesia angolana como João Maimona, o seu primeiro livro de poesia sai a público apenas em 1997. Arrebatou o prémio Primeiro Livro da União dos Escritores em 1997 e o promeiro lugar dos Jogos Florais do Caxinde em 1999.

Parecendo justificar o respeito que nutre pela poesia, o seu livro de estreia é, apesar dos cerca de 15 poemas, uma auspiciosa contribuição para a renovação e diversidade do discurso poético angolano.

O segundo livro voltou a merecer um acolhimento encomiástico da parte de José Luís Mendonça, outro expoente da sua geração, que o considera como uma vocação poética a irromper no universo das letras angolanas com soberania inerente aos grandes criadores.

Publicou:

  • A Forma dos Desejos (poesia,1997);
  • O Gasto da Semente (poesia, 2000)

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Vida e obra de Joaquim Dias Cordeiro da Matta (1857-1894)

Joaquim Dias Cordeiro da Matta, natural de Icolo e Bengo, nasceu em 25 de Dezembro de 1857 na povoação de Cabiri. Morreu precocemente em 1894. Terá sido provavelmente o mais velho dos irmãos, Luís Domingos Cordeiro da Matta e Domingos José Cordeiro da Matta cujos nomes vêm mencionados em mapas do movimento da escola do concelho de Icolo e Bengo durante o ano de 1879.

Estudava-se na época disciplinas como leitura, escrita, catecismo, aritmética e tabuada. Possuindo igualmente uma formação primária elementar, Joaquim Dias Cordeiro da Matta é um dos muitos exemplos do autodidactismo que continua a fazer história no jornalismo e na investigação em Angola.

Numa nota necrológica publicada no jornal O Arauto Africano, diz Mamede de Sant’Ana e Palma: “ Não cursou universidade, nunca esteve em colégio nenhum da Europa, nem em escola nenhuma de Loanda e é por isso mesmo que tem juz (…) à estima dos seus patrícios e ao respeito dos homens ilustrados, porque à força de muita vontade tem querido honrar o seu país legando à posteridade o fruto da sua dedicação (…)”.

Evitando fixar residência em Luanda, passava maior parte do tempo na Barra do Kwanza, onde vivia. E «rodeava-se de uma biblioteca que causava admiração aos contemporâneos». J.D. Cordeiro da Matta, «o pai da literatura angolana», demonstrou possuir uma personalidade potencialmente multifacetada. Mário António analisa-a em sete vertentes: poeta, cronista, romancista, jornalista, pedagogo, historiador, filólogo e folclorista.

Publicou entre outras obras Delírios (poesia), Philosophia Popular em Provérbios Angolenses (1891, pesquisa da literatura e filosofia oral),

Ensaio de Diccionário Kimbundu-Portuguez (1893), Cartilha racional para se aprender a ler o Kimbundu escrita segundo a Cartilha Maternal de João de Deus.

Vida e obra de Jorge Macedo

Jorge Macedo nasceu na cidade de Malanje em 1941. A primeira actividade profissional que desenvolveu foi a de regente escolar, tendo ingressado em seguida na carreira administrativa. Após a independência ocupou vários cargos de responsabilidade entre os quais os de Director Nacional de Arte e Director Nacional da Escola de Música. Fez os estudos primários e secundários em Malanje.

Educado nos seminários, frequentou os seminários Menor e Maior de Luanda até ao curso de Filosofia. Formou-se em etnomusicologia pela Universidade de Kinshasa. Reside actualmente em Lisboa onde exerce a actividade de jornalista, dirigindo a Revista Afro-Letras da Casa de Angola em Portugal.

Este autor pode ser considerado como sendo um dos raros poetas e ficcionistas que, pela estreia precoce à semelhança de Mário António, assinala com a sua obra a transição de gerações, neste caso da geração de 60 a de 70.

E pode tal facto estar na origem da sua propensão para o exercício dos vários géneros literários e associações a outras manifestações artísticas.

Acabou por ser igualmente colhido pelo desencanto que longe da pátria se agrava, quando sente o país dilacerado pela guerra. É este o tema do seu último livro de poesia, O Livro das Batalhas.

Iniciou a sua vida literária em 1957 com a publicação do livro de poesia Tetembu. Seguiram-se As mulheres ( poesia, 1970), Pai Ramos (poesia, 1971), Irmã Humanidade (poesia, 1973), Gente do meu bairro (ficção narrativa, 1977), Clima do Povo ( poesia, 1977), Voz de Tambarino (1978), Geografia da Coragem (romance,1980) Página do Prado (1989), Literatura Angolana e Texto Literário (ensaio, 1989), Poéticas na Literatura Angolana (ensaio,1989) Sobre o Ngola Ritmos (ensaio, 1989) O Livro das Batalhas (1993), O Menino com olhos de bimba ( contos de literatura infantil, 1999).

Vida e obra de José de Fontes Pereira

José de Fontes Pereira nasceu em Luanda em Maio de 1823. Aí fez os estudos primários. Imbuído de um grande espírito autodidáctico, como acontecerá com muitos jornalistas das gerações seguintes, realizou estudos de direito, tendo chegado a advogado provisionário, após obtenção de correspondente habilitação.

O seu nome encabeça a lista das mais brilhantes penas que exercitaram o discurso protestatário em prosa no jornalismo angolano e que lançaram a ensaística angolana, na segunda metade do século XIX, sendo considerado ídolo inspirador das gerações que em fins do século XIX e na primeira metade do século XX desenvolveram e consolidaram o jornalismo e a autonomia da literatura angolana.

