CAPITULO 1
2.0. Antecedentes
2.1 Egipto Sob domínio do Império Otomano
De acordo com VESELY (2010, p.165) No século XVI, uma nova grande potência islâmica irrompeu na história do continente africano e dos países árabes, qual seja, o Império Otomano, que, formado na Ásia Menor e na península dos Bálcãs, passou a controlar uma grande parte dos países árabes da Ásia Ocidental e da África do Norte.
Foi a partir de 1516 que o Estado dos sultões mamelucos da Síria e do Egipto começou a desmoronar sob os golpes da armada otomana. As relações entre os egípcios e os otomanos estavam tensas desde 1480, porém, em 1514, após a primeira campanha vitoriosa empreitada pelo Sultão Selim I, a fim de acabar com o rápido avanço da potência persa pela sua fronteira oriental, os senhores do Egipto foram levados a tomarem uma drástica posição contra a ameaça otomana.
Selim responderia pela força. Dois anos depois, ao longo de sua segunda campanha contra a Pérsia, ele decide destruir, de uma vez por todas, a coalizão mameluco‑safávida (nome da dinastia Síria).
Em 24 de Agosto de 1516, uma batalha ocorreu na planície de Mardj Dabik –, no norte de Halab, no fim da qual a armada otomana assolou as tropas mamelucas. Fortalecido pela sua vitória, o Sultão Selim ocupou Damasco sem encontrar muita resistência e apoderou‑se de toda a Síria e da Palestina até o deserto do Sinai, fazendo da Síria um Estado‑tampão entre a fronteira oriental do Império Otomano e o Egipto. (Idem)
2.2. Organização política
Antes de abandonar o Egipto, em Setembro de 1517, Selim colocou Khāyr Bey, o antigo emir mameluco, à frente da província do Egipto, decidindo mantê-la na condição de entidade administrativa única. O tempo que durou as funções de Khyr Bey pode ser considerado como o período da transição para a autoridade otomana, sem concessão sobre o território conquistado.
Khāyr Bey teve que abandonar a gestão do conjunto do território do antigo Egipto, apesar do facto de dispor apenas de meios limitados para sustentar sua autoridade. Ele governou o Egipto mais como vassalo do Sultão do que como administrador de província, ainda que seu mandato tenha sido renovado em termos oficiais, de forma que ele ocupou essa função até sua morte, ocorrida em 1522. Também se cercou de antigos dignitários mamelucos, dispostos a servir ao novo regime, confiando‑lhes não só importantes tarefas na gestão das finanças, mas também cargos políticos e militares. (Ibd, p.168)
Ademais, as modalidades da antiga administração não foram em nada modificadas e o pessoal administrativo permaneceu, por assim dizer, idêntico.
Por volta do final do século XVI, o poder político no país cristalizou‑ se em torno de dois grupos distintos: de um lado, os depositários oficiais do poder político, nomeados pelo governo central, e seus oficiais, além dos sandjak, bey e seus mamlūk.
Ainda que não tivesse um carácter oficial, o último grupo dispunha do poder militar e económico e, a partir do fim do século XVI, passou a ter uma importância cada vez mais manifesta na vida política do Egipto.
Foi decretado um acto jurídico especial denominado, Kānūn Nāme, que visava regulamentar a vida política, militar, civil e económica do Egipto. Tal decreto introduzia, de fato, no Egipto, o sistema de administração otomana. No quadro desse sistema, ao vice‑regente denominado wālī, que sempre possuíra o cargo de paxá, foram atribuídos certos privilégios não usufruídos pelos vice‑regentes das outras províncias e que foram inspirados nas formas em uso na corte de Istambul.
O vice‑ regente recebeu como sede a cidadela do Cairo, capital dos antigos sultões. Quatro vezes por semana, convocava uma reunião do Dīwān, principal conselho executivo da província, composto por comandantes dos corpos de tropa, por representantes das Administrações das finanças e da corte, por comandantes dos portos e por outros dignitários ( Ibd, p. 171)
O Alto‑Egipto havia, desde sempre, ocupado um lugar à parte na organização política dos Estados do vale do Nilo, distinguindo‑ se do resto do Egipto por suas características políticas, seus sistemas sociais, suas particularidades étnicas e religiosas, além de sua geografia. Pelo fato de ser tão diferente, serviu muito como refúgio aos movimentos dirigidos contra o poder em vigor.
