Rudolf Bultmann e o método histórico-morfológico e a demitização

Vida e Obra

Rudolf Bultmann nasceu dia 20 de Agosto de 1884 na cidade de Wiefelstede (como era conhecida à época) o grão duque de Oldenburg. Seu pai Arthur Bultmann, pastor evangélico luterano, seu avô paterno, missionário na África, e seu avô materno, pastor de tradição pietista. Rudolf, jovem ainda, cresceu no meio de uma família de linha teológica intensa e de muito peso no seu tempo.  Sua família foi gradualmente se transferindo para o protestantismo liberal, especialmente por parte de seu pai, que acabou sendo um grande impacto no seu fazer e ser teológico.
 
A educação de Rudolf Bultmann teve seu inicio no ginásio humanístico de Oldenburg; incidentalmente ele estudou concorrentemente com o filósofo a ser Karl Jasper, o qual estava poucos anos a frente do jovem Bultmann. Seguindo sua graduação, estudou teologia na universidade de Tubingen, Berlin e Marburg respectivamente. Importante notar que todas estas três instituições eram de posturas inclinadas à teologia liberal. Sua grande influência veio de Marburg, incluindo o teólogo sistemático e liberal Wilhelm Hermann, o estudante de novo testamento Johannes Weiss e Wilhelm Heitmüller da escola história da religião. Todos estes quatros influenciaram na teologia de Bultmann, cada um ao seu modo.
 
Bultmann recebeu seu doutorado em 1910 em Marburg, dois anos depois, qualificado como instrutor( alma mater). Em 1916, aceito como assistente de professorado em Breslau, onde casou e teve duas filhas. Quatro anos depois foi para Giessen para o seu primeiro professorado integral. Depois de apenas um ano, ele retorna a Marburg aonde completa seu último professorado integral e sucedendo Heitmüller na cadeira de novo testamento. Bultmann entre seus colegas encontra lá Rudolph Otto (que sucedeu Hermann) e Martin Heidegger (que estava em Marburg de 1922 à 1928).
 
Bultmann, um dos expoentes da teologia do século XX, foi fortemente influenciado pelo pensamento de Heidegger, especialmente da obra Ser e Tempo. A partir da análise da leitura que Bultmann faz de Heidegger e de seu pensamento para a construção do pensamento teológico é possível compará-la com a influência do existencialismo no pensamento de Tillich. No entanto, este último aspecto foge ao escopo do presente trabalho. Nele, vamos nos concentrar na leitura e apropriação feita por Bultmann.
 
Em geral, esses pensadores apropriam-se da filosofia com intenções apologéticas. Desde Justino, o mártir, vários pensadores cristãos têm entrado em diálogo com a filosofia

Contextualização do pensamento de Rudolf Bultmann

O que é a demitologização que Bultmann propõe? Em seu questionamento sobre as escrituras, há a necessidade e um objectivo claro de extrair todo o elemento mitológico, que segundo ele, encobre o entendimento das sagradas escrituras para o homem moderno. O autor Vê na demitologização, um instrumental importante para a atualização da mensagem bíblica aos destinatários do tempo de Jesus tornar-se compatível para com o mundo tecnológico e cientifico que vivemos hoje.
 
<<.A mensagem Bíblica também tem como destinatário o homem e mulher da sociedade de hoje>>(Bultman, 2003:11) com isso a bíblia transcende a sua época, e ela não está presa ao passado, nem é somente um referencial de tempos que nada nos tem a dizer no kronos deste século, mas precisa chegar até nós com o entendimento da nossa linguagem actual. O homem/mulher moderno, embora seja um ser que viva em uma sociedade de muitos símbolos e sinais, precisa decodificar o significado desta vasta simbologia. Carece de um tradutor ,ou seja, necessita de uma ferramenta que actualize a linguagem mitológica das Sagradas Escrituras, vigentes à época, para o código de linguagem e a cultura dos nossos dias.
 
Segundo (Bultman, 2013:65), O uso do processo da demitologização das Escrituras elucida, esclarece e traz nitidez ao leitor, segundo Bultmann, o que realmente a mensagem bíblica quer nos dizer hoje em dia. Pois para o homem/mulher secularizado os elementos mitológicos das escrituras, fruto de uma cultura passada há quase dois mil e quinhentos anos não fazem nenhum sentido. Devem ser extraídos, sem a perda do conteúdo original, pois sem uma decodificação e uma actualização do sentido, a mensagem não nos diz o porquê, ou pior ainda, pode levar a uma interpretação dúbia e incompreensível.
 