Colaborou em diversos jornais publicados em Luanda no século XIX, tais como O Cruzeiro do Sul, O Arauto Africano, O Mercantil, O Futuro de Angola, O Pharol do Povo.

Vida e obra de José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa nasceu em Dezembro de 1960, na cidade do Huambo. Reside em Lisboa. É jornalista do Público e da RDP-África.

Publicou:

  • A Conjura (1989, que mereceu o Prémio Sonangol de Literatura,
  • D. Nicolau
  • Água – Rosada

Outras Estórias Verdadeiras e Inverosímeis (1990),

  • A Feira dos Assombrados (1992),
  • Estação das Chuvas (1996),
  • Nação Crioula (1997).

Vida e obra de José Luís Mendonça

José Luís Mendonça nasceu a 24 de Novembro de 1955, no Golungo Alto, província do Kwanza Norte. Jornalista e poeta, é funcionário do UNICEF Angola, onde exerce actualmente as funções de assistente de informação.

Podendo ser considerado o mais vigoroso produtor de rupturas no plano formal naquilo que é a novíssima poesia angolana, preenche igualmente os requisitos para ser um dos mais inovadores poetas da Geração de 80, a chamada Geração das Incertezas.

Inscreve-se numa das quatro tendências em que podemos analisar a poética dessa geração, caracterizando-se particularmente pelo rigor e intencionalidade na construção de metáforas e pela associação de sentidos, quando é confrontado com a necessidade de propor uma verdadeira linguagem poética.

Escreve para diversos órgãos de imprensa angolanos e tem participado em vários festivais internacionais de poesia.Figura em antologias de poesia angolana publicadas no Brasil e Portugal. É membro da União dos Escritores, desde de 1984.

Publicou seis livros de poesia:

  • Chuva Novembrina (1981, Prémio de poesia Sagrada Esperança, INALD,1981);
  • Gíria de Cacimbo ( Prémio Sonangol de Literatura, União dos Escritores Angolanos, 1986);
  • Respirar as Mãos na Pedra ( Prémio Sonangol de Literatura, União dos Escritores Angolanos,1986);
  • Quero Acordar a Alva (Prémio de Poesia Sagrada Esperança,ex-aequo, INALD,1996);
  • Logaríntimos da Alma- Poemas de Amar, (União dos Escritores Angolanos,1998);
  • Ngoma do Negro Metal (Edições Chá de Caxinde, 2000)

Vida e obra de José Mena Abrantes

José Mena Abrantes nasceu em 11 de Janeiro de 1945 em Malanje, onde fez os estudos primários. Concluíu o ensino secundário em Luanda. Formou-se em Filologia Germânica em Lisboa. De 1970 a 1974 esteve exilado na Alemanha Federal.

Iniciou a sua atividade teatral em 1967 em Lisboa. Na década de 70 frequentou cursos e seminários de dramaturgia, tendo participado em diversos festivais internacionais e dirigido vários grupos teatrais.

Já em Angola, foi co-fundador de grupos teatrais como Tchinganje e Xilenga Teatro, entre 1974 e 1975. Nos anos 80 fundou o grupo Elinga Teatro com o qual tem trabalhado na montagem de peças de sua autoria e de outros dramaturgos, além de uma intensa particpação internacional em países como Cabo-Verde, Brasil, Itália, Moçambique e Portugal, destacando-se a presença em festivais internacionais como o FITEI.

José Mena Abrantes é também poeta e ficcionista que na década de 80 arrebatou por três ocasiões o Prémio Sonangol de Literatura.

Destaca-se fundamentalmente como um dos mais perseverantes encenadores do teatro que assume intensamente a actvidade criativa de dramaturgo, combinando a busca de paineis temáticos na história e nas literaturas orais com um trabalho de reflexão teórica sobre o teatro angolano.

É membro da União dos Escritores Angolanos

Publicou:

  • Ana,Zé e os Escravos (teatro, prémio sonangol de literatura, 1988);
  • Nandyala ou a Tirania dos Monstros (teatro, 1993);
  • Sequeira, Luís Lopes ou o mulato dos prodígios (teatro, 1993);
  • A órfã do rei (teatro, 1996);
  • Meninos (poesia, prémio sonangol de literatura, 1991);
  • Caminhos desencantados (ficção, 1996);
  • Objectos musicais (poesia, 1997);
  • Cinema angolano: um passado a merecer melhor presente (ensaio, 1986);
  • O Teatro Angolano (ensaio, 1994).

Vida e obra de Lopito Feijóo

J.A.S. Lopito Feijoó nasceu no Lombe, província de Malanje a 29 de Setembro de 1963. Passou a infância em Maquela do Zombo e adolescência em Luanda, no bairrro do Cazenga. Fez os estudos primários, secundários e pré-unviversitários em Luanda.

Na década de 80 foi co-fundador da Brigada Jovem de Literatura de Luanda e realizou estudos de Direito na respectiva Faculdade da Universidade Agostinho Neto. Fez parte do elenco de direcção da Brigada Jovem de Literatura até 1984, data em que, com outros membros que pugnavam pela ruptura dos cânones do cantalutismo e pela busca de novas formas estéticas e semânticas para a Literatura Angolana, se constituíu o Grupo Literário OHANDANJI.