Sua importância política foi reforçada pela função económica que possuía, notadamente seu controle sobre as rotas comerciais e o tráfico do Nilo. O interesse e o respeito dos otomanos para com esse território imprescindível resultaria, concretamente, no estatuto especial que lhe foi atribuído no quadro da gestão administrativa do conjunto da província egípcia.
O administrador do Alto‑Egipto, tal como aquele do conjunto do Egipto, portava o título de wālī e ocupava o segundo lugar na hierarquia administrativa, logo depois do administrador de toda a província. O posto era ocupado exclusivamente por um dignitário da condição de sandjak, bey. Incumbia‑se do vasto dispositivo administrativo e financeiro organizado segundo o sistema em vigor no Baixo Egipto. Sua importância política, bem como sua lealdade; era igualmente acentuada pelo considerável efectivo das forças armadas colocadas à sua disposição. (Ibd, p. 177)
2.3. Organização económica
De acordo com VESELY (2010, p.168) Selim entregou a renda da província ao inteiro controlo de Khāyr Bey. Quanto às ofertas regularmente enviadas por este último a Istambul, sede do poder otomano, mais representavam presentes pagos com suas próprias fontes, como prova de sua lealdade ao Sultão, do que tributos da província destinados ao Tesouro do Estado.
Khāyr Bey empregou grandes esforços para controlar os recursos materiais da província. Para conseguir isso, mas também para reduzir o poder político dos dignitários mamelucos, ele aboliu os iktā‘ (feudos) ainda existentes e os incorporou aos bens do Estado. E, em contrapartida, aos seus antigos detentores foram atribuídos salários fixos pagos pelo tesouro provincial.
Ele revisou também o regime de doação. Estas medidas permitiram a realização de um recenseamento cadastral completo e a actualização dos registos. Além disso, permitiram a Khāyr Bey cumprir o dever que lhe incumbia: assegurar o abastecimento em trigo das duas cidades santas, Meca e Medina.
O conjunto do sistema fiscal baseava‑se no arrendamento feudal pago sob a forma de um imposto fundiário, arrecadado pelos administradores de cada região.
2.4. Organização Militar
APUD (2010, p160) As tropas eram compostas por dois corpos de infantaria, a saber, um destacamento de janízaros e outro de ‘azabān, e por dois corpos de cavalaria, aquele dos tufenkciyān e o dos gönüllüyān. Aos janízaros cabia a missão mais importante, ou seja, guardar a cidadela do Cairo, centro administrativo, sede do governo e do Tesouro da província.
Os azabān eram encarregados de vigiar as rotas que conduziam ao Cairo, e de formar as guarnições dos fortins construídos nas zonas agrícolas, a fim de assegurar a protecção contra os ataques dos nômades. (Idem)
2.5. O Desenvolvimento Cultural
APUD (2010, p. 187) O fim da soberania do sultanato Mameluco e a transformação do Egipto em província (wilāya) do Império Otomano tiveram importantes repercussões na actividade cultural egípcia, que, muito distintamente, em seu desenvolvimento, reflectiu a nova ordem das relações sociais, económicas e nacionais. A educação também foi influenciada, da mesma forma que a língua árabe, na condição de veículo de expressão cultural.
A incorporação do Egipto e de outros países árabes no Império Otomano, em que a utilização do Turco‑otomano predominava na vida pública e cultural, foi uma nova e tangível etapa do declínio da importância da língua árabe, como mediadora da cultura arábico-islâmica. Era através da grande literatura neo‑persa e da literatura em línguas turcas, florescentes nessa época, que se exprimia a cultura espiritual islâmica.
