A palavra demografia foi usada pela primeira vez em 1855 por um belga chamado Achille Guillard. O termo deriva da língua grega: dêmos (população) e gráphein (escrever, descrever ou estudar). Portanto, o objectivo da demografia é analisar populações humanas e suas características gerais.

Assim, um historiador que esteja preocupado em corrigir informações sistemáticas a respeito de uma determinada população historicamente localizada ou, ainda mais especificamente sobre os níveis e tipo de mortalidade desta população – estará realizando uma História Demográfica de carácter ainda descritivo.

A História Demográfica enfatiza o estudo de tudo aquilo que se refere mais ou menos directamente à População, que são as suas variações.

Objeto de Estudo

Dentre os novos campos desenvolvidos pelos estudos históricos na segunda metade do século XX, a Demografia Histórica passou a ocupar um lugar especial.

A demografia tem por propriedade compreender a população em suas dinâmicas internas: ela a reduz a um jogo de variáveis, tais como, a natalidade, as núpcias e a mortalidade, considerando suas outras determinações (inclusive, e o mais frequentemente, as migrações) como exógenas.

O objecto de estudo da História Demográfica é a população, suas práticas, suas relações as instituições e suas formalizações cognitivas como um todo indissociável. Todavia, para o seu estudo, é necessário recorrer a dois métodos: (i) experimental que consiste na multiplicação dos pontos de vista sobre o objecto, em reler as fontes libertando-se das categorias historiográficas adquiridas, em fazer da dimensão nominativa, puramente instrumental; e o (ii) método Henry – o objecto central da análise, que recolhe as informações contidas nos registos paroquiais sob forma de Fichas de Família, embora seja numa fase puramente metodológica (ela não serve senão para produzir materiais para a análise agregada).

História da História Demográfica

A história da História Demográfica remota desde a Antiguidade Clássica Grega com contribuições do filósofo Aristóteles que levantava dois principais problemas, nomeadamente: (I) a relatividade do número. Tendo em conta que ele assistiu o cenário da cidade de Atenas que chegou a suportar 40.000 habitantes nos tempos de Péricles, o filósofo criticou esta excessividade populacional, propondo um efectivo de 5.000 habitantes para uma determinada cidade; e (II) a problematização do número. Relacionava-se pelos padrões de comportamento populacional com as suas necessidades políticas e sociais. Ideia que mais tarde, já no século XIX, se concretizaria através da Corrente Malthusiana, estabeleceu-se um padrão de casamento tardio aos jovens, como forma de igualar as necessidades alimentares e materiais, controlava-se assim os seus limites populacionais.

Na Idade Média, entre outras formas para evitar a fragmentação da propriedade entre vários herdeiros, houve a necessidade de criar-se um sistema para a distribuição do património familiar entre os herdeiros de determinado chefe de família que morresse.

A Demografia Histórica nasceu na Europa Ocidental, precisamente na Escola Francesa dos Annales, no final dos anos 50, com aplicação inicial ao estudo da fecundidade de Fleury e Louis Henry, arquivista e demógrafo, respectivamente. Tempo depois, difundiu – se para Inglaterra e Portugal através da Demografia Regional assente no desenvolvimento da metodologia de reconstituição de paróquias da Maria Norbeta Amorin. Foi assim que, a História Demográfica conheceu seu crescimento, consolidando – se como disciplina base, na medida em que visa essencialmente compreender a população pelos jogos das variáveis demográficas, cujas técnicas desenvolveram – se sobre fontes tipicamente europeias, beneficiando da antiguidade da prática das genealogias construídas para diversos fins de regulação política e social, das técnicas administrativas (recenseamentos, etc.), e de desenvolvimento de numerosos centros de pesquisa.

A concretização da Demografia Histórica como ciência é um fenómeno que se observou na Europa Ocidental, como consequência de três factores: (I) um externo relacionado com o predomínio que a história cultural alcançou na historiografia contemporânea, provocando um certo abandono de outras abordagens; e (II) dois externos, sendo o primeiro, o facto de que a Demografia Histórica cumpriu os propósitos para os quais foi criada; e o último, foi a disseminação dos estudos de reconstituição da família e das populações cobrindo praticamente todas as paróquias da França e Inglaterra.

 

Bibliografia

BARROS, José de Assunção. História Serial, História Quantitativa e História Demográfica: uma breve reflexão crítica; UFRRJ, Rio de Janeiro, 201;
________________.O campo da História: Especialidade e Abordagem. Brasília, 2004;
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. História demográfica e História Social: convergências e perspectivas. PUCMinas, São Paulo, 2004;CHARTIER, Roger. “Formação social e habitus: uma leitura de Norbert Elias” In A História Cultural, Lisboa, 1990;COSTA, Iraci Del Nero da. Demografia histórica: Algumas Observações. São Paulo, 201;
DARTON, Robert. “A História das Mentalidades: o caso do olho errante” In O Beijo de Lamourette. São Paulo, Editora Companhia das Letras, 1990;SANTOS, Gracineide Pereira dos & OJIMA, Ricardo. Perfil demográfico e ocupação portuguesa na Freguesia da Gloriosa Sant´Anna. Rio Grande do Norte (Brasil), 2012;LAGE, Maria Otília Pereira at.al. Demografia Histórica – História das Populações. Lisboa, 2001;LE GOFF, Jacques. História e Memória. SP Editora da UNICAMP; 1990.