Destaca-se na sua geração pela sua actividade de editor de publicações informais e plaquettes, além de boémio alimentador de polémicas, é activo frequentador de tertúlias, praticante da crítica e do ensaio nos anos 80.

Mas é sobretudo com o texto poético que se firmou no panorama da poesia angolana, caracterzando-se, para além do experimentalismo, por uma certa iconolastia e erotização do vocabulário da poesia.

Em 1985, é-lhe atribuída menção especial no Concurso literário do INALD pelo livro Entre o Ecran e o Esperma.

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Publicou:

  • Doutrina (poesia, UEA, 1987);
  • Me Ditando;
  • Rosa Cor de Rosa;
  • Corpo-a-Corpo (plaquettes de poesia, 1987);
  • No Caminho Doloroso das Coisas-Antologia de Jovens Poetas Angolanos (UEA 1988);
  • Cartas de Amor (UEA, poesia, 1990);
  • Meditando (ensaio e crítica, 1994).

Vida e obra de Luandino Vieira

Luandino Vieira nasceu em Portugal no ano de 1935, na Lagoa do Furadouro. Veio para Angola aos três anos de idade na companhia de seus pais que eram colonos portugueses. Foi preso em 1959. Voltou a ser preso em 1961 e condenado a 14 anos de reclusão.

Publicou:

  • A Cidade e a Infância(1960);
  • A Vida Verdadeira de Domingos Xavier(!961);
  • Luuanda (1963);
  • Vidas Novas (1962);
  • Velhas Estórias(1974);
  • No Antigamente, na Vida (1974);
  • Nós, os do Makulusu (1975);
  • Macandumba (1978);
  • João Vêncio e os seus Amores (1979);
  • Kapapa (1998)

Aquela intencionalidade de produzir uma linguagem distinta viria ser posta à prova em 1965, quando a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuíu o Prémio de Novelística ao livro Luuanda de Luandino Vieira que já publicara A Cidade e a Infância ( 1957).

João Gaspar Simões, um dos críticos portugueses mais categorizados e que integrava o júri, recusou o seu voto. E explica assim a sua posição: ” uma coisa é ser-se autor português, outra ser-se autor angolano, embora de expressão portuguesa, o falar dos personagens e o falar regional, o falar de povo que, como o brasileiro, mais tarde ou mais cedo, independentemente, atingirá diferenciação.

Toda a obra de Luandino Vieira posterior a Luanda está profundamente marcada por essa inquietação. Ao nível da linguagem Luandino Vieira combina a estratégia de invenção da língua do narrador que é diferente da das personagens. Isto acontece pelo facto de o autor pretender transpor deliberadamente para o texto uma experiência linguística observada,mas não vivida.

É por isso que, no nosso entender grande parte dos textos posteriores à A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, sem prejuízo das finalidades estéticas prosseguidas, não são facilmente legíveis para o homem comum do meio luandense, em que é suposto decortrerem as acções.

Vida e obra de Manuel Rui Monteiro

Manuel Rui Monteiro nasceu na cidade do Huambo em 1941. Fez os estudos primários e secundários no Huambo. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.

Publicou:

  • O Regresso Adiado;
  • Memória de Mar;
  • Sim, Camarada!;
  • Quem me Dera ser Onda;
  • Crónica de um Mujimbo;
  • 1 Morto & Os Vivos;
  • RioSeco;
  • Da Palma da Mão;
  • Saxofone & Metáfora.

A sua prosa ficção está profundamente marcada por preocupações estéticas de um realismo social que celebra o homem comum. Quando focaliza categorias de personagens da classe média, fá-lo para produzir caricaturas de comportamentos perversos. É aqui que este autor exibe a sua mestria no tratamento da sátira e da ironia.

São recursos de grande eficácia no plano semântico-pragmático. Isto é, no que diz respeito ao conjunto de significações que se lhes associam e ao modo como os leitores os interpretam. O que pode ser provado pelo número de edições e tiragens de Quem me Dera ser Onda, título que suscitou grande empatia do público leitor. É a história de um porco que habita um apartamento na companhia de uma família cujo chefe é Faustino.

Da hilaridade ao patético, a presença do animal vai provocando uma série de transtornos aos moradores do prédio, muitos dos quais pautam a sua conduta por regras e valores de um mundo urbano que começa a ser outro, como é este o da domesticação de animais no espaço residencial para a satisfação das necessidades de consumo de carne. É uma sátira mordaz a respeito de fenómenos de mobilidade social de determinadas categorias, do mimetismo dos novos ricos, e do populismo político.

O realismo social, a sátira e a ironia logram níveis de elaboração estética em Rioseco, um romance cuja história decorre numa ilha adjacente à parte continental de Luanda. Um casal de refugiados do sul e leste de Angola, em que o marido e a mulher pertencem a etnias diferentes, vai acoitar-se no mundo insular de pescadores pertencentes a uma outra etnia do norte.

Tecem profundas relações sociais de solidariedade, e apesar das suas origens étnicas, acabam todos eles,por construir um mundo diferente em que procuram banir a violência que dilacera o continente. No plano da linguagem, Manuel Rui Monteiro experimenta o recurso à diglossia imprópria, através do qual os dircursos das personagens são impregnados de estruturas frásicas e semânticas que vazam das línguas autóctones e de uma psicologia equivalente.