Como em todas as outras províncias árabes do Império Otomano, a cultura do Egipto caiu sob a férula política, social e cultural do poderoso ocupante turco-otomano e, pouco a pouco, encontrou‑se integrada à nova versão turco‑otomana da civilização islâmica.
Os textos em língua árabe eram escritos e destinados a leitores pertencentes às camadas médias da população das cidades, notadamente, os ‘ulamā’ das categorias subalternas, à elite dos clérigos, aos comerciantes e artesãos, todos de língua materna árabe. Dessa orientação nasceu o carácter popular óbvio dessa literatura, manifesto tanto nos seus géneros quanto em sua linguagem.
Foi na poesia que esta tendência se afirmou de forma mais aparente. Atrelado à expansão das ordens dervixes, a poesia mística sūfī (sufi) conquistou um largo público e alcançou uma grande popularidade, notadamente, através das obras, marcadas pela influência de Ibn al‑Fārid, que cantava os louvores do profeta Muhammad. (Ibd, p. 190)
A estrutura social das ordens e sua sólida organização conferia aos seus chefes certo poder político que lhes permitia uma influência sobre a vida pública. Além dessa importância política, as ordens tinham também um papel cultural. Elas contribuíam com a educação de uma multidão, fazendo com que seus membros tivessem acesso à cultura espiritual através da
Literatura, especialmente, por meio da poesia. (Ibd, p. 192)
CAPITULO II
3.0. As Reformas de Muhammad Ali .
De acordo ABDEL‑MALEK (2010, P. 2) Atribui-se a transformação do Egipto ao choque causado pela chegada de Bonaparte, em vez de considerar o complexo conjunto de factores internos que haviam originado, já no século XVIII, um movimento nacional em torno do albanês Muhammad ‘Ali. Ao se apoiar no renascimento egípcio, Muhammad ‘Ali, impedira o poder otomano de assentar de novo seu domínio directo sobre o Egipto.
De acordo com ABDEL‑MALEK(2010, p.379) A legião copta do general Ya’kūb (1800‑1801) e a proclamação pelos seus partidários, os Irmãos Independentes, da própria noção de um “Egipto independente” se apoiaram na França, perante à supremacia britânica e, consequentemente, desmoronaram com a partida da expedição francesa.
Outro seria o projecto e o curso político de Muhammad ‘Alī. Tratava se essencialmente de dotar o Egipto com instituições militares, políticas, económicas e culturais que fariam dele o centro motor da reconstituição do Império islâmico, em vez e no lugar da Turquia senescente. De início, o projecto compreendeu os dois círculos da identidade egípcia: egípcia e islâmica. Durante as campanhas de Muhammad ‘Alī e de Ibrāhīm, tornar‑se‑ia mais preciso: o Egipto apareceria como islâmico, árabe e africano.
Todavia, o homem que soube tomar o poder, levado pelos ‘ulamā’, a multidão e seus fiéis albaneses, mediu a importância do terreno por ele dominado, ainda que de forma pouco estabelecida. A Inglaterra apoiava o partido mameluco, sob a liderança de Muhammad al‑Alfī Bey e, a partir de 1806, incentivou a Porta a demitir Muhammad ‘Alī. Em 1807, a Inglaterra tentou a invasão directa do Egipto; a vitória egípcia de Rāshid (Roseta), em 31 de Março, repeliu o ataque.
Muhammad `Alī, que se apoiava então, muitas vezes, nos notáveis, principalmente em ‘Umar Makram, decidiu destruir pela força o poder dos mamelucos no Alto Egipto, ainda mais por serem aliados dos ingleses: de Junho de 1808 a Agosto de 1810, ele subjugou o Alto Egipto. Em 1° de Março de 1811, o massacre da Cidadela acabou por eliminar os líderes das tropas rebeldes que eram um obstáculo à unidade do poder, como também aos planos do novo Vice‑Rei. (Ibd, p. 381)
Em 28 de Novembro de 1810, Muhammad `Alī teve um encontro secreto com o cônsul da França, Drovetti, e solicitou-o lhe ajudar o Egipto a se separar do Império Otomano. Simultaneamente, em 25 de Novembro, ele pediu a Istambul o reconhecimento do Egipto, simples província (wilāya‑eyālet), na condição de odjak, gozando da mesma liberdade que Argel à época. Lançou então seu exército na Arábia (1813‑ 1819), depois no Sudão (1820‑1823), tendo como objectivo mais amplo a ocupação da Abissínia.
