Dá-se o nome de racionalismo ao conjunto de doutrinas que ensinam que no acto de conhecimento, intervêm duas ordens de elementos: elemento empírico, de base sensorial e elemento racional de que depende a interpretação da experiencia.
As doutrinas racionalistas têm a sua raiz em duas celebres teorias platónicas: a da Ideias e a da reminiscência.
Aristóteles (384 a.C.-322 a. C) discípulo de Platão, tinha uma posição diferente de seu mestre. Defendia que dos dados empíricos podiam-se tirar conclusões e destas criar regras que explicassem o funcionamento da Natureza. Com esta maneira de interpretar os dados da experiência, Aristóteles tornou-se o fundador de diversas ciências e um dos maiores representantes do empirismo.
Os primeiros filósofos gregos voltaram a sua atenção para o mundo exterior. Interessaram-se pelo objecto do conhecimento (problema cosmológico), mas ignoraram o sujeito (problema gnoseológico). Pretendiam saber qual o elemento primordial, preexistente a todas as coisas. As soluções foram extremamente variadas. Para Tales, a água; para Anaximandro algo mais profundo, a que chamou de indeterminado; para Anaxímenes, o ar; entre outras respostas foram dadas.
Desta variedade de resposta, uma conclusão parece desprender-se: a impossibilidade de se chegar a solução única, isto é, verdadeira e universalmente valida.
O pensamento grego tomba, naturalmente, no cepticismo (atitude filosófica que nega ao espírito humana a possibilidade de chegar a qualquer certeza). Esta corrente céptica tem como representantes os sofistas: Protágoras, Górgias, Hípias, entre outros.
Os sofistas raciocinavam assim: se a mesma acção é aprovada pelas leis de Atenas e proibidas pelas de Esparta; se a mesma água parece fria a um indivíduo e quente a outro; se ao mesmo indivíduo, em circunstâncias diferentes, ela pode parecer tépida ou fresca, como se poderá dizer o que ela é de facto, quem poderá dizer onde está a verdade?
Condições estas que Protágoras resumiu na sua grande frase: o homem é a medida de todas as coisas. Por outras palavras: as coisas são relativas àquele que as conhece, o conhecimento depende do cognoscente.
Na sofística há, no entanto, dois aspectos a distinguir: um positivo e permanente, consistiu em ter posto em relevo a função gnoseológica do sujeito. O aspecto negativo resulta de ter considerado no homem apenas o lado sensível (o conhecimento sensorial), ignorado o seu lado racional (o conhecimento inteligível).
Pelo primeiro formularam os sofistas o problema do conhecimento. Pelo segundo abriram caminho ao cepticismo. Este último aspecto será superado por Sócrates pela teoria dos conceitos. Para os sofistas havia apenas o conhecimento sensitivo. Ora pelo sentido, não consegue o homem libertar-se do que em si é pessoal, subjectivo.
Se o homem se limitasse ao conhecimento sensível, a verdade variava, naturalmente, com os homens (os sofistas identificavam a verdade com a opinião). Mas se ao contrário existe no homem acima da função sensitiva uma outra – a função racional – há toda esperança de encontrar nesta a garantia de universalidade e objectividade que à primeira faltam.
O mérito de Sócrates esteve em ter visto a natureza específica do conhecimento intelectual, apto para elaborar os conceitos. Ora, o conceito é um conhecimento abstracto e universal e, assim, exprime as coisas de modo diverso por que as exprime os conhecimentos sensíveis: não no que têm de diverso e peculiar (este homem), mas no que têm de comum e essencial (o homem).
Até aos sofistas, os filósofos vêm apenas o objecto do conhecimento. Os sofistas descobrem o sujeito, mas apenas o «sujeito sensível». Sócrates, pela descoberta do conceito, faz a distinção entre conhecimento sensível (ou a sensação) e conhecimento intelectual (ou pensamento), situando na actividade racional a verdadeira marca do homem. Neste sentido se costuma a falar de revolução socrática.