Não sendo ainda de desprezar a semântica do antropónimo de uma personagem feminina que é Noíto. Aqui vemos Manuel Rui lançar mão da memória que debita materiais para a ficção, pois trata-se de uma personagem que viveu no Huambo, afamada por ser uma grande quimbanda, ou seja, terapeuta tradicional a quem eram reconhecidos poderes do mundo intangível. E no romance Noíto é, no essencial, uma mulher capaz de decifrar os segredos da natureza e pressagiar infortúnios.

Vida e obra de Maria Celestina Fernandes

Maria Celestina Fernandes nasceu na cidade do Lubango a 12 de Setembro de 1945. Fez os estudos primários e secundários em Luanda. Na sua vida profissional tem inscritas experiências desenvolvidas em actividades como Assistente Social. É jurista e exerce o cargo de Consultora jurídica de instituições bancárias angolanas.Iniciou a sua carreira literária em 1980. Mas começa a publicar apenas em 1990.

Enquanto escritora revela-se mais preocupada com a construção de textos dirigidos ao imaginário infanto-juvenil. Integra, por essa razão, a lista dos poucos escritores que se dedicam à literatura infantil. Animada pela força que as estórias podem ter sobre a imaginação das crianças, nos seus livros propõe fantasias a que associa sempre um certo fundo moral. É membro da União dos Escritores Angolanos.

Publicou:

  • A Borboleta Cor de Ouro (1990);
  • Kalimba (1992);
  • Retalhos da Vida (1992);
  • A Árvore dos Gingongos (1993);
  • A Rainha Tarataruga (1997);
  • A Filha do Soba (2001).

Vida e obra de Mário António (1934-1988)

Mário António Fernandes de Oliveira nasceu em Maquela do Zombo em 1934. Fez os estudos primários e secundários em Luanda, para onde foi viver aos sete anos de idade. Funcionário público desde 1952, desenvolveu actividades de pesquisa em Luanda como colaborador do Instituto de Investigação Científica de Angola.

Em 1963 parte para Lisboa onde concluíu o Curso de Licenciatura em Administração Ultramarina com distinção, tendo sido convidado a exercer a docência a partir de 1966. Como investigador destacou-se pela dedicação ao estudo da história, da literatura e da cultura angolana em geral.

A sua poesia que se distinguia por um lirismo de síntese marcado pelos recursos estilísticos de transição, divide-se em duas fases.

Publicou:

  • 100 Poemas (1963);
  • Era tempo de Poesia (1966);
  • Rosto da Europa (1968);
  • Coração Tranplantado (1970);
  • Crónicas de uma cidae estranha (1964);
  • Farra de fim de semana (1965);
  • Luanda Ilha Crioula (1968)

Vida e obra de Mário Pinto de Andrade

Nasceu em 21 de Agosto de 1928 no Golungo Alto e faleceu em Londres a 25 de Agosto de 1990. Era filho de José Cristino Pinto de Andrade e de Ana Rodrigues Coelho. Em Luanda para onde veio em 1930, frequentou o Seminário de Luanda onde fez os estudos primários. No colégio das Beiras concluíu o ensino secundário em 1948.

Em Outubro deste ano parte para Lisboa com o objectivo de estudar filologia clássica, tendo-se matriculado na Faculdade de Letras da Universidade Clássica.

Com outros estudantes e intelectuais de países africanos de língua portuguesa, entre os quais angolanos, como Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro, funda em 1951 o Centro de Estudos Africanos, um círculo de reflexão e investigação sobre temas e problemáticas respeitantes ao continente africano.

Sob influência do pan-africanismo, da difusão de obras africanas e do desempenho de intelectuais africanos residentes em Paris, Mário Pinto de Andrade parte em 1954 para o exílio em Paris, onde se integra nos círculos africanos.

Torna-se amigo pessoal do senegalês Alioune Diop, passando em seguida a fazer parte do corpo redactorial da então prestigiada revista Présence Africaine. Em 1956 toma parte activa do 1º Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em Paris, em que estiveram igualmente poresentes Manuel dos Santos Lima e Joaquim Pinto de Andrade.

Três anos depois, em 1959, com Viriato da Cruz, participa no 2º Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma. Na década de 60, ao lado de outros patriotas angolanos como Viriato da Cruz e Lúcio Lara, lança-se na luta política activa.

Três anos depois renuncia a liderança do Movimento Popular de Libertação Nacional de Angola, preferindo assumir a postura de intelectual, desenvolvendo pesquisas e prosseguindo os estudos de sociologia, além de uma intensa actividade de publicações.

Mário Pinto de Andrade deve ser considerado o mais importante e exemplar ensaísta angolano do século XX. Além de artigos e ensaios espalhados em publicações periódicas, publicou Antologia Temática de Poesia Africana (1953, 1979), La Poesie Africaine d’Expression Portugaise (1969), La Guerre en Angola (1971), Amilcar Cabral – Essai de biographie politique (1980), Origens do Nacionalismo Africano (1997).

Vida e obra de Mota Yekenha

Mota Yekenha nasceu no Cipeio, província do Huambo, em Fevereiro de 1962. Aí viveu a infância e juventude. Frequentou a escola primária na missão católica local. Formou-se em filosofia e teologia no Seminário Maior do Huambo. Tem um romance publicado em 1992, sob o título Kambonha, com a chancela da Europress.

