Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica da psique humana independente da psicologia, embora também inserido nesta, desenvolvido por Sigmund Freud, médico neurologista austríaco que se propõe à compreensão e análise do homem, compreendido enquanto sujeito do inconsciente. Abrange três áreas:

– um método de investigação da mente e seu funcionamento (um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer outro modo);

– um sistema teórico sobre a vivência e o comportamento humano (um método para o tratamento de distúrbios neuróticos);

– um método de tratamento psicoterapêutico (uma coleção de informações).

Essencialmente é, assim, uma teoria da personalidade e um procedimento de psicoterapia.

Importante ainda é observar que em linguagem comum, o termo psicanálise é muitas vezes usado como sinônimo de psicoterapia ou mesmo de psicologia. Em linguagem mais própria, no entanto, psicologia refere-se à ciência que estuda o comportamento e os processos mentais, psicoterapia ao uso clínico do conhecimento obtido por ela e psicanálise refere-se à forma de psicoterapia baseada nas teorias provenientes do trabalho de Sigmund Freud; psicanálise é, assim, um termo mais específico, sendo uma entre muitas outras formas de psicoterapia, mas interessada, maiormente, em achar um tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. De facto segundo o seu criador, a psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito. No início, tinha apenas um único objetivo, o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas ‘funcionais’, vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico.

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Correntes, dissensões e críticas

Diversas dissidências da matriz freudiana foram sendo verificadas ao longo do século XX, tendo a psicanálise encontrado seu apogeu nos anos 50 e 60.

As principais dissensões que passou o criador da psicanálise foram C. G. Jung e Alfred Adler.

Sua contribuição para a medicina, psicologia, e outras áreas do conhecimento humano (arte, literatura, sociologia, antropologia, entre outras) é inegável. O verdadeiro choque moral provocado pelas ideias de Freud serviu para que a humanidade rompesse, ou pelo menos repensasse, muito de seus tabus e preconceitos na compreensão da sexualidade, e atingisse um maior grau de refinamento e profundidade na busca das verdades psíquicas do ser humano.

Após Freud, muitos outros psicanalistas contribuíram para o desenvolvimento e importância da psicanálise. Entre alguns, podemos citar Melanie Klein, Winnicott, Bion e André Green. No entanto, a principal virada no seio da psicanálise, que conciliou ao mesmo tempo a inovação e a proposta de um “retorno a Freud”, veio com a psicanalise de Jacques Lacan.

Sigmund Freud foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise.

Freud iniciou seus estudos pela utilização da hipnose como método de tratamento para pacientes com histeria e elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente.

Freud também é conhecido por suas teorias dos mecanismos de defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, através do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como fontes dos desejos do inconsciente. Freud, naquele período, dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas próprias neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte para a obra A Interpretação dos Sonhos. Durante o curso desta auto-análise, Freud chega à conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade ao seu pai. É o famoso “complexo de Édipo”, que se torna o coração da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes.

Teoria da Representação

A sistemática do nosso cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica, isto é, a mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagens baseadas em imagens, as quais são meras representações de significados latentes. As representações são analógicas e imagéticas que se inter-relacionam através de redes associativas. As redes associativas das representações são provenientes do processo fisiológico cerebral, o qual se baseia em uma rede de neurônios. Esse processo ocorre através de um mecanismo reflexo: a informação parte por uma rede associativa de neurônios até chegar à região motora e sensorial. Ela provoca então, modificações nas células centrais, causando a formação das representações.

O inconsciente

Em diversas obras, como A Interpretação dos Sonhos, A Psicopatologia da Vida Cotidiana e Os Chistes e suas Relações com o Insconsciente, Freud desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente humana.

Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis, Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente: o primeiro contém o material perceptível; o segundo o material latente, mas passível de emergir à consciência com certa facilidade; e o terceiro contém o material de difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo da mente do homem, que está ligado aos instintos primitivos do homem e è dividido entre o Id, o Ego e o Superego.

Segundo Freud, o conteúdo do inconsciente é, muitas vezes, reprimido pelo Ego. Para driblar a repressão, as ideias inconscientes apelam aos mecanismos definidos como deslocamento e condensação.

Portanto, as representações de ideias inconscientes manifestam-se nos sonhos como símbolos imagéticos, tanto metafóricos quanto metonímicos. Freud propõe que as piadas ou as “trocas de palavras por acidente” nem sempre são inócuas. Antes, são mecanismos da fala que articulam ideias aparentes com ideias reprimidas, são meios pelos quais é possível exprimir os instintos primitivos.

Semelhante à análise dos sonhos, a análise da fala seria um caminho psicanálitco para investigar os desejos ocultos do homem e as causas das psicopatologias.

Libido

Freud também acreditava que a libido amadurecia nos indivíduos por meio da troca de seu objeto (ou objetivo). Argumentava que os humanos nascem “polimorficamente perversos”, no sentido de que uma grande variedade de objetos possam ser uma fonte de prazer, sem ter a pretensão de se chegar à finalidade última, ou seja, o ato sexual.

O primeiro investimento objetal da libido, segundo Freud, ocorreria no progenitor do sexo oposto, esta fase caracterizada pelo investimento libidinal em um dos progenitores (se chama complexo de Édipo). A criança percebe então que entre ela e a mãe (no caso de um menino) existe o pai, impedindo a comunhão por ele desejada. A criança passa então a amar a mãe e a experienciar um sentimento antagônico de amor e ódio com relação ao pai.

Método

Ao escutar seus pacientes, Freud acreditava que seus problemas se originaram da inaceitação cultural, ou seja, seus desejos eram reprimidos, relegados ao inconscientes. Notou também que muitos desses desejos se tratavam de fantasias de natureza sexual. O método básico da psicanálise é o manejo da transferência e da resistência em análise. O analisado, numa postura relaxada, é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente (método de associação livre). Suas aspirações, angústias, sonhos e fantasias são de especial interesse na escuta, como também todas as experiências vividas são trabalhadas em análise. Escutando o analisado, o analista tenta manter uma atitude empática de neutralidade. Uma postura de não-julgamento, visando a criar um ambiente seguro.