A Dialéctica como estrutura da Natureza e do pensamento filosófico


Para Reale e Antiseri (1991:105) Hegel não concordava com os Românticos no que diz respeito ao acesso ao todo, ao absoluto, na visão dos Românticos era possível captar de imediato o todo usando a Fé, porém para Hegel o imediato só se pode captar usando um método que se ajuste a Realidade que é devir, mudança e movimento e esse método é o da Dialéctica. Portanto, a Dialéctica em Hegel é um método que se deve aplicar no estudo filosófico da Natureza cuja mesma se caracteriza fundamentalmente pelo movimento.

Natureza em Hegel


A Natureza é a ideia que se determina como exterioridade

[...] Ela é carregada de estruturas lógicas; enquanto ideia, na forma da alteridade, sua determinação fundamental é a exterioridade"[...](BAVERESCO, 2010:27).


A Filosofia da Natureza Hegeliana tem como objectivo compreender portanto, essas estruturas lógicas, compreender a nível conceitual a evolução da Natureza.

A logicidade da Natureza geológica

 

O primeiro organismo, já enquanto ele em primeiro lugar é determinado como imediato ou em-si-essente, não existe enquanto vivo" (HEGEL, 1997: 357).


Isto significa que a Terra é como que um arcabouço no qual estão determinadas as condições de possibilidade do processo de vida. A Terra é o primeiro momento da manifestação da ideia. Segundo Hegel (ibidem: 360), o que torna possível a vida na terra é o processo meteorológico. No processo meteorológico é onde segundo Hegel brotam os momentos como magnetismo, electricidade e quimismo.

Hegel afirma que a Terra não se produz, o processo de formação não é intrínseca a ela; é extrínseca portanto, caracteriza-se pela duração.

O processo de formação não está, pois na própria terra, justamente porque ela é nenhum sujeito vivente. A terra portanto não surge por meio deste processo como o vivente; ela dura, não se produz" (idem: 359).


Ainda na questão sobre a formação da Terra, Hegel afirma que devem ser distinguidos três lados, que são os seguintes: i) O processo universal absoluto é o processo da ideia em e para si ressente, mediante a qual a terra foi criada e mantida; ii) O processo que torna possível a vida na Terra, ou seja, o processo meteorológico; e iii) aqui Hegel afirma que a Terra deve ser considerada como tendo surgido e passando.

A logicidade do organismo vegetal


No título anterior afirmou-se que a Terra possui um tipo de vida universal, que nela estão determinadas as condições de vida porém, ainda não se tem a vida como tal. É no organismo vegetal que a vida começa a manifestar-se. Ela manifesta-se em forma de subjectividade particular, como que um fora-de-si. Essa manifestação da vida na Natureza vegetal, ainda não se concretizou na íntegra, tem-se ai uma espécie de vida infantil. " A planta, como o primeiro sujeito para-si-essente, que ainda provém da imediatez, é contudo a fraca vida infantil que nela mesma ainda não nasceu para a diferença" (idem: 390). Um outro aspecto a observar ainda nesse ponto, é que para Hegel a Planta não está muito distante do organismo geológico em termos de vitalidade, não obstante o facto de nela se observar a manifestação da vida. É só no organismo animal que a vitalidade irá se manifestar na sua plenitude.

 A objectivação da planta é toda formal, não uma verdadeira objectividade, ela vai não somente em geral para fora, mas a conservação do seu Si como indivíduo acontece somente pelo perene pôr-se de um novo indivíduo" (idem: 399).


Hegel procura com isto explicar que os membros das plantas são particulares uns para os outros, ou seja Hegel fala de uma relação espacial entre os membros da planta. A planta para Hegel não conserva a sua essência do mesmo modo que o animal. No animal a essência é conservada de uma forma tal que, os seus membros continuam os mesmos, só sofrem alterações no sentido de seu desenvolvimento. Ao passo que na planta, segundo Hegel, há um perene surgimento de um novo membro e esta é a forma pela qual a planta conserva-se.