A Inglaterra, que ele bajulou e tentou trazer para a sua causa, se voltou contra ele, já que penetrou em três áreas de influência – o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico e a Abissínia – indispensáveis para assegurar a rota das Índias.
3.1.Reformas Socioeconómicas
De acordo com ABDEL‑MALEK (2010.p389) Muhammad `Alī criou uma economia nacional em vez de uma simples economia local, como era o caso na maioria dos países orientais desta época.
Único entre os dirigentes dos Estados do Oriente islâmico da época, Muhammad ‘Alī considerava a economia como o fundamento da política – a razão pela qual este sutil oficial albanês alçou o posto de estadista. O Estado que ele tentava edificar, na ocorrência, estava concebido no início, em 1805, como uma formação étnica centrada em torno de um exército poderoso e eficaz, apoiando‑ se ele próprio em uma economia moderna e autárquica.
De 1818 a 1830, ele criou as grandes unidades industriais: as fábricas de armas e de canhões da Cidadela, que atingiu seu apogeu em 1828 sob Adham Bey; a fábrica de canhões do Arsenal; a fábrica de fuzis de al‑Hūd al‑Marsūd (1821), as cinco fábricas de pólvora produzindo 15.874 kantār (1 kantār = 45 quilos) em 1833; o arsenal marítimo de Alexandria, criado por Lefébure de Cerisy em 1829, o qual substituiu um mestre artesão genial, Hadjdj ‘Umar; depois a doca seca construída por Mougel, em 1844. De toda esta infra-estrutura, o marechal Marmon e Clot Bay seriam os observadores admiradores e surpresos.
No plano da indústria “civil’’, trinta fábricas de fiação e tecelagem de algodão foram criadas, tanto no Baixo Egipto como no Alto Egipto; as fábricas do Cairo forneciam às provinciais as máquinas, as ferramentas, as peças sobressalentes, os materiais de construção e os técnicos para a manutenção das instalações.
A produção era suficiente para as necessidades do país e permitia, ao mesmo tempo, substituir as importações por produções locais e obter lucros da ordem de 100% para o Tesouro Público. Três fábricas de tecelagem de lã foram fundadas em Būlāk, Damanhūr e Fuwwa, assim como uma grande fábrica de seda em Khurunfish (1816) e numerosas fábricas de linho através do país; três refinarias de açúcar; dezassete fábricas de índigo; duas grandes fábricas de vidro; o curtume de Rosette (1827) e a fábrica de papel do Cairo (1834); seis fábricas de salitre instaladas por um francês, Haïm. O ponto fraco já era o que frearia a industrialização um século mais tarde: falta de minerais essenciais, o ferro e o carvão, e a dificuldade de obter uma força motriz suficiente.
A própria agricultura ocupou, muito naturalmente, o primeiro lugar nas reformas económicas. No final do século XVIII, todas as terras, exceto as wakf, se encontravam repartidas entre os multazim, cuja tarefa principal era “coletar e enviar a receita devida por sua vila ou suas vilas ao Tesouro, central ou provincial.
A. E. Crouchley, baseando‑ se no relatório Beardsley, estima em 51.394.000 libras egípcias o montante das despesas assumidas por Ismā‘īl para as grandes obras: 112 canais estendendo‑se sobre 13.500 quilómetros – isto é, um trabalho de escavação que, comparado ao empreendido para o canal, é na proporção de 165 por 100; vários milhares de quilómetros de canais drenados; 430 pontes construídas; a transformação de Alexandria no melhor porto do Mediterrâneo; 15 faróis sobre os dois mares; 1.880 quilómetros de ferrovia; 5.200 quilômetros de linhas telegráficas, mais 2.000 quilómetros no Sudão; 64 refinarias de açúcar.
