Conceito de Id
O Id é o reservatório de energia do indivíduo. É constituído pelo conjunto dos impulsos instintivos inatos, que motivam as relações do indivíduo com o mundo. O organismo, desde o momento do nascimento, é uma fonte de energia que se mobiliza em direcção ao mundo, buscando a satisfação do que necessita para seu desenvolvimento.
O conceito de instinto parece explicar bem o mecanismo que se estabelece. Em função de seu desequilíbrio homeostático, ou da necessidade do estabelecimento de relações evolutivas, o organismo sente uma carência. Esta carência mobiliza as energias do organismo em direcção à sua satisfação. Mas, para que se satisfaça, é necessário que o organismo tenha um objecto que corresponda a essa necessidade. Por exemplo, diante da fome, é necessário que se organize uma imagem de alimento. Esta imagem é o que chamamos de objecto do instinto. E qual a relação estabelecida entre a necessidade e seu objecto?
No caso da fome, podemos dizer que é a incorporação. A incorporação fica assim definida como o alvo do instinto. Logicamente, o exemplo é simplificado. A relação não é apenas linear e directa. Quando a criança fantasia a imagem do seio para sua saciação, não é apenas a fome que é trabalhada, mas também a ligação afectiva com o seio, a construção da figura da mãe, as relações de bom e mau estabelecidas, a adequação do processo mãe- criança, a confiança no mundo exterior, etc.
Características do Id
1ª) É o responsável pelo processo primário
Diante da manifestação do desejo, forma, no plano do imaginário, o objecto que permitirá sua satisfação. Um exemplo ilustrativo é o sonho, onde os desejos vão tentando uma satisfação alucinatória ao nível das imagens geradas. Já vimos que um desejo corresponde a uma carência que, ao ser satisfeita, gerará prazer. Os desejos não podem satisfazer-se com objectos apenas alucinatórios, mas é necessário que uma imagem, ou seja, um objecto alucinatório seja gerado, para que o Ego, responsável pelas relações de realidade, possa satisfazê-lo na prática.
2ª) Funciona pelo princípio do prazer
Busca a satisfação imediata das necessidades. O processo primário é sua tentativa alucinatória de satisfação imediata. Não questiona qualquer aspecto da adaptação do desejo à realidade física, social ou moral. As interdições virão do Ego ou do Superego. O Id sempre manterá o modelo de querer, e de querer a qualquer preço.
3ª) Inexiste o princípio da não- contradição
Como não é dimensionado pela realidade, podem estar presentes desejos ou fantasias mutuamente excludentes dentro da lógica. Voltemos aos sonhos, que são a melhor maneira de exemplificarmos os processos do id. Neles podemos estar mortos e vivos ao mesmo tempo. Podemos entrar no fogo, e o fogo ser frio. Podemos nos ver em dois lugares ao mesmo tempo. À medida em que o princípio da não-contradição inexiste, todas as coisas são possíveis ao nível do Id.
4ª) É atemporal
A única dimensão da vivência é o presente. Não há passado ou futuro, mas existe a elaboração de uma dimensão única, vivida como presente. Reviver (recordar) é o mesmo que viver. Nos sonhos, a recapitulação de um acidente é vivida como o próprio acidente. Nos sonhos, um projecto de realização futura é vivido como realização presente. Nos próprios devaneios que temos, ou seja, quando sonhamos acordados, transformamos em realizações presentes os desejos com perspectivas de realizações futuras. Fantasiamo-nos dentro do carro que gostaríamos de comprar. Quando compramos um bilhete de lotaria, surpreendemo-nos, fazendo planos para a utilização do dinheiro, como se já o tivéssemos ganho.
5ª) Não é verbal
Funciona pela produção de Imagens. Temos utilizado os sonhos para exemplificar o Id. Mas quando nos recordamos de um sonho, já efectuamos uma elaboração secundária sobre ele, ou seja, já o reduzimos ao domínio da linguagem. Em sua forma original, os sonhos são basicamente plásticos. As imagens são criadas, fragmentadas, deslocadas, combinadas, de forma a se adequarem à satisfação do desejo.
6ª) Condensação e deslocamento
Funciona basicamente pelos processos de condensação e deslocamento, que são os processos básicos do inconsciente. Na condensação, agrupamos, dentro de uma imagem, características pertencentes a vários processos inconscientes.
No deslocamento, as características de uma imagem são transferidas para outra, com a qual o sujeito estabelece relações como se fosse a primeira. A diferenciação é enquanto modelo, porque dentro do funcionamento real os processos de condensação e deslocamento são superpostos. Vejamos um exemplo de cada processo. O primeiro é mitológico, e o segundo, tirado dos casos clínicos de Freud.