Na Física orgânica, depois da Mecânica e a Física, Hegel procura mostrar como surge a vida que é a Ideia na sua exteriorização seguindo o método dialético cujas suas partes são a Tese, Antítese e Síntese. Nesse caso o organismo geológico seria o momento da Tese, o organismo vegetal seria o momento da Antítese e por fim o momento da Síntese seria o organismo animal no qual a ideia como vida torna-se objectiva

A logicidade do organismo animal


Para Hegel (idem: 450) existe no organismo animal uma alma simples que se conecta com o mundo exterior ao corpo, isto é, com a natureza inorgânica. O animal é a ideia existente, é um conceito que dá unidade a diversidade, os membros do corpo humano por exemplo. "Decepa- se um dedo; então ele não é mais dedo nenhum, mas prossegue no processo químico para a decomposição" (idem:450). Neste sentido os membros só têm significado quando estão unidos, uns aos outros objectivando dessa maneira o conceito de animal.

Segundo Baveresco (2010: 29) O organismo animal é uma universalidade vivente, que se fundamenta na lógica do conceito em suas três determinações silogísticas que são: Figura, Assimilação e o processo genérico.

1. Lógica da Figura expõe o processo pelo qual o vivente idêntico a si mesmo se diferencia em si mesmo e identifica essa diferença interna como vida.

2. A lógica da assimilação expõe o processo pelo qual o vivente a partir de si mesmo se diferencia do seu outro (a natureza inorgânica) e assimilando essa diferença externa põe-se como totalidade.

3. A lógica do processo do género é a relação do vivente com a espécie. O género é o momento da transformação da produção em reprodução. Essa reprodução significa a produção de um outro indivíduo idêntico ao produtor, no qual o ser vivo se coloca para si mesmo idêntico consigo.

CONCLUSÃO


Como se pôde perceber a vida segundo Hegel, passa por três momentos primeiro tem-se a vida no sentido genérico, vida como latência, segundo tem-se a vida no sentido particular e por fim tem-se a vida no sentido concreto como objectivação do conceito, como objectivação da ideia. Percebe-se que A Filosofia da Natureza Hegeliana é um relato sobre os três momentos da ideia, a ideia que põe-se a si (Ciência da lógica), que sai de si (Filosofia da Natureza) e que volta para si (Filosofia do espírito) o trabalho deveu-se a explicar o segundo momento da ideia.

Filosofia de Natureza de Hegel é um relato do desenvolvimento da ideia como se afirmou e esse relato baseia-se no seu método dialéctico. Na mecânica, onde Hegel trabalha com os conceitos abstractos, tempo e espaço, toma-os como o momento da tese, é onde a ideia põe-se, depois na física ela sai de si, porém ainda não se manifestou objectivamente. É na Física orgânica portanto, que A ideia vai se manifestar objectivamente como vida.

Hegel é contra o pensamento Romântico que acreditava poder captar a Natureza de forma imediata, segundo ele não é possível captar a Natureza de forma imediata visto que ela caracteriza-se pela contingência, daí que era necessário encontrar um método que se adequa-se a essa constante mudança.

A Filosofia da Natureza Hegeliana foi uma tentativa de mostrar o que é a Natureza, foi uma tentativa de compreender a logicidade da Natureza. Hegel contribui dessa forma para o estabelecimento da Filosofia da Natureza como disciplina, um outro aspecto importante com o qual Hegel contribui para o pensamento filosófico é de facto o método da Dialéctica.

BIBLIOGRAFIA


HEGEL, George Frederich., Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio., São Paulo, Loyola, 1997, v 2.

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario., História da Filosofia: Do romantismo até nossos dias, 2 ed, São Paulo, Paulus, 1991, v. 2.

UTZ, Konrad; SOARES, Marly Carvalho (Org), A Noiva do Espírito: natureza em Hegel, Edipucrs, Porto Alegre, 2010.