Vida e obra de Óscar Bento Ribas

Óscar Bento Ribas nasceu em Luanda a 17 de Agosto de 1909. É filho de pai português, Arnaldo Gonçalves Ribas, natural de Guarda (Portugal), e de mãe angolana, Maria da Conceição Bento Faria, natural de Luanda.

Fez os estudos primários e secundários em Luanda, tendo passado pelo Seminário-Liceu de Luanda. Poucos anos depois da criação do Liceu Salvador Correia de Luanda, viria em dois anos a concluir aí o 5º ano.

Após uma estada em Portugal onde estudou aritmética comercial, regressa a Angola indo empregar-se na Direcção dos Serviços de Fazenda e Contabilidade. Residiu sucessivamente nas cidades de Novo Redondo, actual Sumbe, e Benguela, Ndalantando e Bié.

Foi em Benguela que aos 22 anos de idade se começaram a manifestar os primeiros sinais da doença que, 14 anos depois, o levaria à cegueira definitiva aos 36 anos de idade. Considerado fundador da ficção literária moderna angolana, após António de Assis Júnior, Óscar Ribas iniciou a sua actividade literária nos tempos de estudante do Liceu. A sua primeira fase de publicações começa com duas novelas: Nuvens que passam em 1927 e Resgate de uma falta em 1929.

Segue-se a segunda fase com Flores e espinhos (1948), Uanga (1950) e Ecos da minha terra (1952). No dizer do ensaísta e crítico literário Mário António, “Nesta última fase se inicia a prospecção da africanidade na obra de Óscar Ribas” para a qual contribuíu decisivamente ” sua Mãe, D. Maria Bento Faria, protótipo das senhoras africanas do outro tempo, mantendo vivas as fontes originais da sua própria sabedoria”.

Em toda a produção literária posterior, Óscar Ribas demonstra na verdade uma propensão pouco comum entre os escritores da sua geração e mesmo em gerações posteriores.

Revela-se profundamente preocupado com os temas da literatura oral, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de língua kimbundu.

Destas preocupações resultam a sua bibliografia dos anos 60, nomeadamente:

  • Ilundo – Espíritos e Ritos Angolanos (1958,1975);
  • Missosso 3 volumes (1961,1962,1964);
  • Alimentação regional angolana (1965);
  • Izomba – Associativismo e recreio (1965);
  • Sunguilando – Contos tradicionais angolanos (1967, 1989)
  • Kilandukilu – Contos e instantâneos (1973);
  • Tudo isto aconteceu – Romance autobiográfico (1975);
  • Cultuando as musas – poesia (1992);

Dicionário de Regionalismos angolanos. Óscar Ribas foi por diversas vezes distinguido com prémios e títulos honoríficos: Prémio Margaret Wrong (1952), Prémio de Etnografia do Instituto de Angola (1959), Prémio Monsenhor Alves da Cunha (1964). Quanto a títulos, com que foi agraciado: membro titular da Sociedade brasileira de Folk-lore (1954), Oficial da ordem do infante do governo português (1962), medalha Gonçalves Dias pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1968), Diploma de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura ( 1989).

Vida e obra de Paula Tavares

Ana Paula Tavares nasceu na Província da Huíla, em 1952. É historiadora com uma especialização em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.Presentemente reside em Lisboa onde tem vindo a desenvolver a sua actividade profissional nos domínios da investigação histórica, além de paralelamente exercer a docência.

Quando em 1985, publicou o seu primeiro livro foi efusivamente acolhida pela comunidade dos poetas angolanos. Apesar de escrever igualmente em prosa, a especificidade da sua poesia, que revelava assim uma nova voz feminina cuja dicção poética demonstrava já alguma maturidade,despontou na apropriação das imagens e registos das oralidades étnicas angolanas colocando no centro a mulher enquanto sujeito. É membro da União dos Escritores Angolanos.

Publicou:

  • Ritos de Passagem (poesia,1985);
  • O Sangue das Buganvílias (crónicas, 1998);
  • O Lago da Lua (poesia,199);
  • Dizes-me coisas Amargas como os Frutos (poesia, 1999).

Vida e obra de Pepetela

Pepetela, pseudónimo de Artur Carlos Maurício  Pestana dos Santos, é natural de Benguela, onde nasceu em 1941. Realizou os estudos primários  e secundários  nas cidades de Benguela e Lubango. Em Portugal frequentou o Instituto Superior Técnico de Lisboa. Após a  fuga para o exílio, juntou-se ao Movimento de Libertação Nacional. Em Argel, formou-se em Sociologia e integrou a equipa do Centro de Estudos Angolanos de que foi co-fundador com Henrique Abranches.

Foi Vice-Ministro da Educação. Grande parte da sua produção foi publicada após a independência, como de resto se passa com uma boa parte dos ficcionistas angolanos. É o mais internacional dos ficcionistas em matéria de prémios. Foram-lhe atribuídos o Prémio Nacional de Literatura Prémio Camões pelo conjunto da sua obra em 1997 e com o Prémio Príncipe Claus para a Cultura e Desenvolvimento em 1999.

Publicou Muana Puó (1978); As aventuras de Ngunga; Mayombe (1980); O Cão e os Calús(1985); Yaka (1985); Lueji,o Nascimento dum Império (1990); A Geração da Utopia (1992); O Desejo de Kianda (1995); Parábola do Cágado Velho(1996) A Gloriosa Família (1997), A Montanha de Água Lilás (2000 .