Ele restabeleceu o serviço dos correios, após um período de caos sob Sa‘īd; em 1874, o Egipto assinou os acordos do I Congresso internacional dos Correios em Berna. A introdução de esgotos, a melhoria das ruas do Cairo e de Alexandria, o fornecimento de água potável e de iluminação em vários bairros, a modernização do Cairo no modelo de Paris – obras públicas estas que vieram a completar as grande obras de infra-estrutura.
Os especialistas concordam em louvar a política de modernização agrícola do Vice‑Rei: “além de tudo, ele forneceu o capital indispensável para transformar a economia agrícola egípcia, de uma economia de subsistência para uma economia de lavouras comerciais e o fez sem sacrificar a produção de cereais sobre a qual a economia agrícola egípcia baseara‑ se desde sempre.
O primeiro grupo social rural a se constituir como classe foi aquele dos grandes proprietários rurais. Em um primeiro momento – de 23 de Março de 1840 a 24 de Dezembro de 1866 –, o regime dos ‘uhda, terras isentas de impostos dadas de início em usufruto e que se tornaram progressivamente propriedades de fato, se estendeu logo à família de Muhammad ‘Alī e aos dignitários; o total era estimado em 1.200.000 faddān, dos quais 300.000 foram detidos pela família do Vice‑Rei.
As cidades eram o centro do processo de modernização económica, social, política e cultural. A classe dirigente autóctone – aquela dos grandes latifundiários –, oriunda do desenvolvimento do sector capitalista a partir da instauração da propriedade privada da terra, actuava, de um lado, nas cidades e nas áreas rurais; do outro lado, no país e no estrangeiro que monopolizava o comércio exterior e, mais particularmente, as compras de algodão.
Esta simbiose no topo, por assim dizer, criou elos orgânicos profundos entre o interior do país e as cidades. A circulação de alguns grupos se fez no sentido da área rural para o centro urbano.
De acordo com GENTIL (1999,p.85) Falhada a iniciativa para conquistar o Dar Fur, os egípcios viraram-se para o tráfico de escravos que, tradicionalmente, desenvolviam a maior parte do trabalho agrícola no vale do Nilo, quer estabelecendo pesados impostos quer organizando raízes na região e na fronteira meridional. Instaurou-se em todo o território um autêntico regime colonial: as populações indígenas foram tratadas segundo a sua utilidade para os colonizadores, de tal forma que umas foram privilegiadas, outras destruídas.
3.2.Reformas Culturais
De acordo com ABDEL‑MALEK (2010, p.399) A evolução cultural – das premissas, obviamente pouco exitosas, da aculturação à elaboração de uma verdadeira filosofia da cultura nacional – ocupa um lugar à parte. Uma vez mais, como demonstra toda a história do Egipto em seus sete milénios, foi o Estado que formulou o projecto, formou os quadros e impulsionou a acção.
Uma nova era começava, aquela da reconquista da identidade, objectivo das civilizações da fase “nacionalitária”. Ela se faria em um quadro nacional, com a ajuda do pensamento radical e da crítica dupla do património nacional e das contribuições estrangeiras, de modo que “a pátria seja o local de nossa felicidade comum, que construiremos pela liberdade, pelo pensamento e pela fábrica”. Sua obra mestre, Manāhedj al‑albābal‑Missriyyafī mabāhedj al‑ādābal‑‘asriyya (As vozes dos corações egípcios rumo às alegrias dos costumes contemporâneos), marcou, em 1869, a junção entre o pensamento nacional e a abertura para o socialismo:
O trabalho é, então, o pivô da abundância; é através dele que o homem toma posse da utilização dos animais e de sua indústria espontânea, que ele produz a fim de que os membros de sua pátria usufruam.