Vale destacar que os excessos da teologia liberal provocaram a reação do mais conservadores da Igreja, os quais viam na postura liberal, um desleixo e superposição do homem, em detrimento da santa doutrina dos pais apostólicos, perdendo assim o controle sobre a Igreja e colocando de lado a tradição. Surge então a neo-ortodoxia na Europa como forte reação aos liberais. Nos Estados Unidos da América sua roupagem desembarca através de ricos texanos conservadores que prontamente se intitularam como apologetas da tradição Bíblica. Surgem os fundamentalistas. Em oposição a teologia liberal, produziram o engessamento das Escrituras, tendo como efeito colateral o fortalecimento dos pentecostais e evangelicais e a divulgação de suas praticas, e assim mais uma vez, fincam o pé no atraso para a sociedade moderna.
 
Segundo (Rodolf, 2003:23), A demitologização procura actualizar a mensagem bíblica de não perder o seu sentido original. É uma tarefa, que requer uma hermenêutica adaptada com lentes focadas no pensamento e vivência do século XXI. Entender a teologia de Bultmann passa por compreender seu programa de demitologização do Novo Testamento. Assim, esta controversa teologia bultmanniana é anunciada no primeiro e central artigo de sua obra: Novo Testamento e mitologia.
 
A forma de enxergar o Universo é mítica ,tudo pode ser explicado a partir dos conflitos entre as forças cósmicas do bem e do mal. Quem escreve o Novo Testamento , a fim de se fazer inteligível , faz uso de sua concepção peculiar do Universo e assim anuncia o acontecimento salvífico. Bultmann apresenta o conceito de sacrificium intellectus: o esforço do homem de hoje para aceitar a concepção mítica neotestamentária Seguindo seus conceitos exegéticos, Rudolf Bultmann tenta eliminar os pressupostos culturais do Novo Testamento a fim de obter a mensagem salvífica de forma inteligível ao homem moderno. Esta tarefa de releitura existencial do texto bíblico é apresentada como o programa de demitologização.

 O método histórico-morfológico e a demitização

Segundo Bultmann a demitização da bíblia visa manter a mensagem cristã, o conteúdo da bíblia, porque a demitização permite que esta mensagem revelada na bíblia, não corre o risco de ficar na história, por carência de sentido para o homem moderno, uma vez que este busca o fundamento de tudo no racionalismo distinguido desse modo com o homem primitivo, que sua fonte de inspiração é a bíblia (fé).
a mensagem cristã é, segundo Bultmann, mensagem sempre actual mas que tem necessidade de ser demonizado, no sentido de que ela, para captar sua autenticidade, deve ser despojada das representações mitológicas nas quais foi expressa na pregação primitiva, e que chocam a mentalidade científica dos homens de nossos dias» (ANTISERI; REALE, 2006: 366).
 
No pensamento de Bultmann encontram-se os três momentos históricos que devem ser apresentados de forma  clara, de modo a se dizer com clareza a passagem de um método para outro, em primeiro lugar vamos mencionar os três momentos e em segundo lugar vamos explicar a passagem de um método para outro. Portanto, os três grandes momentos que compõem o pensamento teológico de Bultmann são: histórico-morfológico, existencialista e a demitização.
 
A primeira passagem da teologia liberal ocorre no método exegético que é considerado método histórico-morfológico, no segundo momento observa-se o existencialismo que é presidida pela teologia da dialética que por sua vez proporciona o reconhecimento dos textos antes da sua demitização. Ora, antes de se demitizar um texto ou a mensagem bíblica é necessário a pré-compreensão do mesmo, para que a sua demitização não desvie da mensagem revelada e fim no terceiro momento faz a hermenêutica dos textos bíblicos, isto é, é preciso que se faça uma formulação dos textos, de modo adequar aos novos tempos, é aqui que se faz a demitização, para dar um novo sentido a mensagem revelada, tendo em conta a evolução do homem na história, uma vez que
« a descrição do transcendente sob roupagem humana, das coisas divinas como se se tratasse de coisas humanas» (ANTISERI; REALE, 2006: 366).
 