A tematização da história imediata, social ou política, e antiga constitui a trama de quase todos os seus romances como Mayombe, Yaka , Lueji,o Nascimento dum Império, A Geração da Utopia, Lueji, A Gloriosa Família.

Entre   as suas onze  obras de ficcão avultam  três romances, nomeadamente Mayombe, A Geração  da Utopia e Parábola do Cágado  Velho.

Com efeito,  subjaz à  tematização  da história uma  estratégia ficcional do escritor, que se  revela nas suas grandes preocupações com a formação da nação, como o terá manifestado numa entrevista concedida a Michel Laban, um investigador francês.

E atribui tal propensão e  recorrência do tema na sua obra ao facto de ter estudado Sociologia. É no cruzamento que  a  onomástica e as personagens  estabelecem com a História onde  vamos encontrar motivos de grandes interrogações sobre o labor ficcional de Pepetela.

Em Yaka, um romance em que se conta a saga dos Semedo, uma família descendente de um antigo colono, este autor submete personagens da História de Angola como Mutu-ya-Kevela a um tratamento semântico que suscita alguma perplexidade para  o leitor angolano avisado, numa trama   que  se traduz em inadequada superação das metáforas coloniais.

Mutu-ya-Kevela, que é um herói da resistência ao colonialismo, não pode ser reduzido a “ monstro de dentes compridos” funcionando como um horror às crianças, tal como acntece em Yaka.

A perplexidade atinge o apogeu, quando  a incorporação de personagens-referenciais no romance deixam  de satisfazer aquele fim, através do qual  se deve reabilitar os heróis passado, da grande narrativa angolana que é a História de Angola. Em tudo isso   reside uma inquietação com aquelas coisas  que tocam as identidades colectivas  e a legitimação  do lugar que se  ocupa na sociedade.

Vida e obra de Raul David

Raúl David nasceu em 1918 na cidade de Benguela, província de Benguela. Fez os estudos primários na Ganda, onde passou a infância. Frequentou o seminário católico de Ngalangi. Iniciou a sua actividade literária aos 45 anos de idade.

Mas estreia-se aos 57 anos, já no alvorecer da independência. Publicou Colonos e Colonizadores (1974), Poemas (1977) Escamoteados na Lei (1987), Cantares do nosso Povo, versões escritas de cantos e poemas em língua Umbundu (1987) Narrativas ao Acaso (1988), Ekaluko lya kwafeka ( 1988) Crónicas de Ontem para ouvir e contar (1989), Da Justiça Tradicional nos Umbundos (ensaio) (1997).

Raúl David reside actualmente em Benguela, capital da província onde nasceu,preparando-se para publicar as suas memórias.

A leitura de toda a sua obra permite detectar a existência de um fio condutor que aponta para a predominância da narrativa-testemunho, apesar das incursões nos domínios da poesia oral em versões escritas e da ensaística. Mesmo assim está subjacente uma intenção de transmitir um conhecimento que, tendo-lhe chegado pela via oral, ele prefere reduzi-lo a escrito.

Por todas estas razões, Raúl David é na verdade um cultor da memória, o que pode ser comprovado pela sua capacidade de improvisar a narração de experiências e factos ocorridos há cinquenta anos.O que qualifica o seu discurso narrativo no contexto do que é a contribuição para a história social da região de Benguela.

A sua proficiência na língua Umbundu associada à frescura com que trabalha quando conta as suas histórias, constituem dois elementos entre tantos daquilo que permite distingui-lo de outros escritores angolanos que usam o português. Nele se reconhece a coexistência actual das línguas nacionais e da língua portuguesa.

Vida e obra de Roderick Nehone

Roderick Nehone nasceu em Luanda a 26 de Março de 1965. É jurista e exerce actividade docente na Universidade Agostinho Neto.

Publicou:

  • Génese (poesia, 1998);
  • Estórias Dispersas de um Reino (contos, 1996) e
  • O Ano do Cão (romance, 1998).

Com o livro de poesia arrebatou o Prémio Literário António Jacinto e os livros de ficção foram agraciadas com o Prémio Sonangol de Literatura,sucessivamente em 1996 e 1997.

Pertencendo ao que poderíamos designar por última fornada da Geração Literária de 80, é uma das mais fulgurantes revelações da ficção narrativa angolana.

Vem assim engrossar o elenco de ficcionistas da geração em que figuram alguns autores com provas já dadas, tais como Cikakata Mbalundo, Jacinto de Lemos, Sousa Jamba e Mota Yekenha, exibindo uma diversidade de recursos a que se associa especialmente o fôlego para a construção de mundos fantásticos. É membro da União dos Escritores Angolanos.

Vida e obra de Rosália Silva

Rosária Silva é natural do Kwanza Norte, onde nasceu em 4 de Abril de 1959. Aí realizou os estudos primários e secundários.

É formada em Ciências da Educação, na especialidade de linguística portuguesa, pelo Instituto Superior da Universidade Agostinho Neto. Publicou Totonya (1998),uma narrativa que mereceu menção honrosa do Prémio Literário António Jacinto.

Vida e obra de Rui Augusto

Rui Augusto nasceu a 26 de Julho de 1958, na região de Camabatela. Fez parte daqueles grupos de jovens que na efervescência eufórica da independência integraram as forças armadas. Fez estudos universitários de Economia na Universidade Agostinho Neto.