Todas as virtudes que o crente deve demonstrar em relação ao seu irmão na fé são igualmente obrigatórias para todos os membros da pátria, em seus direitos recíprocos de uns para os outros, em razão da fraternidade patriótica que os uni sem falar da fraternidade religiosa. Todos aqueles reunidos por uma mesma pátria tem a obrigação moral de cooperar para melhorar a condição de sua pátria e a ordem nos campos da honra da pátria, de sua grandeza, de sua riqueza e sua prosperidade.
A rede de escolas especiais superiores – única no mundo não ocidental à época – que caracterizava o reinado de Muhammad ‘Alī se duplicaria com a instituição de um verdadeiro sistema de ensino nacional, sob Ismā‘īl, graças particularmente a ‘Alī Mubārak, após um interlúdio que permitiria às missões religiosas europeias e americanas se implantarem, no momento da penetração imperialista, apesar de uma oposição tenaz da Igreja cópta.
O conjunto destas iniciativas e desta reflexão dotaria o Egipto, em meio século, de uma só vez de um sistema de ensino moderno e nacional, dos principais elementos de uma universidade de qualidade real, de uma rede diversificada de instituições científicas e de um programa pedagógico baseado nos valores humanistas, científicos e racionalistas modernos. Foi neste último campo que se encontraram, naturalmente, as dificuldades mais sérias, tanto é verdade que é mais fácil modificar as instituições do que remodelar as mentalidades.
A imitação do Ocidente era vista, com alegria, como uma operação de superfície – um espelho do ser possível, já que não podia se tratar de um possível actualizável: a vestimenta; o urbanismo; a música sob a forma de ópera, mas também de composições militares; o teatro, sobretudo; esboços de romance. Obviamente que os salões não poderiam mascarar o essencial, isto é o ressurgimento do Estado nacional.
Eles não conseguiriam mais atenuar, nem que fosse por um momento, a voz do país profundo. Esta, tal como a expressam os ditados, os provérbios e os costumes, era impregnada por um sentimento de usurpação – não no imediato, mas através e no final de uma história milenar; porém, uma usurpação impensável, tão profundo era o enraizamento de cada um na gleba imemorial. A sensibilidade popular viria à tona através de moldes e de fórmulas expressando a necessidade de mediações viáveis.
Conclusão
Findo o trabalho conclui-se que o antes das reformas de Muhamad Ali, o império Egípcio foi assolado pela invasão do império Otomano que já vinham tendo relações tensas desde 1480, e instalado no Egipto trouxe consigo algumas transformações, mas algumas modalidades de administração no que diz respeito a politica manterem e no que diz respeito a cultura, como em todas as outras províncias árabes do Império Otomano, a cultura do Egipto caiu sob a férula política, social e cultural do poderoso ocupante turco‑otomano e, pouco a pouco, encontrou‑se integrada à nova versão turco‑otomana da civilização islâmica. O império Egípcio era muito apreciado devido o terras férteis do Nilo e por causa da sua posição no Mar Vermelho.
As reformas de Mohamad Ali, significarem o renascimento do Egipto ou a modernização do Egipto. Mohammad Ali implementou varias reformas no reformas no Egipto, no caso economia o mesmo introduziu a indústria Bélica, na indústria construi trinta fabricas de tecelagem e de algodão, criou reformas também na área agrícola que era umas das principais actividades realizadas.
E no que diz respeito a cultura, exaltavam muito a identidade nacional, e fizeram uma autêntica imitação do Ocidente no que diz respeito a vestimenta; o urbanismo; a música sob a forma de ópera, mas também de composições militares; o teatro, sobretudo; esboços de romance.
Bibliografia
ABDEL‑MALEK, Anouar. O renascimento do Egipto (1805-1881) In: AJAYI, J. A. ADE. História de África-VI: Africa do século XIX até 1880. Brasil: UNESCO. 2010. pp. 377-410.
GENTIL, Ana Maria. O leão e o Caçador: Uma História da África Subsaariana. Maputo, 1999, 426p.
VESELY, R. O Egipto sob o domínio do Império Otomano In: OGOT, B. A. Historia de África V: África do século XVI ao XVIII. Brasil: UNESCO. 2010. PP. 165-204.ARI GERAL
DA ÁFRICA • V