Numa visão neotestamentário o mundo divide-se em três planos, céu, terra e inferno. é no céu onde habita Deus e os anjos, onde zela pelo bem do homem na terra. é na terra onde todos os eventos sobrenaturais acontecem, isto é, os anjos e os demônios são representações dos homens primitivos, e por fim no inferno habita o mal e o sofrimento, quase predomina a maldade, os homens deve estar preparado para o futuro de Deus a qualquer momento, que chegará em breve e os que forem encontrados apegado às coisas deste mundo, serão despojado no inferno, onde conhecerão a verdadeira dor no juízo final, aos que for fiel e paciente ao futuro de Deus, será levado para o céu, onde passarão a viver a vida eterna, sem nenhum sofrimento para tirar a tranquilidade.
 
Na linguagem de Bultmann o homem moderno não se identifica com a mitologia do evangelho, por isso, a tarefa dos teólogos do século XX, foi de demitizar os mitos criados por homens primitivos dos séculos I.  O Mito representa a sociedade pré-científica, não apresenta argumentos que explicam os eventos que acontecem no mundo, apenas conta histórias, fábulas baseando se em imagens de seres sobrenaturais. Ora, é preciso dizer que para Bultmann o histórico de jesus não revela nenhuma mensagem para a fé cristã, porque a sua história é mítica, representa uma divindade que se encontra na terra e salvou os homens dos seus pecados, ressuscitou dos mortos, foi ao céu e futuro breve voltará para julgar o mundo, de modo a dar uma nova era.
 
Para Bultmann as disciplinas que devem nos servir de ajuda para demitizar a biblia sao:  filosofia, a hermenêutica e a história, essas disciplinas trata de forma clara, as questões do mito, pode servir de ajuda na compreensão desses conceitos obscuro na própria bíblia, a história pode ajudar na interpretação do passado, entender como era visto os mitos no passado, para depois coligar com o presente. Para Bultmann para sustentar a sua afirmação de que a teologia deve-se render a história
« nós não podemos, por assim dizer, saber mais nada na vida e da personalidade de jesus, seja por que as fontes cristas não se interessam por isso, seja porque não existem outras fontes sobre jesus»
 
Para Bultmann o existencialismo é o único instrumento que explica de forma coerente, com clareza, faz uma interpretação justa da bíblia, uma vez que goza de categorias adequados para a demitização da mensagem cristã, porque esta deve ser a missão da teologia nos nossos tempo, tornar a bíblia adequados as épocas actuais, para tal o existencialismo é um instrumento indispensável, porque não fica preso aos mitos, por entender que a mensagem bíblica varia de de geração em geração. Por exemplo, no passado atribuía boas acções aos anjos e as más ações aos demônios, isso nos leva a concluir que as sociedades primitivas tinham uma mentalidade mítico-metafísico.
 
A preocupação fundamental de Bultmann não é eliminar o texto bíblico, mas oferecer uma nova interpretação da mensagem cristã, porque para o homem moderno os factos que não foram aprovados pela ciência, carece de um método de estudo, por isso, o pensamento mítico entra em desuso.

Conclusão

Para Bultmann a bíblia já não responde os problemas actuais da humanidade, os problemas que tratam já foram ultrapassado ou ficou na história, há uma necessidade de se considerar os aspectos importantes de cada época, uma vez que a mensagem bíblica não muda não pode ser considerado, como um instrumento de guia da humanidade, os problemas que ela trata já foram ultrapassado. Ora, se se optar que os ensinamentos bíblicos  podem servir de guia para a humanidade deve-se contextualizar a bíblia, de acordo com a cada época.
 
os conceitos antigos devem ser substituído pelos novos conceitos, os mitos, demônios, céu e inferno, são conceitos que carateriza os primitivos, viviam na base dos ideais da metafísica,, enquanto para o homem moderno esses conceitos não tem sentido, significado, se não for o de colocar obstáculo, que até certo ponto pode nos colocar contra esses conceitos, acabam por duvidar da própria palavra de Deus porque esses conceitos são inadequados para os nossos tempos.
 
 
 
Referência
 
BULTMANN, Rodolf.(2003), Milagre, Tra Daniel Costa, Novo Século São Paulo,
 
-------------------------.(2003), Jesus Cristo e Mitologia, Tra Daniel Costa, Novo Século São Paulo.
 
ANTISERI, D e REALE, G. (2006). História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. Trad. Ivo Stoinio. São Paula, Paulus. Vol. 6.