Na década de 80, exerceu actividades ligadas a edição de publicações, tendo sido revisor no Jornal de Angola, membro do conselho editorial do semanário cultural Angolê-Artes e Letras e da revista Mensagem. Desde 1992, tem vindo a dedicar-se à actividade política, sendo deputado à Assembleia Nacional.

Além de ensaísta de boa prosa sem livro publicado, com provas dadas nas colunas da imprensa, é, no entanto, um dos mais importantes poetas da Geração Literária de 80, encabeçando aquela corrente ou tendência que se caracteriza pelo tratamento de temas associados à dimensão ontológica, mais concretamente a perda do sentido da existência humana.

Publicou:

  • A Lenda do Chá (poesia,1987);
  • O Amor Civil (poesia, 1991);
  • Colar de Maldições (poesia, 1994).

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Vida e obra de Rui Duarte de Carvalho

Ruy Duarte de Carvalho é um angolano por naturalização. Nasceu em Portugal em 1941. Passou a infância na Província do Namibe cuja paisagem, espaços físicos e sociais ocupam ainda hoje um lugar privilegiado nas suas actividades de escritor e investigador em antropologia.

É Antropólogo formado em França na École des hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Foi laureado com o Prémio Nacional de Literatura em 1988.

Como regente agrícola, exerceu a profissão percorrendo as grandes regiões angolanas em que se encontram implantadas àreas da agricultura de rendimento, conhecendo igualmente as práticas agro-pastoris tradicionais e também chamadas de subsistência.

Como cineasta e antropólogo tem vindo a situar o cenário das suas pesquisas a região etnocultural Kuvale, no sul do país. Neste contexto o poeta vai sendo interpelado pela flora e pela fauna, decorrendo daí o apelo telúrico para uma criação literária irremediavelmente marcada por experiências vividas.

Tal como diz o escritor: Eu falo daquilo que sei, daquilo que experimentei, o que revela evidentemente a minha origem de classe, a minha formação, não pode deixar de ser nem eu quereria que fosse de outra maneira (…) revela também o muito profundo e específico comércio emotivo que tenho mantido com a geografia física e humana (…)”.

A sua estreia literária ocorre em 1972, quando arrebatando o Prémio Mota Veiga, publica Chão de Oferta, o seu primeiro livro de poesia. A sua produção é variada, cobrindo a poesia, a ficção narrativa, o ensaio e o cinema. Depois de 1972, publicou:

  • A Decisão da Idade (poesia, 1976);
  • Como se o Mundo não Tivesse Leste (ficção narrativa,1977);
  • Exercícios de Crueldade (poesia,1978);
  • Sinais Misteriosos…Já se Vê…(poesia,1979);
  • Ondula Svana Branca (poesia,1982);
  • O Camarada e a Câmara (ensaio, 1984);
  • Lavra Paralela (poesia,1987);
  • Hábito da Terra (poesia,1988);
  • Ordem de Esquecimento (poesia,1997);
  • A Câmara, a Escrita e a Coisa Dita, (ensaio, 1997);
  • Aviso à Navegação (ensaio,1997);
  • Vou lá Visitar Pastores (ficção narrativa);
  • Observação Directa (poesia, 2000);

E acaba de publicar Lavra Reiterada, uma antologia de textos extraídos de livros anteriores, nomedamente Exercícios de Crueldade e Ordem de Esquecimento (poesia, 2000), Os Pepeis do Inglês(ficção, 2000).

Vida e obra de Samuel de Sousa

Samuel de Sousa nasceu no Ambriz a 27 de Abril de 1927, viveu durante algum tempo na região do Bembe(Uíge), tendo-se fixando aos dezoito anos em Malange, onde dirigiu círculos de animação cultural de orientação anti-colonial. Tem colaboração em várias publicações periódicas, nomeadamente: Ecos do Norte, Jornal de Angola, Angolense, A Província de Angola, Cultura.

Parte da sua obra literária inédita foi, em 1967, apreendida pela PIDE. Figura em Poesia de Angola, antologia publicada em 1976 pelo Ministério da Educação e Cultura. Pode ser considerado poeta bissexto, isto é, feito de alguma poesia e efémeras experiências literárias. Durante aproximadamente uma década foi Delegado Provincial da Cultura de Malange.

Publicou um único livro de poemas Poesia, 1972, na colecção lavra e oficina da União dos Escritores Angolanos de que é membro fundador.

Vida e obra de Sousa Jamba

Sousa Jamba nasceu na vila do Dondi, província do Huambo, em 1966. Passou a infância na capital da província. Em 1976 emigra para a Zâmbia, em consequência da guerra. Fez os estudos em língua inglesa, e com ela se iniciou na actividade literária.

Em 1986 foi para Londres com o objectivo de estudar jornalismo. Trabalhou para o jornal The Spectator onde lhe foi atribuído o prémio Shiva Naipul. Reside actualmente em Londres.

Publicou dois romances:

  • Patriotas (1991) e Confissão Tropical.

Vida e obra de Timóteo Ulika

Timóteo Ulika, pseudónimo literário do historiador Cornélio Kaley, nasceu a 8 de Dezembro de 1944 no actual Município do Bailundo. Fez os estudos primários na Missão Evangélica do Bailundo.

No Liceu do Huambo, antiga cidade colonial de Nova Lisboa, iniciou os estudos secundários que viria prosseguir em Luanda no Liceu Salvador Correia. Em 1969 ingressou no curso de História da Faculdade de Letras do Lubango que concluiria anos mais tarde na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

É Mestre em Estudos Africanos pelo ISCTE de Lisboa, tendo consagrado o seu trabalho de tese à problemática da produção petrolífera no quadro geral da economia de Angola. Pela sua idade e experiência, Timóteo Ulika pertencerá certamente à geração literária de 70.

