Existem diversos métodos que podem ser utilizados para medir a Insegurança Alimentar e Nutricional – INSAN, sendo que cada um capta o fenómeno segundo uma escala e uma ótica própria – o que, por princípio, os torna complementares.

Assim, enquanto uns avaliam o fenómeno no nível nacional, outros se aproximam e o tocam no nível domiciliar ou mesmo individual. Alguns métodos abordam a disponibilidade de alimentos, ao passo que outros se acercam do problema pela via do acesso ou da estabilidade das famílias no acesso aos alimentos.

Teoricamente, quanto maior for o número de métodos utilizados na avaliação, maior o número de aspectos analisados e, portanto mais completa e abrangente tenderá a ser a visão obtida da situação

 Segundo Peres–Escamilla e Segall-Corrêa (2008), há cinco métodos comumente utilizados em inquéritos nacionais para avaliação da insegurança alimentar: método da Food and Agriculture Organization (FAO), Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), Avaliação do Consumo Dietético Individual, Antropometria e a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) .

Todos os métodos possuem problemas sérios de erros de medida, que poderão ser reduzidos pelo conhecimento dos princípios nos quais estão baseados, além do envolvimento de pesquisadores de campo bem capacitados e padronizados.

O método da FAO

O método da FAO estima as calorias disponíveis por habitante de um país com base na balança de alimentos e nas pesquisas de orçamentos domésticos. São utilizadas informações nacionais sobre stocks, produção, importação, exportação e desperdício de alimentos.

Para obter essa informação, o país necessita dos dados: total de calorias disponíveis e população do país no ano de interesse, ingestão energética média, coeficiente de variação desta ingestão (para obter a distribuição do consumo de energia) e o valor de referência que estabelece a necessidade energética mínima per capita.

As vantagens envolvem o baixo custo, possibilidade de comparações com outros países e de análise das tendências da disponibilidade energética per capita ao longo do tempo. Já as desvantagens decorrem da base em informações de alto grau de imprecisão, não mede o acesso aos alimentos ou a qualidade da dieta e confere mais importância ao consumo médio de energia do que a distribuição desta energia.

A medida antropométrica

A medida antropométrica é um indicador directo do estado nutricional, porém avalia a segurança alimentar de forma indirecta. Podemos obter valores normais de peso, estatura e índice de massa corporal em famílias que estão vivendo em situação de insegurança alimentar.

Contudo, o custo da antropometria é relativamente baixo, sendo possível o mapeamento da segurança alimentar do nível local ao nacional para compreensão de tendências, determinantes e consequências da má nutrição no nível individual, além de ser apropriada para o controle e a avaliação de intervenções

As principais vantagens deste método provêem do facto de compreender o modo como às pessoas mais atingidas percebem a insegurança alimentar e a fome, permite captar não só as dimensões físicas, mas também as dimensões psicológicas da insegurança alimentar e ainda classificar os domicílios de acordo com sua vulnerabilidade ou nível de exposição a INSAN, além de seu baixo custo de aplicação.

Enquanto alguns métodos avaliam os factores determinantes, como a ingestão alimentar e os gastos com a alimentação, outros avaliam as consequências da insegurança alimentar, como a antropometria. Todos os métodos se complementam e nenhum deve ser considerado superior ao outro, e, sua escolha depende da questão a ser respondida.

A avaliação da segurança alimentar deve ser baseada na aplicação de vários destes métodos, permitindo que diferentes dimensões do problema possam ser avaliadas na mesma pesquisa ou estudo.

Os problemas relacionados a esses indicadores estão no facto de não reflectirem a quantidade de alimentos que, de facto é distribuída para cada instituição ou indivíduo beneficiado, além disso, tanto os indicadores actuais directos e indirectos e até mesmo os próprios programas nacionais estão mais focados na Insegurança Alimentar, ou seja, na fome.

No projecto desenvolvido por Radimer et al.  na Universidade de Cornell, o fenômeno da fome foi estudado, usando inicialmente uma abordagem qualitativa, partindo da perspectiva das pessoas que o tinham vivenciado para, em seguida, serem criados os indicadores quantitativos, estes baseados, portanto, na compreensão enraizada nos relatos de experiências de vida.

Procurou-se incluir, nessa amostra, mulheres de características diferentes com relação ao estado civil, escolaridade, raça, local de residência (urbano ou rural) e idade. A maioria (75%) tinha filhos. A pesquisadora perguntou às mulheres se tinham passado fome, ou chegado perto disso, e pediu, em seguida, que elas descrevessem essa situação.

Como é comum numa pesquisa desse tipo, as perguntas foram mudando, no seu decorrer, na busca da melhor compreensão dos temas que, progressivamente, iam surgindo. Outras perguntas foram feitas sobre as situações que as levaram a passar fome, seus hábitos alimentares, sensações emocionais e físicas, e como elas lidaram com essa situação.

Surgiram dois conceitos de fome a partir das entrevistas: um mais restrito, em nível individual, relacionado à sensação física:

  • Fome é quando eu passo três ou quatro dias sem comer nada.
  • Fome é quando eu não consigo dormir porque meu estômago dói.

Surgiu também um conceito mais amplo, em nível do domicílio, que incluía problemas no abastecimento da casa, na qualidade comprometida da alimentação da família, bem como táticas para lidar com a situação:

Passar fome é quando não tem absolutamente nada em casa. Mas passar fome, também, é quando se tem que comer a mesma coisa a semana toda, sem variar, e você sabe que, mais cedo ou mais tarde, essa comida vai acabar também, porque só rende até um certo ponto… E você tenta mandar seus filhos para brincar na casa de algum amiguinho, na hora do almoço, para que comam alguma coisa.

Assim, com base nas palavras e nas experiências das pessoas que tinham vivenciado a fome, Radimer et al. identificaram componentes e níveis da insegurança alimentar.

Nesse contato com as pessoas, surgiu, também, um componente social ligado à maneira pela qual os alimentos são obtidos, padrões de alimentação rompidos, ou seja, quando não dá mais para manter os hábitos alimentares tradicionais da família ou dos indivíduos.

O módulo final de indicadores de segurança alimentar, seus recursos técnicos e científicos, incluindo o questionário e os métodos de análise, propõem identificar a segurança alimentar em níveis que refletem esse processo identificado pelos pesquisadores: (1) segurança alimentar no domicílio (SA); (2) insegurança alimentar em nível domiciliar (IA leve); (3) IA entre adultos da família (IA moderada); e (4) IA entre crianças (IA severa).

Indicadores da disponibilidade Alimentar

Disponibilidade dos alimentos: disponibilidade suficiente dos alimentos em quantidade adequada, o que significa o aumento crescente do indicador relativo ao fornecimento de energia alimentar pre-capital expresso em kilocalorias.

Acesso aos alimentos: Todos os cidadãos moçambicanos devem ter acesso aos alimentos através da produção, compra, trocas, ofertas, e outras formas.

Utilização dos alimentos: As pessoas devem ser capazes de utilizar os alimentos de modo a que se assegure que cada membro receba e absorva os nutrientes adequados para as necessidades.

Utilização da informação alimentar e nutricional

Rotulagem

A rotulagem das embalagens para além da sua função informativa também pode ser um meio de comercialização do produto. Cada embalagem deve ter um rótulo com as seguintes informações:

País de origem;

Nome e morada do produtor ou importador;

Identificação do produto (produto, variedade).

Os rótulos devem:

Ser pelo menos dois em faces opostas, de cada embalagem;

Colocar-se os em local visível;

Não ser fácil remover;

Não ser fácil sujar.