Embora se revele tardiamente com obra publicada, este autor coloca-se ao lado daqueles ficcionistas que enriquecem a estrutura da narrativa angolana, ao trazer para a ficção literária uma focalização e um ponto de vista, todos eles positivos sobre outros espaços físicos, tipos de personagens e psicologias, nomeadamente a região planáltica, as personagens que povoam o mundo rural, seus saberes e filosofias veiculados em língua Umbundu, situações e discursos que funcionam em contextos de comunicação predominantemente oral.

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Publicou:

  • A Rola de Tchingandu ( INALD,1988);
  • Os Petróleos e a Problemática do Desenvolvimento em Angola: Uma visão histórico-económica (1996);
  • Kandundu (2000)

Vida e obra de Uanhenga Xitu

Uanhenga Xitu, nome próprio em língua Kimbundu de Agostinho André Mendes de Carvalho. Nasceu em Kalomboloca, a 29 de Agosto de 1924, Icolo e Bengo.

Foi preso político em 1959, tendo feito parte do chamado “Processo dos 50”. Cumpriu os oito anos da sua pena de prisão no campo de concentração do Tarrafal. É membro fundador da UEA de que foi Presidente da Comissão Directiva.

Publicou:

  • Meu Discurso (1974);
  • Mestre Tamoda (1974);
  • Bola com Feitiço (1974);
  • Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980);
  • Os Discursos do Mestre Tamoda (1984);
  • O Ministro (1989): Cultos Especiais (1997)
  • Mestre Tamoda (1974);
  • Bola com Feitiço ( 1974);
  • Manana (1974);
  • Vozes na Sanzala- Kahito (1976);
  • Maka na Sanzala (1979);
  • Os Sobreviventes da máquina colonial depõem (1980);
  • Discursos do Mestre Tamoda (1984);
  • O Ministro (1989);
  • Cultos Especiais ( 1997).

Enquadrar este autor no grupo da geração de 48, é de certo modo um acto inusitado, além de problemático, na medida em que ele revela-se para a literatura na década de 70.

Ora, se operarmos com um conceito de geração literária em que se dê relevância à experiência, talvez não hesitássemos em proceder assim. É que a sua narrativa carrega as vivências de décadas anteriores, não podendo a sua escrita traduzir facilmente a permeabilidade relativamente às motivações diferencialistas dos narradores de 60 e 70.

Do conjunto da obra deste autor, a crítica e o público celebram com frequência o conto Mestre Tamoda.

Tamoda, simbolizando, o mimetismo cabotino, é uma personagem típica do mundo rural que através da exibição de maneirismos expõe à hilaridade o uso da língua portuguesa perante uma audiência de jovens e crianças, transformando-se em modelo, no que diz respeito ao emprego e manipulação de vocábulos portugueses.

Mas é a narrativa Manana que merece uma atenção particular. Trata-se de uma história cujo interesse reside na incorporação de universos da tradição oral e na sua concentração à volta do tema da constituição da família e motivações da sua ruptura.

Os sinais da oralidade impregnam o texto com alguma intensidade. O que pode ser verificado pela utilização de determinados códigos da oralidade: o musical, o cinésico, o onomástico.

O código musical rege os trechos cantados mais ou menos longos. O código onomástico rege os nomes de algumas personagens. Assim, o código musical associa-se ao código linguístico.

O funcionamento e as regras do código onomástico verificam-se, por exemplo, na decifração do nome Manana . O sentido e o procedimento de nominação é referido pelo personagem-narrador nos seguintes termos: “Soube mais tarde que o nome dessa Manana não é de origem portuguesa. É de quimbundo. Significa ninfa ou larva de abelhas. Alimento dos jithuxi, dos caçadores e de mais pessoas que fazem vida permanente nas matas”.

O código onomástico e as suas regras funcionam igualmente em relação a grande parte das personagens de segundo plano que têm nomes em kimbundu. Do mesmo modo os topónimos. No elenco dessas personagens destacam-se as seguintes: avô Mbengu, velha Kazola, Kalunga, velha Kifila, avô Matadi, Kunda Nzenze.

Na qualidade de escritor com um envolvimento directo na actividade política, pois é deputado à Assembleia Nacional, na sua bibliografia destacam O Ministro e Cultos Especiais duas obras consagradas à crítica social, ao culto da personalidade e a outros comportamentos dos políticos.

Vida e obra de Viriato da Cruz (1928 – 1973)

Nasceu em Porto Amboim, Kwanza Sul, em 1928. Fez os estudos liceais em Luanda. Considerado um dos mais importantes impulsionadores de uma poesia regionalista angolana nas décadas de 40 e 50, e da actividade política dos poetas que permaneceram em Angola, foi Secretário Geral do MPLA, durante os primeiros anos da década 60.

Saíu de Angola em 1957 e em Paris foi juntar-se a Mário Pinto de Andrade, tendo desenvolvido intensa actividade política e cultural. Depois de ter abandonado a liderança do movimento de libertação nacional, veio a falecer na China em 13 de Julho 1973.

Publicou Poemas (1961). Entre os seus textos poéticos, destacam-se Namoro, Sô Santo e Makézu